O modelo de Pós-Graduação (PG) adotado pelo Brasil tem a vantagem de estimular a renovação de grupos de pesquisadores, mas acumula problemas ao longo do tempo, que precisam ser enfrentados em um novo projeto de país. O debate foi promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) dentro da série intitulada “Projeto para um Brasil Novo”, realizado quarta-feira, 6 de abril, às 16h.
Mediado pela professora Sônia Báo, da Universidade de Brasília (UnB) e também secretária regional da SBPC no Distrito Federal, este foi o quarto de doze seminários temáticos, idealizados para tratar de temas relevantes que contribuam para o desenvolvimento do País e que vão acontecer ao longo de todo primeiro semestre de 2022.
Entre os participantes, o sociólogo Simon Schwartzman, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), fez três recomendações: primeira, que os recursos públicos sejam destinados às áreas que estão formando realmente pesquisadores de alta qualificação; segunda, que os mestrados devem deixar de ser considerados uma etapa intermediária para o doutorado; terceira, uma desregulação do sistema, sobretudo do mestrado. “Temos que entender que o mestrado basicamente atende à demanda por qualificação e não para a formação de pesquisadores, então devemos tratar o mestrado mais próximo das especializações e o doutorado por suas duas caras: a titulação e formação de cientistas”, concluiu Schwartzman.
Robert Verhine, professor titular (aposentado) da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), centrou sua exposição em três aspectos: ensino à distância (EAD), o doutorado profissional e a relação entre PG e a educação básica.
Ele propôs a criação de um Grupo de Trabalho (GT) com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para repensar formas de operacionalizar, articular e fortalecer relações entre as três etapas do ensino. “Isso é importante porque o futuro da Pós-Graduação depende da Educação Básica”, comentou Verhine.
Reinaldo Ramos de Carvalho, professor da PG na Universidade Cruzeiro do Sul, afirmou que o Brasil faz muita pesquisa, mas o impacto é pequeno, indicando que o investimento do país em ciência precisa reforçar o que chamou de “tripé ciência básica-tecnologia-produção industrial”.
“É o momento de repensar a pós-graduação em sua dimensão maior, como elemento de transformação social onde os diferentes atores entendam suas específicas capacidades para que a proposição de políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação sejam realmente capazes de orientar competências”, declarou Carvalho .
Jorge Luís Nicolas Audy, professor titular da Escola Politécnica e Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), falou sobre o trânsito entre a PG e a inovação. Ele defendeu uma revisão do modelo atual dentro de um contexto mais contemporâneo, com o fortalecimento da autonomia das instituições para oferecer formação inovadora e mais próxima das demandas da sociedade, nas regiões em que atuam.
“Acredito que valorizar a dinâmica da educação e da ciência e tecnologia nesse contexto de apoiar uma lógica de empreendedorismo inovador, que possibilite e reconheça a importância do potencial de mecanismos de ‘spin-off’, ‘startups’, investimento nas pessoas, principalmente jovens, é fundamental para posicionar o Brasil no cenário mundial”, afirmou.
A professora Connie McManus, também da UnB, defendeu pensar na PG como um ecossistema, no qual é necessária uma nova governança, com mais planejamento e participação e também na comunicação da ciência. “Um dos maiores problemas que temos é não sabermos comunicar a importância da ciência para a sociedade, por isso perdemos muito apoio”, alertou.
Vários dos especialistas que participaram do debate mostraram a importância de se elaborar um novo Plano Nacional de Pós Graduação (PNPG).
Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, comentou, ao abrir o seminário, que o Brasil adotou um critério “exemplar” de avaliação de grupos de pesquisa enquanto programas de PG que formam mestres e doutores. “Não por acaso, a avaliação da PG está no MEC, o que estimula os grupos de pesquisa a formar novos pesquisadores. Se tivermos avaliação só de grupos de pesquisa enquanto tais, sem a PG, corremos o risco que ocorre em alguns raros institutos puramente de pesquisa no Brasil, mas também em outros países, de não termos renovação de quadros na qualidade e constância de que precisamos.”, afirmou.
Janine Ribeiro reiterou que das discussões dos doze webinários vão surgir os textos que serão encaminhados aos candidatos à presidência da República, aos governos dos estados e eventualmente ao Congresso. Considerando a grande importância do tema da pós-graduação, este será objeto de outros debates, antes de chegarmos às propostas para o novo governo.
Assista ao seminário na íntegra pelo canal da SBPC no Youtube.
Jornal da Ciência