A construção de um novo projeto de país, que leve em conta a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), é complexo e requer a repactuação com a sociedade de estratégias e modelos de desenvolvimento. Em síntese, essa foi a constatação dos participantes do seminário “Ciência, Tecnologia e Inovação”, o primeiro da série “Projeto para um novo Brasil”, promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Coordenado pela cientista da computação Francilene Procópio Garcia, diretora da entidade, o evento foi realizado em formato virtual nesta quarta-feira e contou com a participação do sociólogo Glauco Arbix; da engenheira Lúcia Carvalho Pinto de Melo e dois dos presidentes de honra da SBPC, Helena Nader e Ildeu de Castro Moreira.
Abrindo a primeira rodada de exposições, a biomédica Helena Nader, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professora titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) destacou o papel da educação e do fomento à pesquisa básica como pilares de um novo projeto de país. Ela também defendeu o resgate do papel do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia como órgão condutor da política científica brasileira. “O conselho nacional, que tem quase 30 anos, tem que voltar a ter o papel de discussão e aprovação de políticas para CT&I”, afirmou Nader.
Glauco Arbix, professor titular de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), centrou sua apresentação nos desafios que envolvem o financiamento da CT&I no país que, segundo ele, vai encontrar restrições fiscais no próximo governo. “Temos que fazer um esforço para encontrar alternativas que não tenham impacto fiscal, para que os governos não montem armadilhas para driblar a necessidade que temos de mais recursos e melhor alocação”, declarou. Entre as alternativas, ele citou parcela dos royalties do petróleo do pré-sal, fundos patrimoniais (endowment) e filantropia.
Lucia Melo, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco e ex-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), falou sobre os mecanismos de apoio disponíveis a nível de governos estaduais e ressaltou a necessidade de missões de CT&I voltadas a objetivos definidos pela sociedade em parceria com os entes federativos. “Estou insistindo nessa questão das missões porque acho que o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia tem que ser orientado para contribuir no atingimento de metas que se propõe para a sociedade brasileira”, afirmou Melo.
Presidente de honra da SBPC e professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu de Castro Moreira frisou que um projeto de Brasil novo requer, em primeiro lugar, a reversão do quadro de desmonte da CT&I nacional que se acentuou no governo atual. Ele defendeu uma ação política em articulação com outros atores da sociedade civil para encaminhar as propostas da comunidade científica, não apenas para o novo governo que vai assumir em 2023, mas também para os parlamentares. “Tão importante quanto levar propostas, é mobilizar a comunidade científica e a sociedade para que coloque a questão da CT&I na agenda dos candidatos. É preciso também uma aproximação com a mídia brasileira, a SBPC precisa continuar a organizar os seus debates com os candidatos e fazer um trabalho utilizando pesadamente as redes sociais”, recomendou Moreira.
Ao fim das apresentações, a mediadora Francilene Garcia reiterou o papel da educação como pilar: “Se não mudarmos a forma de educar nossos jovens desde a infância não vamos atingir esse projeto de novo Brasil”, afirmou.
Próximos seminários
O “Projeto para um novo Brasil” terá doze seminários que vão tratar de temas relevantes para o desenvolvimento do País. Entre os assuntos a serem abordados estão Ciência, Tecnologia e Inovação, Educação básica, Educação superior, Pós-graduação, Saúde, Direitos Humanos, Segurança pública, Mudanças Climáticas, Meio ambiente, Questão indígena, Diversidade de gênero e raça e Cultura.
Na abertura do seminário desta quarta-feira, o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, afirmou que a intenção é “definir de que maneira a ciência pode e deve contribuir para um Brasil melhor”. “Vamos discutir de que maneira podemos melhorar o mundo, pensando na ciência, na cultura, na saúde e a inclusão social, que compõem o círculo virtuoso que muda as coisas”, disse Ribeiro
Francilene Garcia acrescentou que a contribuição de todos os participantes do seminário será transformada em um documento que a SBPC pretende entregar aos futuros candidatos ao Executivo e Legislativo, não apenas “para entregar, mas para construir iniciativas”.
O próximo seminário acontecerá no próximo dia 23 e abordará a Educação Básica.
Jornal da Ciência