O evento aconteceu nesta segunda-feira (15/12) na Sala do Conselho Universitário da USP
Os professores honorários do Instituto de Estudos Avançados (IEA), o biofísico/fisiologista Gerhard Malnic, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), e o físico Alberto Luiz da Rocha Barros, do Instituto de Física, morto em 1999, foram homenageados nesta segunda-feira (15/12) em encontro realizado na Sala do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP). O evento contou com a presença de representantes da comunidade científica, entre eles, a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena B. Nader, a secretária-geral da SBPC, Regina P. Markus, o vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Hernan Chaimovich, entre outros.
O título de professor honorário é concedido pelo Conselho Deliberativo do IEA a professores aposentados da USP com expressiva contribuição ao IEA, à USP e à ciência brasileira. Rocha Barros e Malnic tiveram atuação decisiva nos esforços para a criação do Instituto nos anos 1980 e participaram de inúmeras atividades nele desenvolvidas, sendo que Malnic também foi diretor e vice-diretor.
O diretor do IEA, professor Martin Gossmann, deu a boas vindas a todos e cumprimentou aos homenageados e suas famílias. O Prof. Alfredo Bosi, ex-diretor do IEA falou em nome dos professores honorários ressaltando a contribuição de cada um.
O fisiologista Rui Curi, professor do ICB, falou sobre as contribuições de Malnic para a ciência brasileira e para o ensino e a pesquisa na USP. Pioneiro na área de fisiologia renal, foi destado que suas contribuições tornaram-se marcos internacionais importantes. “Nos últimos 55 anos ele vem gerando conhecimentos, quebrando paradigmas e produzindo novas informações na área de fisiologia renal”, disse.
Rocha Barros teve sua trajetória na pesquisa, no ensino e na militância política e acadêmica apresentada pelo historiador Carlos Guilherme Mota, primeiro diretor do IEA e amigo do físico durante décadas. “Rocha Barros teve um papel importante na criação do Instituto. Na época havia dois grupos, um formal e outro não, e ele era o articulador entre os grupos e a Reitoria. Nós aprendemos a jogar vôlei, um levantava e o outro cortava”, cita ao aludir ao trabalho em equipe. E completa, “Rocha Barros era um profissional de muito espírito, além de multidisciplinar, sem bater tambores para dizer isso. Ele sempre defendeu o Instituto com vigor. Rocha Barros deu vida e a alma para o IEA”.
Ainda entre os convidados estavam presentes os familiares daqueles já mortos e os professores atualmente vinculados ao Instituto, sejam eles pesquisadores ou integrantes do Conselho Deliberativo, bem como os professores que em algum momento desenvolveram pesquisas ou foram conselheiros ou dirigentes do IEA.
Neste evento, todos os professores honorários do IEA (veja lista abaixo) receberam uma placa comemorativa. Os já falecidos, como, por exemplo, o professor Aziz AbSaber, foram representados por familiares.
Após anos de dedicação ao IEA, a assistente acadêmica Marilda Gifalli também foi homenageada e recebeu uma placa comemorativa. “Gostaria de agradecer a todos, inclusive aos professores. Sairei do IEA, mas não o deixarei. Continuarei contribuindo. Me sinto honrada por receber esta placa sendo eu uma simples funcionária”, disse ela.
Professores honorários
Alfredo Bosi, ex-diretor do IEA e editor da revista “Estudos Avançados”, em seu discurso relembrou alguns dos professores honorários do IEA. “Todos deixaram sua marca na Instituição, inclusive o que já partiram e deixaram saudades. Esta homenagem é uma menção duplamente honrosa uma vez que esses mestres já receberam o título de professores honorários lembrando da sua convicção de permanência para a universidade e da ciência”, disse.
Ao falar do médico Alberto Carvalho da Silva, que recebeu o título em 21/06/2013, Bosi lembrou o quanto aprendeu com ele. “Quando comecei a frequentar o IEA tive a oportunidade de trabalhar com Carvalho da Silva. Pude contar com o seu bom senso durante a criação do código de ética da USP, redigido ao longo do ano 2000. O que mais me marcou durante a convivência com a sua pessoa foi o seu sentido de tempo, já que ele o administrava com sabedoria”, lembrou.
