O aumento das queimadas na Amazônia está levando à reversão do papel da floresta que antes absorvia gases de efeito estufa (GEE) da atmosfera e passou a emitir. O alerta foi feito por Luciana Vanni Gatti, pesquisadora Centro de Ciências do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), durante a conferência “O impacto do descontrole no desmatamento na Amazônia sobre sua capacidade de remover carbono da atmosfera”.
Apresentado pela biocientista Lucile Maria Flöeter-Winter, a conferência foi realizada nesta quinta-feira (28/7) durante a 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade de Brasília (UnB).
Gatti iniciou sua apresentação com vários números e gráficos dos relatórios de acompanhamento do INPE que mostram uma forte degradação da floresta Amazônica. A média do desmatamento de 2010 a 2018-2019 teve um aumento de 58%. Em 2020 aumentou 69% em relação àquela média dos anos anteriores. Os focos de queimada aumentaram 700% em 2019. E não só na Amazônia: no Brasil inteiro, no ano de 2020, foram cortadas 24 árvores por segundo.
Segundo Gatti, devido às queimadas, a floresta veio reduzindo sua capacidade de absorção de gás carbônico (CO2) até parar completamente em 2010. A partir daí a floresta começa a emitir CO2. “Ao desmatar a Amazônia, nós a estamos transformando numa fonte de carbono para atmosfera”, afirmou a pesquisadora.
Ela lembrou que o motivo das mudanças climáticas é o aumento dos GEEs, na atmosfera, dos quais o CO2 é o principal, por elevar a temperatura da terra, contribuindo para reduzir as chuvas. “A Amazônia era – e podia continuar sendo – a nossa grande proteção contra as mudanças climáticas porque ela absorve carbono, produz chuva e, produzindo chuva, reduz a temperatura”, explicou.
Gatti reiterou que a Amazônia é um “ar condicionado gigantesco que o Brasil ganhou de presente da Terra”. Porém, “a estupidez de achar que floresta é desperdício de terra, estamos matando a maior vantagem que qualquer país pode ter nesse período de mudanças climáticas”.
Jornal da Ciência