Solenidade realizada neste domingo, em São Carlos, reuniu mais de 1200 pessoas e teve participação dos ministros do MCTI e do MEC
Cerca de 1200 pessoas prestigiaram a abertura oficial da 67a edição da Reunião Anual da SBPC, neste domingo, dia 12 de julho, no Espaço Bazuah, em São Carlos (SP). A cerimônia teve a participação do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro e do secretário da Educação do estado de São Paulo, Herman Jacobus Voorwald, entre outras autoridades. Com apresentações culturais e homenagens a personalidades que contribuiram para o desenvolvimento da ciência brasileira, o evento ressaltou a importância da interiorização da cultura científica no País, além de abrir espaço para manifestos contra cortes de verbas em todo o setor da educação. Com o tema “Luz, Ciência e Ação”, a reunião, que é o maior festival de ciência e tecnologia da América Latina, acontece durtante toda essa semana, de 3 a 18 julho, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Abrindo a noite, a secretária-geral da SBPC e coordenadora geral da reunião, Regina Pekelman Markus, destacou a importância do evento de promover as novidades e aguçar a curiosidade das pessoas. “As reuniões anuais da SBPC são sempre inovadoras”, comentou. Como destacou Markus, a SBPC, fundada em julho de 1948, chega aos 67 anos consolidada como uma defensora e difusora da ciência brasileira.
“Se por um lado abriga todas as formas de apropriação da ciência pelo grande público, a SBPC não perde o foco na relevância da ciência básica – na busca do conhecimento – do novo. Batalhar por instituições legítimas e por liberdade foi um dos marcos da nossa Sociedade. Mostrar a importância do novo e aguçar a curiosidade é a sua razão de ser”, disse.
Em seu discurso, a presidente da SBPC, Helena Nader, que acaba de ser reeleita, ressaltou as conquistas da ciência brasileira no último ano. Ela destacou a emenda constitucional 85, que altera e adiciona dispositivos na Constituição Federal para atualizar o tratamento das atividades da Ciência, Tecnologia e Inovação, cuja participação da SBPC foi chave: “A SBPC, em nome da comunidade científica, esteve presente em todos os momentos de discussão e encaminhamento da PEC. Um fato a ser destacado foi a nossa luta e persistência para que fosse mantida no texto constitucional o termo “pesquisa básica”, observou.
Para o vice-reitor da UFSCar e coordenador da Comissão Executiva Local, Adilson de Oliveira, a celebração representa o ápice de um árduo e prazeiroso ano de preparativos. “É privilegiada a UFSCar por ser o palco desse encontro tão rico e tão bonito que está prestes a começar”, disse.
O vice-reitor falou também sobre a escolha do tema da reunião, a luz, que, conforme destacou, é o ponto de partida para a compreensão do mundo: “Ao associarmos a luz, à ciência e à ação, marcamos a possibilidade, especialmente cara à UFSCar, de, pela produção e disseminação do conhecimento, transformarmos profundamente o mundo e as sociedades”.
30 anos do MCTI
Aldo Rebelo, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, lembrou que nesse ano o MCTI celebra os 30 anos de sua criação durante a 67ª. Reunião Anual da SBPC. “O Ministério nasceu com a vocação de liderar o esforço nacional de promoção da ciência e da tecnologia e, mais recentemente, também da inovação. Passou por altos e baixos nesses últimos anos, conheceu uma evolução significativa, mas também a perda de recursos e orçamentos”, disse.
Rebelo falou que o MCTI começa a retomar alguns compromissos, que já foram firmados, inclusive, pela presidente Dilma Rousseff. “A presidente me assegurou que dará prioridade à ciência e à pesquisa na regulamentação dos 50% restantes do fundo social do Pré-Sal”. Os 50% regulamentados haviam ficado apenas para educação e saúde, e a ciência ficou de fora do fundo.
Ele falou também sobre a recomposição dos Fundos Setoriais, do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia, que perderam os recursos do petróleo e não receberam os recursos do Pré-Sal. “Faremos a retirada de duas despesas, que são necessárias, mas que não são diretamente relacionadas com a finalidade do fundo”. Uma delas são as bolsas de graduação, pagas pelo CNPq, que saem do orçamento do Ministério e são repassadas ao MEC. “Nós vamos ficar apenas com pós-graduação e pesquisa”, disse.
O ministro ressaltou o apoio da SBPC nesse processo,“não apenas o apoio insitutucional, mas também a luz de ilustres integrantes que compõem a equipe do MCTI. “A SBPC não representa apenas os interesses ou os objetivos dos pesquisadores dos cientistas no Brasil, ela representa todo o conjunto do sistema de ciência, pesquisa e inovação na sociedade. É uma instituição que consolidou sua imagem pela seriedade e representatividade”, destacou.
Rebelo acrescentou que a SBPC tornou-se porta voz das aspirações e anseios da comunidade de cientistas e pesquisadores do Brasil e que é uma organização que atua fortemente para levar as reivindicações da Ciência e a defendê-las junto à sociedade e junto ao governo.
Educação
O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, falou sobre os cortes de verbas, pontuando os avanços no país na última década. “Um ano de crise não põe em cheque 12 anos de políticas de inclusão pela educação no país. O número de estudantes universitários passou de 3 milhões para 7,5 milhões, sem cair a qualidade. Estamos em um caminho onde a inclusão social não tem volta”, comentou.
