“Eu estava no Ensino Médio quando as bolsas foram reajustadas e nem sabia ainda que curso ia fazer”. A lembrança da pesquisadora Bárbara Xavier, 25 anos, ajuda a entender o cenário preocupante da carreira acadêmica no Brasil. Nove anos se passaram desde que ela saiu da escola, completou a graduação em Ciências Biológicas e desenvolveu quase todo o mestrado em Ecologia na Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Foram nove anos de estudo até agora, em setembro, quando deve defender a dissertação escrita durante a pesquisa. Mas, apesar de tanta qualificação, a remuneração não mudou: em todo esse tempo, as bolsas dos estudantes de pós-graduação (o que inclui também os doutorandos) que, como ela, se dedicam de forma exclusiva, não tiveram nenhum reajuste.
“As pessoas não entendem, porque é como se eu fosse estudante até agora, o que, de fato, eu sou, nesse cenário atual. Não nos veem como profissionais”, lamenta Bárbara, que investiga a ocorrência de ratos e sariguês em favelas urbanas de Salvador para identificar os fatores ambientais que estimulam a distribuição desses animais.
Desde 2013, quem escolhe fazer a pós-graduação só tem duas escolhas: ou recebe apenas R$ 1,5 mil no mestrado (ou R$ 2,2 mil, se for doutorando), sem previdência ou qualquer outro direito trabalhista, ou precisa arrumar algum outro tipo de renda. Naquela ocasião, um estudante de mestrado recebia pouco mais de dois salários mínimos. Hoje, o salário mínimo a R$ 1.212 já ameaça passar o auxílio.
Para quem não conhece a rotina de um pós-graduando, o mestrado e o doutorado exigem mais do que assistir a aulas. Estudantes devem desenvolver uma pesquisa científica e muitos chegam a investir mais de 40 horas por semana na pesquisa. Por isso, não é permitido que nenhum bolsista tenha vínculo empregatício. Ou seja: é a bolsa e nada mais.
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