Especialistas defendem doutorado mais próximo da realidade da indústria

Diante da velocidade acelerada que caminha o mundo em razão dos avanços científicos e tecnológicos, especialistas sugerem criar cursos de pós-graduação e doutorado mais voltados para a indústria a fim de atender as demandas do mercado. Essa foi a tônica do debate sob o tema “Educação, Ciência e Inovação Tecnológica para o Brasil do século XXI”, realizado ontem, 16/07, na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos.
Para físico da USP, o método científico deveria adotar metodologia para atender qualquer tipo de ciência; não exclusivamente a ciência básica
Diante da velocidade acelerada que caminha o mundo em razão dos avanços científicos e tecnológicos, especialistas sugerem criar cursos de pós-graduação e doutorado mais voltados para a indústria a fim de atender as demandas do mercado. Essa foi a tônica do debate sob o tema “Educação, Ciência e Inovação Tecnológica para o Brasil do século XXI”, realizado ontem, 16/07, na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos.
Um dos palestrantes, o ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, reforçou a necessidade de estreitar a relação entre universidade e empresa. Ele apresentou dados que mostram uma participação modesta da indústria no número de patentes e relatou que 80% do total de doutores trabalham na área acadêmica no Brasil. O número de doutores que trabalham na indústria chega a pífios 3% do total.
“Isso mostra a responsabilidade que as universidades têm. A questão não é de quem é a culpa, mas o que fazer com esse resultado”, avaliou Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), da Universidade de São Paulo (USP), na mesa-redonda, mediada pelo vice-presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Luiz Henrique Catalani, professor titular do Instituto de Química da USP. 
Na ocasião, o mediador do debate provocou os palestrantes ao questionar o fato de “nossos doutores não estarem atendendo as demandas da indústria”. Também participaram do debate representantes de empresas que têm uma cultura inovadora no País: Paulo Coutinho, gestor de conhecimento de propriedade intelectual e renováveis da indústria de química Braskem, e Paulo Lourenção, coordenador técnico da Embraer. 
Glaucius Oliva sugeriu investir em cursos de doutorado acadêmico e profissional, onde o doutorando pudesse acompanhar a realidade das empresas no período de estudo. Oliva acrescentou que existe uma pressão enorme por conhecimento no mundo e o Brasil precisa se adequar às mudanças globais. Para ele, essas decisões precisam ser tomadas em conjunto  com as partes envolvidas. 
O ex-presidente do CNPq, porém, fez questão de citar a qualidade da produção científica básica brasileira, principalmente a da agricultura que deu um salto nas últimas décadas e é um destaque no mundo. 
Glaucius Oliva entende que a educação precisa ser mais inovadora e a ciência brasileira precisa ter mais 
impacto na inovação. Nesse caso, ele defende uma participação maior do setor privado no desenvolvimento de inovação. Hoje a maioria das patentes no Brasil é solicitada pela universidade, sendo que os bolsistas respondem por 40% das solicitações. 
Embora a avaliação da pós-graduação na Capes seja uma das melhores do mundo, ele criticou o fato de a prioridade ser a produção acadêmica. Ele lembrou que, mais recentemente, a Capes vem focando na avaliação de patentes. Disse, porém, que as patentes não são indicadores de inovação nas universidades.  
Dados apresentados por Oliva revelam que de 2003 a 2013 as universidades ficaram em sétimo lugar no ranking nacional entre as dez primeiras instituições que lideram o número de pedidos de patentes, internamente. Na ordem, as três primeiras são Petrobras, Unicamp e USP.  
“Acho que precisamos tomar decisões mais radicais na nossa pós-graduação para preparar doutores que, de fato, sejam do interesse das empresas”, analisou.
Carências na indústria de química 
Reforçando tal posicionamento, Coutinho, gestor de conhecimento de propriedade intelectual e renováveis da Braskem, disse que o mundo demanda processos renováveis e a busca será por matérias-primas renováveis. Disse que a tendência é de uma nova indústria de química que passa a focar o desenvolvimento de plástico biodegradável e em embalagens inteligentes, por exemplo. 
Ele reforça que o Brasil precisa transformar ciência em inovação. Na área de química, o país é dependente do mercado internacional. A indústria de química acumula déficit de US$ 32 bilhões na  balança comercial do setor, rombo que no início da década girava em torno de US$ 5 bilhões.   
Coutinho disse que a Braskem tem tradição de contratar doutores, mas tem enfrentado dificuldades para contratar profissionais internamente para atender às exigências da empresa. 
Ele achou interessante o Brasil focar em doutorado acadêmico e profissional, mas alertou sobre problemas que a Braskem tem enfrentado na lei de propriedade intelectual para proteger o conhecimento desenvolvido por doutores. Ele disse, porém, que possivelmente o novo código de Ciência, Tecnologia e Inovação (Projeto de Lei nº 2177/2011) resolva esse gargalo. 

Pesquisa básica & pesquisa aplicada
Já o representante da Embraer disse que o mundo requer profissionais com disciplinas multidisciplinares e com poder de fazer planejamento de longo prazo. Defendeu, ainda  participação ativa das mulheres na área de exatas e disse que a pesquisa básica precisa andar com mãos seguradas à pesquisa aplicada. 
Ao fazer um balanço do debate, Catalani, professor titular do Instituto de Química da USP,  reforçou as palavras de Glaucius de que o curso de doutorado no Brasil é voltado mais para  formação acadêmica, embora isso não seja generalizado. Para ele, o método científico deveria adotar em sala de aula uma metodologia que pudesse atender qualquer tipo de ciência, não exclusivamente a ciência básica.
(Viviane Monteiro/Jornal da Ciência)