Uma sessão especial no Senado Federal, realizada nesta quinta-feira (31), celebrou os 200 anos do nascimento do naturalista Fritz Müller. Ele foi o primeiro cientista a apresentar modelos matemáticos para explicar a seleção natural e fornecer provas conclusivas da teoria de Charles Darwin.
Johann Friedrich Theodor Müller, popularmente conhecido como Fritz Müller, nasceu na Alemanha em março de 1822 onde se formou em matemática, história natural e filosofia. Atuou na revolução alemã de 1848, tanto que se inscreveu no Partido Democrático, tornando-se um militante. Em 1852, imigra para o Brasil, juntamente com uma leva de descontentes com a Revolução de 1848.
Colono e lavrador no Vale do Itajaí (atual Blumenau), Fritz Müller foi um grande naturalista e, também, professor de matemática e ciências naturais na educação básica. Em 1864, publicou o livro “Für Darwin”, na Alemanha, cinco anos após o britânico publicar “A origem das espécies”. O livro impressionou tanto Darwin, que ele mesmo pagou a tradução do alemão e a publicação da obra em inglês sob o título “Facts and Arguments for Darwin”. Os dois mantiveram uma intensa correspondência e amizade até a morte de Darwin, em 1882. Fritz Müller é o terceiro cientista mais citado em “A origem das espécies” e publicou cerca de três centenas de artigos científicos, grande parte deles em periódicos internacionais, como a Nature. O botânico faleceu em 21 de maio de 1897, aos 75 anos.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) abriu a sessão especial enaltecendo Fritz Müller. “Dizem que a medida de um homem se tira pela firmeza de suas convicções, pela abrangência de seus interesses e pela altura de seus ideais. Sob quaisquer dessas métricas, Johann Friedrich Theodor Müller foi um gigante”, disse.
Autor do requerimento para a homenagem, Amin declarou que, apesar de a história ter relegado ao germano-brasileiro o crédito de apenas figurante, Müller teve tanta participação quanto Darwin na validação científica da teoria da evolução das espécies. Segundo o parlamentar, Fritz Müller não apenas ajudou a fundar as bases da ciência moderna, mas também contribuiu de forma significativa para a fundação e crescimento do município de Blumenau, em Santa Catarina, na década de 1850.
Fernanda Sobral, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ressaltou que as práticas de Fritz Müller mostram aos atuais estudiosos o jeito de fazer ciência. Ela falou que o homenageado trouxe benefícios não apenas científicos, mas também sociais, educacionais, políticos, administrativos e culturais.
“Nossa percepção é de que Fritz Müller, além de dignificar a ciência investigando a natureza com isenção e altruísmo, foi educador de vanguarda, influenciou os costumes sociais, políticos, culturais de seu Estado, e foi também um dos mais importantes formadores da identidade catarinense, que muito orgulha a todos nós”, declarou Sobral, que também estava representando o Grupo Desterro Fritz Müller – Charles Darwin 200 anos.
Sobral lembrou que a SBPC lançou no dia 29 de março, em parceria com o Grupo Desterro, a segunda edição do e-book “Fritz Müller 200 anos: legado que ultrapassa fronteiras”. E que na próxima segunda-feira, 4 abril, levará ao Congresso Nacional, em Brasília, a exposição “Fritz Müller 200 anos”. A mostra ficará em exibição de 4 de abril a 2 de maio no Espaço Cultural Ivandro Cunha Lima, localizado no corredor do Anexo I da Câmara dos Deputados.
Angela Amin, por sua vez, também ressaltou que os estudos produzidos em Santa Catarina serviram de alicerce para o desenvolvimento das ciências naturais. Segundo a deputada, foi Müller quem identificou espécies novas e revelou ao mundo a riqueza natural da costa e da Floresta Atlântica. Na obra e em cartas do naturalista, disse ela, há também registros pioneiros de preocupação do homenageado com a causa ambiental. “Fritz pôs o Brasil no mapa de uma das maiores revoluções da ciência na história. O reconhecimento internacional dele como intelectual e como homem essencial para os avanços dos conhecimentos científicos da humanidade muito nos orgulha. São exemplos assim que nos dão a certeza de que a curiosidade, a criatividade e a pesquisa nos permitem avançar nas explicações sobre nossa própria existência”.
Na opinião do senador Eduardo Girão (Podemos-CE) a homenagem é meritória e justa, inclusive pela comemoração também do bicentenário da Independência do Brasil em 2022. “E celebrando o bicentenário de um ilustre alemão que adotou o nosso país e deixou sementes importantes na nossa nação. A gente fica encantado. Apesar de sempre ter ouvido falar em Fritz Müller, eu não tinha o conhecimento da amplitude. A trajetória desse naturalista, as correspondências trocadas com Charles Darwin, a contribuição mútua para o progresso da ciência e da nossa evolução são mesmo fenomenais”, finaliza.
Jornal da Ciência, com informações da Agência Senado