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Ajuste fiscal ameaça feiras de ciência no País

Em um ano de vacas magras, os coordenadores das feiras de ciências no Brasil se uniram formalmente durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos (SP), a fim de pleitear ao Palácio do Planalto os recursos necessários para a realização das atividades programadas para 2016. Em razão do ajuste fiscal nas contas públicas há riscos de ocorrer uma redução drástica dos investimentos, podendo comprometer a realização das cerca de 100 feiras científicas no País.
Coordenadores das feiras de ciências no Brasil pedirão ao governo federal que garanta recursos para as atividades do ano que vem 
Em um ano de vacas magras, os coordenadores das feiras de ciências no Brasil se uniram formalmente durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos (SP), a fim de pleitear ao Palácio do Planalto os recursos necessários para a realização das atividades programadas para 2016. Em razão do ajuste fiscal nas contas públicas há riscos de ocorrer uma redução drástica dos investimentos, podendo comprometer a realização das cerca de 100 feiras científicas no País. 
Essas informações fizeram parte da mesa-redonda realizada nesta quarta-feira, 15/07, sob o tema “O papel das feiras na educação não formal”. As feiras envolvem estudantes do ensino básico, sobretudo de escolas públicas, em experiências científicas em aulas não convencionais, a fim de melhorar a qualidade da educação e despertar o interesse dos alunos pela ciência.  
Roseli de Deus Lopes, coordenadora da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada em São Paulo, informou que no ano passado os recursos já teriam caído em relação a 2013. E, agora, as perspectivas são de que os cortes comprometam a concretização dos eventos em 2016. Tradicionalmente, o edital das feiras é publicado até setembro do ano anterior ao da realização dos eventos.
 
Os recursos são liberados em uma operação conjunta entre a Capes, o MEC, o CNPq e o MCTI.
Segundo Roseli, não existem outras fontes de recursos, além do governo federal, que possam fomentar as feiras, já que a maioria delas ainda está em fase de reestruturação e, por enquanto, não conseguem obter outros patrocínios, do setor privado, por exemplo. 
Dessa forma, na tentativa de assegurar o financiamento das feiras, seus coordenadores formalizaram uma rede, que deve ser chamada de Rede Nacional de Feiras de Ciências, ou algo parecido, entre as cinco representações regionais: Norte, Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. 
“Criamos a rede para garantir apoio financeiro para fomentar esse ecossistema. E para que possamos pensar em mecanismos para garantir gradativamente a sustentabilidade cada vez maior desse ecossistema”, disse Roseli, também secretária regional da SBPC em São Paulo. 
A intenção dos coordenadores das feiras regionais é buscar uma reunião com a presidente Dilma Rousseff nos próximos dias no Palácio do Planalto para que possam ser apresentados indicadores quantitativos e qualitativos das feiras na educação básica. “Vamos mostrar a capilaridade do programa, número de municípios, de professores e de alunos envolvidos diretamente nas feiras”, exemplificou. 
Recursos do MCTI
Segundo o secretário substituto de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, do MCTI, Douglas Falcão Silva, o esforço do Ministério é que o valor do edital para a edição de 2016 das feiras de ciência seja capaz “de dar conta da demanda”. 
“Estamos vivendo um ano muito delicado. Pelo MCTI conseguimos garantir os recursos; a nossa luta é que a Capes consiga disponibilizar um valor mínimo para que o edital tenha sentido”, disse Douglas Falcão Silva ao Jornal da Ciência. Segundo informou, existem cerca de 100 feiras nacionais de ciências, sendo quatro de grande porte, e um conjunto de feiras estaduais que fazem o caminho intermediário com as feiras municipais, que respondem pela maioria. 
“Já existe uma estrutura formada. Se o valor do edital for insuficiente para atender a demanda, é possível que essa estrutura seja desconfigurada. O nosso esforço é conseguir somar um valor mínimo de R$ 6 milhões. Se o edital ficar abaixo desse valor, pode ocorrer uma espécie de canibalismo, em que as feiras lutarão entre si por recursos”, avalia.
Segundo Silva, o MCTI vê essas feiras como uma ferramenta crucial para a melhoria da qualidade do ensino de ciências. “Hoje vivemos literalmente uma crise na qualidade do ensino de ciências no Brasil, de forma generalizada. A qualidade do ensino de ciências está muito comprometida”, reconheceu. 
Silva disse que existem ferramentas capazes de mensurar o impacto qualitativo no ensino de ciências. Nesse caso, referiu-se à pesquisa de percepção pública da ciência, divulgada nesta semana pelo MCTI. O estudo revelou que 21% das pessoas já participam de feiras e olimpíadas, um avanço na comparação com as pesquisas anteriores. 
(Viviane Monteiro/Jornal da Ciência)