Inovação é uma das palavras mais presentes nos discursos sobre desenvolvimento econômico. Mas falta uma visão mais clara sobre para quê e para quem se inova. Essa foi, em linhas gerais, a reflexão feita por quatro especialistas durante o painel “Os caminhos da inovação no Brasil” realizado nesta segunda-feira (25/7), primeiro dia da programação científica da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Coordenado pela cientista da Computação, Francilene Garcia, diretora da SBPC, o painel contou com a participação dos professores e pesquisadores Claudia Leitão, da Universidade do Estado do Ceará (UECE), Fernando Galembeck, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Gesil Amarante Segundo, presidente do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec), Jorge Guimarães, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e Antônio Valdir Oliveira Filho, diretor superintendente do Sebrae-DF.
Claudia Leitão (UECE), docente e pesquisadora em Economia Criativa, tem no currículo a criação da Secretaria de Economia Criativa (SEC) no governo Dilma Rousseff. Com uma visão crítica, ela alertou que a retórica da inovação não revela as assimetrias sociais que também são produzidas pelas novas tecnologias. “O que significa ser inovador? As inovações apontam para níveis mais altos de gastos, marcas distintas e um consumidor mais diferenciado e em nome de um crescimento do mercado e desenvolvimento das forças produtivas”, analisou. E completou: “A verdade é que quanto mais inovação aconteceu, menos criatividade houve.”
Fernando Galembeck que tem longa carreira de pesquisa na área de polímeros, materiais complexos e nanotecnologia, destacou que, apesar dos grandes avanços, o Brasil ainda carece de inovações em áreas substanciais, como as quebradeiras de coco babaçu, um grupo estimado em 200 mil pessoas que ainda trabalha com métodos que ele classificou como “desumano e indigno”. “Mas não vejo nenhum esforço importante para que essa situação mude”, afirmou.
Gesil Amarante Segundo destacou os avanços da legislação nos últimos anos no estímulo à inovação, mas também a falta de um olhar para a diversidade do país no desenvolvimento de novas formas de inovar. “Inovação não é só software e equipamento, envolve também estratégias de uso de ferramentas para valorizar nossa cultura, nossa gente e coisas que só o Brasil tem.”
Para Jorge Guimarães, presidente da Embrapii, os desafios do Brasil na inovação começam com a distribuição de renda e deficiência educacional da população. “Todo mundo fala em inovação hoje em dia, todavia, inovação propriamente dita não é prioridade no Brasil.” Segundo ele, mesmo as melhores universidades brasileiras dão muito pouca importância ao componente tecnológico que possuem.
Valdir Oliveira, do Sebrae-DF, falou da catástrofe que atingiu os pequenos negócios com a pandemia, os quais, em sua maioria, fecharam as portas. Ele reforçou a necessidade que a inovação seja acessível a esse segmento, não só para sobrevivência, mas para transformação de alguns ambientes nos quais eles são fundamentais. “É impossível você chegar para uma empresa que esteja nessa situação e (propor) repensar seu modelo de negócio, sua produtividade. Ele está quebrado!” Para Oliveira, é preciso resgatar as micro e pequenas empresas antes de passar para uma política mais focada na melhoria da produtividade.
Assista ao painel “Os caminhos da inovação no Brasil” na íntegra, pelo canal da SBPC no Youtube.
Mais informações sobre o evento estão disponíveis no site: https://ra.sbpcnet.org.br/74RA/.
Jornal da Ciência