Janine anunciou dois editais que a Capes lançará ainda neste mês, visando as áreas de humanas – um sobre biografias, individuais e coletivas, o outro sobre insurreições nacionais que ainda não foram documentadas. “As verbas serão liberadas ano que vem, quando já tivermos passado essa crise”,
Em entrevista pouco antes da sessão, o ministro, que já foi conselheiro e secretário da SBPC, falou sobre a importância de São Carlos sediar um evento como a Reunião Anual da SBPC. “A importância vem do fato de São Carlos ter uma universidade importante, a mais antiga do Estado de São Paulo. Representa um passo importante no sentido de a reunião da SBPC, que é uma grande festa do conhecimento e da ciência, ir para o interior do país”, disse.
Segundo ele, o interior do Estado de São Paulo é “extremamente punjante” do ponto de vista econômico e precisa ter cada vez mais equipamentos culturais de acesso à ciência, de divulgação científica. “E um dos papeis importantes da SBPC é também o de apresentar a ciência como algo que os jovens, até mesmo as crianças, podem conhecer”, observou.
Comunidade indígena
Para o reitor reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Targino de Araújo Filho, um grande destaque da semana será a SBPC Inovação. “Temos no DNA da cidade de São Carlos, a inovação e o empreendedorismo. Teremos discussões muito interessantes na área de inovação para toda a comunidade científica”, disse o reitor.
Targino ressaltou também a reedição da SBPC Indígena, destacando a importância dos programas desenvolvidos pela Universidade desde 2007 para facilitar o ingresso de estudantes indígenas em cursos de graduação presencial. “Temos integrantes de 29 etnias. Os estudantes indígenas da UFSCar são muito organizados e já realizaram um encontro nacional aqui”.
O cacique Vandenilson Oliveira esteve presente à abertura da 67ª Reunião da SBPC e destacou que a presença de estudantes indígenas nas universidades é fundamental para o desenvolvimento deles. “A nossa participação na SBPC representa a união dos ensinos formal e informal de fazer ciência. Nossos povos aprendem a fazer ciência desde o nascimento. Nosso laboratório é a natureza”, afirmou o cacique.
O edital para o processo seletivo relativo ao ingresso de estudantes indígenas em cursos de graduação presenciais na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em 2016 foi publicado na última semana de junho. Os interessados têm até o dia 4 de setembro para enviar a documentação completa.
Entre os documentos exigidos estão a ficha de inscrição e uma declaração de etnia e de vínculo com comunidade indígena. No total, serão 62 vagas, uma para cada curso, distribuídos nos campi de São Carlos, Araras, Sorocaba e Lagoa do Sino.
Fasubra
Durante a solenidade de abertura, a presidente da SBPC, Helena Nader, atendeu à solicitação de Rogério Marzola, diretor da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos de Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), para subir ao palco e fazer uma breve manifestação em defesa da educação inclusiva de qualidade, pública e gratuita, referenciada. Em greve desde 28 maio, os trabalhadores representados pela Fasubra protestaram contra o ajuste fiscal e, segundo Marzola, “a lógica do Governo de cobrar da população brasileira os ônus para pagar a crise”.
Ele protestou contra o corte de verbas que atinge todo o setor de educação do País. “Por isso não concordamos que, em um quadro de crise, não se corta dinheiro do superávit primário para pagar juros da dívida e sejam cortadas as verbas de C&T em quase R$ 2 bilhões, e o Ministério da Educação tenha R$ 9 bilhões cortados. Não se faz pesquisa, não se constrói a educação em um quadro de ajuste fiscal. Vivemos uma situação crítica. O gasto com investimentos nas universidades públicas, nos últimos oito anos, foi pouco mais do que a metade do que é gasto com o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil)”, afirmou Marzola, que ainda está esperando a oportunidade de dialogar com o Governo Federal.
Ao fim da manifestação, Marzola e representantes da Fasubra entregaram aos participantes da mesa de abertura da 67ª Reunião da SBPC uma Carta em Defesa da Educação com as reivindicações. Os manifestantes ganharam o apoio da maioria dos presentes na plateia.
Cultural
A cerimônia de abertura contou com a participação de músicos da comunidade acadêmica e brindou os participantes com um projeto arrojado de vídeo dos bolsistas do Labi – Laboratório Aberto de Interatividade da UFSCar. Coordenado pelo vice-reitor da UFSCar, Adilson de Oliveira, os alunos do Labi, bolsistas de programas da Fapesp e CNPq, criaram um vídeo especial para abertura.
Os convidados também foram presenteados com a apresentação da pianista Iara Gobato, professora do Departamento de Física da UFSCar, que tocou uma música composta por Edmundo Villani-Côrtes especialmente para o Ano Internacional da Luz.
O Hino Nacional ficou sob a responsabilidade do músico André de Souza, um dos destaques da cena cultural contemporânea de São Carlos. Com voz e violão, Souza, que foi aluno do curso de Engenharia de Produção da UFSCar, emocionou a plateia.
Autoridades
Também compuseram a mesa da sessão inaugural o presidente do CNPq, Hernan Chaimovich, o presidente da FINEP, Luis Fernandes, o presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Jacob Palis, o presidente da CONFAP, Sergio Gargioni, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique Brito Cruz, o presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, Newton Lima Neto, o presidente de Honra da SBPC, Sergio Mascarenhas de Oliveira, a secretária executiva do MCTI, Emília Maria Silva Ribeiro Cury, o secretário executivo do MEC, Luiz Claudio Costa e a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz.
(Daniela Klebis e Suzana Lizkauskas/Jornal da Ciência)