O Brasil conta com mais de três mil museus espalhados por todo seu território. Os dados são de uma pesquisa conjunta realizada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e o Ministério da Educação (MinC). No entanto, o país ainda está muito a dever em relação ao cuidado com seu acervo. Isso foi o tema de discussão do painel “Museus em Perigo – o Brasil Descuida do seu Patrimônio”, realizado de modo virtual durante a 74.ª Reunião Anual da SBPC nesta terça-feira (25), às 16h.
Moderado por Ennio Candotti, coordenador geral do projeto do Museu da Amazônia (MUSA) e presidente de honra da SBPC, o painel contou com a participação de Alexander Wilhelm Armin Kellner, professor do Departamento de Geologia e Paleontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cassio Costa Laranjeiras, professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB), e Laércio Ferracioli, professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Talvez o maior exemplo de descaso com o patrimônio brasileiro seja o caso o do Museu Nacional. Vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), constituiu um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas até o incêndio de 2018, que destruiu quase a totalidade de se acervo. Kellner falou dos desafios para a recuperação do museu. As obras começaram em 2021, mas desde 2020 instituições brasileiras e internacionais se organizaram no projeto Museu Nacional Vive para lutar por sua reconstrução.A fachada do prédio histórico deverá ser restaurada até setembro deste ano, quando se celebra o Bicentenário da Independência do Brasil. O pesquisador também enfatizou a importância da integração entre o museu e a sociedade para manter vivo o patrimônio histórico do país. “Um museu que não consegue dialogar com a sociedade está condenado à extinção se não mostrar à sociedade que ela tem que investir em seus museus, ela já está parcialmente extinta”.
Para incentivar esse maior engajamento, é preciso promover o envolvimento ativo entre o público e os pesquisadores, construindo um diálogo. Esse diálogo vai contribuir para se cultivar uma cultura científica, de forma a levar a população a cuidar desse patrimônio. “Trata-se de tornar a ciência acessível e interessante”, explicou Ferracioli. “É o engajamento público com a ciência, onde eu, pesquisador, vou tentar construir um diálogo com a sociedade de tal forma que esse diálogo seja inclusivo e tenha impacto.
Para Laranjeiras, é importante identificar a raiz do descaso com o patrimônio para se poder construir estratégias de preservação. “O descuido com o patrimônio surgirá como efeito com o descuido maior, que é cultural, que é com o conhecimento”, afirmou.
Candotti ressaltou que os museus são importantes não apenas para preservar a memória, mas também para celebrar a diversidade. Eles são espaços em que se permitem diferentes olhares, e onde convivem diversas histórias de vários povos, com diferentes maneiras de agir e pensar. “O museu é um local onde se faz uma de leitura do mundo”, disse.
Assista ao painel na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=uC3IFxwumIo
Chris Bueno – Jornal da Ciência