Ao citar o geógrafo Aziz AbSáber, Bosi lembrou do mestre apaixonado e que não ocultava suas alegrias nem suas mágoas. “Mestre dos mestres da geografia do Brasil, ele foi o responsável por um dos projetos científicos e ecológicos mais notáveis dessa universidade: o Projeto Floram, desenvolvido em 1990 com uma proposta brasileira pioneira de um projeto de florestamento com foco principal no sequestro de carbono. O maior sonho do professor Aziz era colocar o conhecimento em prática”, disse ao lembrar o lema do cientista que é presidente de honra da SBPC.
“Falar da militância ambiental com a mais avançada pesquisa científica é lembrar de Paulo Nogueira-Neto (professor honorário desde 21/06/1994)”, disse Bosi. “Ele é um ícone símbolo da ecologia no Brasil e no cenário internacional onde atuou com destaque”, disse ao citar que Nogueira-Neto participou da Comissão das Nações Unidas, entre os anos de 1983 a 1986, como representante da América Latina.
Bosi também citou o trabalho realizado pelo químico Paschoal Senise, que faleceu em 2011, cujo título de professor honorário foi recebido em 13/08/1997. “Talvez nenhum outro professor desta universidade tenha desempenhado tão bem o papel de aposentado ativo”, disse.
Ao se referir ao biólogo e geneticista Crodowaldo Pavan, morto em 2009 e presidente de honra da SBPC, Bosi disse ter uma lembrança viva de seus debates. “Ele se apaixonava por problemas variados. Mas tinha um assunto que era prioritário: o ensino nas nossas graduações. Pavan acreditava nas virtudes de uma educação científica sólida, coerente, continuada e constante”, disse. E completa, “ele falava que sem educação não havia salvação.”
“Se considerarmos não só a excelência científica, mas também o seu envolvimento com a instituição, para que ela cumpra de fato a o seu papel criativo, reconheceremos imediatamente as figuras dos professores José Goldemberg (presidente de honra da SBPC), Carlos Guilherme Mota, Sérgio Marcarenhas e Yvonne Marcarenhas”, disse o ex-diretor do IEA. “Os quatro integram a história do IEA. Eles têm alguns pontos comuns nos quais resolveram trilhar e abrilhantar. Os quatro coincidiram conjugar, admiravelmente, a sua capacidade intelectual, uma energia necessária, aliada à paixão na difusão do conhecimento”, disse.
Ao citar o físico-químico Sérgio Mascarenhas, que também é presidente de honra da SBPC, Bosi disse que Mascarenhas é de uma excelente cultura, autor de sonetos, amante das figuras do renascimento, conhecedor de Rafael, Leonardo Da Vinci, envolvido em restaurações de obras e ao mesmo tempo um apaixonado pelas tecnologias mais avançadas e aplicada à economia brasileira, no caso da agricultura e pecuária.
“Nessa breve locução, falando uma hora de um, outra hora de outro, quis assinalar que presentes e ausentes todos (professores honorários) estão vivos na memória do Instituto”, finalizou.
Segue a lista dos professores honorários:
Alberto Carvalho da Silva (1916-2002) – desde 21/6/1994
Alberto Luiz da Rocha Barros (1930-1999) – desde 30/9/2013
Alfredo Bosi – desde 22/11/2006
Antonio Candido – desde 13/8/1997
Aziz Ab’Sáber (1924-2012) – desde 21/6/1994
Carlos Guilherme Mota – desde 21/6/1994
Crodowaldo Pavan (1919-2009) – desde 13/8/1997
Eduardo Moacyr Krieger – desde 30/10/2007 (Foi presidente da ABC entre 1993 e 2007)
Gerhard Malnic – desde 30/9/2013
José Goldemberg – desde 21/6/1994
Paschoal Senise (1917-2011) – 13/8/1997
Paulo Nogueira-Neto – desde 21/6/1994
Sérgio Mascarenhas – desde 30/2/2002
Yvonne Mascarenhas – desde 30/10/2007
(Vivian Costa/Jornal da Ciência)