O encontro entre a ciência e a dança foi tema de uma das mesas-redondas da Jornada do Dia Internacional das Mulheres realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Mediado por Laila Salmen Espindola, diretora da SBPC e coordenadora do Laboratório de Farmacognosia da Faculdade de Ciências da Saúde/Medicina da Universidade de Brasília (FS-FM/UnB), a mesa contou com a participação da médica reumatologista Licia Mota e a antropóloga Alexandra Alencar.
Bailarina desde criança, Licia Mota disse que a dança a define, assim como todos os outros papeis sociais. Ela atua como médica reumatologista há 19 anos no Hospital Universitário de Brasília, é professora da pós-graduação da FM/UnB, além de exercer atividades institucionais da categoria.
“A dança influenciou principalmente a forma como eu vejo os desafios da vida”, afirmou Mota. Em 2016, como presidente do Congresso Brasileiro de Reumatologia, escolheu o tema Reumatologia e Arte que referenciou toda a programação. “Não acho que exista uma diferença realmente entre ciência e arte, ambos são polos complementares da inteligência humana, a ciência é uma arte e a arte é uma ciência”, afirmou.
Antropóloga e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandra Alencar relatou sobre como a dança possibilita uma profunda conexão com sua ancestralidade. “Penso que a dança, enquanto potência, para meu fazer científico, me possibilita hoje praticar uma descolonização na prática do pensamento, seja repensando o espaço físico da sala de aula, seja reposicionando os saberes e fazeres de outros povos”, declarou.
Rainha do Maracatu Arrasta Ilha, mulher negra, Alencar participa dos núcleos de pesquisa de identidade e relações inter-étnicas e de questões de gênero. Começou a dançar em 1990 enquanto ainda estudante em um projeto chamado Dança, Educação, Arte e Cidadania, do Instituto Estadual de Educação.
Participou de projetos que, segundo ela, serviram como insights para a vida acadêmica. “Muitas vezes, fazendo dança, eu já tive a oportunidade de entender coisas e textos que estava lendo”.
A discussão destacou a “dança cura”! O “querer fazer, querer viver, querer estar” e “O corpo arquivo, o corpo arma – contra qualquer tipo de opressão”. A Rainha do Maracatu falou sobre sua descoberta/responsabilidade de seu papel de aglutinação social. Lembrou que “o Plano de Ensino é também poder, e que precisamos fazer ocupação curricular”. Levar “os movimentos” para sala de aula. Espindola lembrou a árdua atuação dos professores e estudantes profissionais de saúde no atendimento aos pacientes com COVID-19 no Hospital Universitário da UnB. Licia Mota registrou que nos 2 momentos críticos da pandemia não houve pedido de afastamentos por parte dos profissionais de saúde, porém agora temos “uma avalanche de profissionais com a saúde mental abalada”. Isso precisa estar nos currículos e serem sim discutidos. Espindola finalizou agradecendo as dançarinas/professoras “raiz”, ambas em suas especificidades, e o exemplo do “quanto temos que cuidar de nós mesmas(os), para não nos afastarmos da vida dentro da gente e não adoecermos”. A arte cura!
Durante a Jornada, as cientistas fizeram uma apresentação artística.
Assista à mesa-redonda na íntegra, pelo canal da SBPC no Youtube.
Jornal da Ciência