A
premiação foi entregue durante a abertura da 68ª RA da SBPC pelo ministro da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, e pelo
presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), Hernan Chaimovich
A
jornalista Luisa Medeiros Massarani, do Núcleo de Estudos da Divulgação
Científica do Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), proferiu nesta
terça-feira (05) a conferência “Divulgação científica – E agora
José?”, na 68ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), que acontece até sábado (09) em Porto Seguro (BA). Durante sua
apresentação ela traçou a trajetória dos seus 29 anos de profissão. Massarani
foi a vencedora do Prêmio José Reis de Divulgação Científica desse ano, na
modalidade “Pesquisador e Escritor”, concedido pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Pesquisadora
do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida, Massarani
comemora a premiação ao mesmo tempo em que trabalha com o acervo de José Reis.
“A família dele procurou o Museu da Vida e nos ofereceu seu acervo. José Reis
foi um dos grandes divulgadores da ciência no Brasil e, certamente, um ícone na
área. Ele foi fundamental para a ciência brasileira e mesmo assim ele é pouco
conhecido. Talvez por ser muito reservado. Mas ganhar este prêmio ao mesmo
tempo que trabalho com o seu acervo me deixou muito feliz ”, disse a
coordenadora do projeto em andamento para o tratamento, estudo e a
disponibilização desse patrimônio ao público.
Massarani
lembrou ainda que José Reis, que se destacou pela fundação e consolidação da SBPC,
em 1948, ajudou a criar a revista Ciência e Cultura, da SBPC. A trajetória do
cientista é marcada pela diversificação, afirma ela ao Jornal da Ciência. Publicou livros infanto-juvenis, para adultos,
novelas de rádios e artigos de Divulgação Científica para a Folha da Manhã
(grupo Folha), na década de 1940. Na Folha de S. Paulo, onde manteve uma coluna
por seis décadas, foi diretor de redação de 1962 a 1968 e estimulou a criação
do suplemento infantil do jornal, veiculando temas de ciência.
Ao
lembrar o início de sua carreira, ela cita também que o ex-presidente da SBPC
Ennio Candotti foi um dos primeiros a lhe dar oportunidade de atuar com o
jornalismo científico.
Ciência para crianças
Massarani, que foi
por cinco anos editora da revista Ciência Hoje das Crianças, acredita na
importância da divulgação científica para os pequenos. “Eles são os futuros
cidadãos e por isso, é importante trabalhar com eles”, afirma.
“Às vezes a
gente passava três ou quatro meses trabalhando em um só texto. Foi um momento
de virar a cabeça. Enquanto no jornalismo tradicional você tem regras mais ou
menos consolidadas, quando se fala em ciência para a criança, não existe
receita de bolo nem caminhos sugeridos”, comentou. “Isso me fez
pensar, enxergar desafios e problemas de escrever sobre o tema para o público
geral, diante de uma responsabilidade muito grande, porque a revista tinha e
ainda tem uma ampla recepção em escolas do Brasil inteiro.”
Atuante na área de
divulgação científica desde 1987, Massarani disse que muitas coisas mudaram
desde o início de sua carreira. “Lembro que a divulgação científica estava em
um momento muito bom e que já alcançou vários momentos relevantes. Na transição
da década de 90 para a de 2000, foi a vez de inaugurações de Museus de Ciências
interativos ganharem espaço. Hoje a atuação dos profissionais melhorou, já que
nos últimos 30 anos surgiram cursos de pós-graduação, que contribuíram para
isso. Embora, tenhamos apenas 22 cursos na área na América Latina”, explica.
Mesmo com
melhorias, Massarani salientou preocupação com o futuro da divulgação
científica por causa da atuação do governo interino. “Já foi sinalizado que as
secretarias, a de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) e a de
Políticas e Programas de Pesquisas e Desenvolvimento (Seped) serão fundidas e
isso pode ser prejudicial à área, já que a ciência e tecnologia estão cada vez
mais presentes na vida cotidiana das pessoas”, disse ao afirmar que o País vive
um momento delicado.
A premiação
Massarani foi a vencedora do 36ª Prêmio José Reis de Divulgação
Científica e Tecnológica, que neste ano concede o prêmio na modalidade “Pesquisador e Escritor”, e ganhou a
importância de R$ 20 mil reais. A premiação foi entregue na abertura do evento
pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC),
Gilberto Kassab, e pelo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich.
O concurso avaliou a qualidade e relevância dos trabalhos
apresentados, a experiência e a trajetória profissional, e em reconhecimento à
sua contribuição em prol da divulgação e popularização da ciência, tecnologia e
inovação. Nesta edição, o Prêmio recebeu 45 inscrições de pesquisadores e
escritores oriundos de universidades, autarquias, fundações, instituições de
pesquisa e de ensino técnico e profissionalizante, museus, jornais, entre
outros.
Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, Luisa Massarani tem
uma ampla atividade acadêmica, científica e de gestão voltada para a divulgação
científica, incluindo a liderança do Grupo de Pesquisa do CNPq Ciência,
Comunicação & Sociedade; a coordenação da SciDev.Net (www.scidev.net) para
América Latina e Caribe; e a Diretoria Executiva da Red Pop-Unesco, a rede de
popularização da ciência e da tecnologia para a América Latina e o Caribe.
Além disso, é pesquisadora associada Honorária do Departamento de
Ciência e Tecnologia da University College London e membro do Comitê Científico
da PCST Network, a rede internacional para comunicação pública da ciência e
tecnologia. Publicou cerca de 70 artigos sobre o tema da divulgação científica
em jornais científicos.
Vivian Costa – Jornal da Ciência