Mesa-redonda discutirá questões éticas, jurídicas e culturais no primeiro dia de conferências
A integridade da Ciência brasileira será discutida na mesa-redonda “O Plágio na comunidade científica: questões éticas, jurídicas e culturais”, no primeiro dia de conferências da 67ª. Reunião da Anual da SBPC, no dia 13 de julho, às 15h30, na UFSCar, em São Carlos. A sessão reverbera os debates de outro evento recente, a 4th World Conference on Research Integrity, 4WCRI (Conferência Mundial sobre Integridade na Pesquisa – http://www.wcri2015.org/), que o Brasil sediou no final de maio. No balanço deste evento, a participação da delegação brasileira, com mais de 200 participantes, entre pesquisadores, pró-reitores, coordenadores de pós-graduação e pós-graduandos, impactou a percepção internacional sobre o interesse da comunidade acadêmica nacional nessa temática.
Uma das organizadoras da 4WCRI, a pesquisadora Sonia Vasconcelos, professora do Programa de Educação, Gestão e Difusão em Biociências, Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo Meis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que, no caso do Brasil, o crescente número de seminários, oficinas, cursos, disciplinas e eventos acadêmicos com foco na integridade em pesquisa por várias universidades nos últimos anos vem contribuindo para a evolução do tema.
“Podemos mencionar como exemplos algumas dessas atividades na UFRJ, PUCRS, CBPF, USP, UNICAMP, UFMG, UNIFESP, UnB, UFG, dentre outras. Embora tenhamos ainda poucas disciplinas específicas e em apenas algumas poucas universidades/institutos, o que percebo é que há muitos pesquisadores, nas mais diversas áreas, interessados em contribuir de alguma forma sobre o tema em suas instituições”, comenta.
Vasconcelos voltará a debater o tema na sessão de segunda-feira da 67ª R.A. da SBPC. Ao lado dela estarão José Roberto Goldim, professor da PUCRS e UFRGS, e Ricardo Bacelar, vice-presidente da OAB-CE.
Engajamento
Segundo o professor José Roberto Lapa, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da UFRJ, “diferentemente dos Estados Unidos, em que há uma preocupação grande com o cumprimento das normas no campo de ações educacionais na área, o Brasil parece percorrer um caminho um pouco diferente. Ainda não há exigências claras na pós-graduação, mas há uma atenção crescente sobre o tema e seus desdobramentos para as atividades de pesquisadores e alunos. Isso parece estar motivando algumas ações”, argumenta. Segundo Lapa, o que de concreto acontecerá nos próximos anos dependerá em boa parte do engajamento das instituições nacionais.
O professor titular da UFMG, Paulo Beirão, também membro da organização da 4WCRI, é diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (UFMG) e foi presidente da Comissão de Integridade em Pesquisa do CNPq até 2013, diz que o plágio deve ser amplamente combatido em sala de aula. Na era da internet, aponta ele, onde a prática do plágio é facilitada, os professores têm um papel fundamental para coibir má prática na condução da pesquisa científica.
“O aluno tem que se conscientizar de que plágio é um crime. E os professores têm uma responsabilidade grande em sala de aula e nos laboratórios para evitar essa prática. Em qualquer linha de pesquisa, não há como fugir de erros. Eles fazem parte do processo de investigação científica, pois podem acontecer por desconhecimento (muitas vezes até levam a grandes descobertas da Ciência) ou por imaturidade do pesquisador, que se descuida da precisão, mas a má conduta consciente é imperdoável e tem que ser banida”, afirma o pesquisador.
Na visão de Beirão, uma das formas de se combater o plágio é valorizar a qualidade das publicações bem desenvolvidas. “Temos que evoluir no sentido de desenvolver mecanismos para enaltecer a contribuição de pessoas que trabalham para o avanço do conhecimento”, completa.
Amadurecimento
Para o pesquisador Michael Kalichman, diretor do Centro de Ética em Ciência e Tecnologia, da Universidade de San Diego, Califórnia (EUA), a 4WCRI criou uma expectativa sobre a ampliação de ações em curso no Brasil para estimular a integridade científica em suas instituições bem como de pesquisas na área.
Para o pesquisador Miguel Roig, professor titular da St. John´s University (Nova York, EUA) e um dos maiores estudiosos sobre o plágio na educação e na ciência, a conferência demonstrou um amadurecimento acerca da condução do tema.
“Participo de várias conferências de integridade científica há mais de 15 anos, e fico satisfeito de ver o quanto tem se expandido, em âmbito internacional, os esforços para aumentar a confiabilidade da produção científica. Por outro lado, estou um pouco assustado ao verificar que formas de má conduta em pesquisa cresceram nos últimos anos (por exemplo, falsificação de avaliações pelos pares, a ascensão de editoras predatórias e seus impactos negativos sobre os cientistas mais jovens). Para mim, talvez a mensagem mais positiva da conferência foi o seu tema: uma chamada para um foco mais preciso sobre os fatores que promovem a integridade em pesquisa sobre aqueles que causam a má conduta. É evidente que o campo da integridade científica já amadureceu”, afirma Roig.
(Suzana Liskauskas/SBPC)