A socióloga Nísia Trindade Lima, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), destacou que a relevância da saúde vai além dos indivíduos e da coletividade, é também um importante vetor de desenvolvimento para o Brasil. No país do maior sistema público do mundo, o SUS, a saúde representa 9% do Produto Interno Bruto (PIB), emprega 20 milhões de pessoas de forma direta e indireta, representa 30% do esforço nacional de pesquisa e desenvolvimento, com alto potencial de estimular empregos e a economia, acrescentou a presidente da Fiocruz.
Trindade falou nessa terça-feira (5/8) em conferência da série “Contagem Regressiva para o Bicentenário: Rumos à Independência”. Promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a série começou em 30 de agosto e termina nesta quarta-feira, 7 de setembro, com o objetivo de discutir temas sobre meio ambiente, saúde, educação, industrialização e como a ciência pode contribuir para a soberania e independência nacional.
A conferência “Ciência e Saúde” foi realizada na modalidade presencial no Auditório da Academia Brasileira de Ciências (ABC) no Rio de Janeiro e transmitida ao vivo pelo canal da SBPC no Youtube. Apresentada pela médica Lígia Bahia, secretária regional da SBPC-RJ, a sessão contou ainda com o neurocirurgião Paulo Niemeyer Soares Filho como debatedor.
Trindade fez uma revisão histórica da saúde no Brasil nos últimos cem anos e apresentou uma carta elaborada pelo conselho da fundação com propostas para o futuro do setor. Ela propôs uma maior aproximação no debate sobre o acesso ao SUS, o financiamento da saúde pública e o componente de Ciência e Tecnologia de forma transversal ao conjunto das áreas do conhecimento, incluindo a ciência básica, a aplicada e a inovação. “Esses são desafios importantes quando pensamos nessa relação entre a CT&I e o sistema de saúde”, disse.
Na visão dela, a pandemia tornou visíveis desafios que já tinham sido sinalizados antes, de natureza demográfica, de tecnologias de informação e comunicação com papel fundamental também das mudanças climáticas e impactos ambientais de eventos extremos. “Como dar conta desses desafios? Creio que tem que ser uma agenda de continuidade dos debates de toda a sociedade, mas com uma responsabilidade muito grande nossa, da comunidade cientifica”, declarou.
Paulo Niemeyer Soares Filho, diretor Médico do Instituto Estadual do Cérebro, ressaltou a ausência, nos debates da campanha presidencial em curso, de referências à ciência. “Apesar de todo o prestígio que a ciência ganhou nessa fase de covid-19, que ficou exposta a eficiência das instituições como a Fiocruz e o (Instituto) Butantã, isso ainda não traz votos”, disse. Porém, lembrou que pelo menos, “falar mal da ciência tira votos, um passo muito grande já”.
Niemeyer destacou também o papel da comunicação da ciência, a necessidade de um canal aberto com a população sobre o assunto. “Estamos numa época das comunicações e a ciência não pode ficar restrita aos seus catálogos especializados, lidos somente por grupos que sabem decifrar aquilo”, disse. E completou: “É preciso que a ciência, seus resultados, suas conquistas, sejam frequentemente divulgados de maneira mais popular.”
Ligia Bahia defendeu que o SUS seja objeto de pesquisa, mas que também sedie pesquisas de mestres e doutores, para além da residência médica. “O SUS só será SUS se não for apenas objeto, mas tiver capacidade de pesquisa, além de assistência e cuidado à população”. Para isso, disse Bahia, mais que recursos, é necessário liderança e projeto de longo prazo.
Assista à conferência “Ciência e Saúde” na íntegra, pelo canal da SBPC no Youtube.
Jornal da Ciência