Acordo assinado com o governo federal sinaliza uma política social e ambiental para regiões da Amazônia
Com o intuito de irrigar a agricultura familiar de regiões da Amazônia, o Museu da Amazônia (MUSA) e governo federal assinaram ontem, dia 15 de outubro, um convênio que prevê a liberação de R$ 1,25 milhão para beneficiar pequenos produtores rurais de uma rede de associações e assentamentos na zona rural de Manaus.
A proposta foi assinada pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Diogo de SantAna e pelo diretor geral do Museu da Amazônia (Musa), Ennio Candotti, que é vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) – nas dependências do Musa, situado às margens da Reserva Adolpho Ducke, em Manaus. Participaram também da assinatura do acordo o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano Minchillo e representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente.
A medida faz parte dos projetos selecionados para o primeiro edital do Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica (Ecoforte), criado este ano pelo governo federal, e que dispõe de valores não reembolsáveis da ordem de R$ 25 milhões, destinados a várias regiões do país.
A iniciativa, cujos recursos são disponibilizados pela Fundação Banco do Brasil, apoia projetos voltados ao manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade e de base agroecológica. Nesta primeira fase foram selecionados 18 projetos nacionais e três em cada região, perfazendo um total de 33 propostas com objetivo de promover a agroecologia,o extrativismo e a produção orgânica, conforme informações oficiais.
Para região Norte foram selecionadas três propostas, dentre as quais a proposta do Museu da Amazônia. A previsão é que sejam beneficiadas 2,6 mil pessoas direta e indiretamente, ligadas principalmente às áreas de agroecologia e agroextrativismo.
Para o diretor do Musa, EnnioCandotti, o novo apoio financeiro permitirá ampliar as atividades do Centro de Agroecologia e Estudos da Floresta que vem colaborando, há mais de três anos, com agricultores do Assentamento Água Branca, nas proximidades de Manaus.
A proposta é aumentar a produção e comercialização orgânica e agroextrativista, na tentativa de elevar a renda familiar e a oferta de produtos orgânicos no mercado.
Conforme Candotti, esse projeto do Musa prevê a colaboração com outras entidades de agroecologia que formam a Rede Maniva de Agroecologia do Amazonas, coordenado pelo Musa; e com instituições com sede em centros próximos a Manaus.
Política social e ambiental
Na avaliação de Candotti, tal iniciativa expressa diretrizes de uma política social e ambiental de governo para regiões da Amazônia, que se apoia na valorização dos pequenos agricultores ribeirinhos e comunidades que vivem na floresta e a conhecem “por dentro”.
“Sabem entrar, caminhar e sair dela, plantar e colher, extrair, pescar e conservar alimentos. Uma agricultura que não precisa devastar a floresta para cultivar plantas alimentícias”, disse Candotti, para acrescentar: “há muitas (plantas alimentícias), de elevado teor nutritivos e saborosíssimas, pouco estudadas e exploradas na Amazônia: ariá, cubiu, cariru, ora pro nobis orelha de macaco ou espinafre amazônico, taioba, etc, além da pupunha, cupuassu e frutas saborosas, discorre Candotti. Ele faz questão de lembrar que o professor Kerr (Warwick Estevam Kerr), diretor do INPA no final da década de 1970, já divulgava essas plantas e promovia seu plantio.
O diretor do Musa reconhece o papel desses agricultores na orientação das pesquisas que acontecem na região. “Se eles, ribeirinhos e pequenos agricultores, moradores da floresta e das margens dos rios não existissem precisaríamos inventá-los para monitorar as águas, estudar o clima, coletar e pesquisar os produtos naturais, decifrar, pesquisar os segredos das florestas periodicamente inundadas. Sem eles o pesquisador se perderia, mesmo com GPS.”
Fomento do BNDES
Os recursos concedidos à região pela Fundação Banco do Brasil serão geridos pelo Museu da Amazônia. Candotti declarou que metade dos recursos disponibilizados para região, pelo Ecoforte, tem origem no BNDES.
Nos últimos três anos, o Musa vem recebendo apoio financeiro do Fundo Amazônia do BNDES, valores que acumulam R$ 8,5 milhões. O Museu da Amazônia é financiado também pelo Governo do Estado, via a Universidade do Estado do Amazonas, responsável por desembolsos da ordem de R$ 6 milhões nos últimos cinco anos.
Para o coordenador do projeto no Musa, Eric Brosler, os recursos serão aplicados no aperfeiçoamento e na implementação de novos processos agroecológicos e estruturas nas Unidades de Referência Agroecológica (URs), em municípios de Manaus. Traduzindo, URs são áreas localizadas nas propriedades dos agricultores nas quais são trabalhados processos e práticas para construir sistemas agrícolas mais integrados. Nesses sistemas produtivos encontram-se também galinhas “orgânicas”, caprinos e bovinos. Além disso, existem viveiros florestais e equipamentos para coletas de sementes e de armazenamento.
(Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência – Foto: Vanessa Gama/Musa)