Direitos indígenas e violência doméstica foram temas de oficina no primeiro dia da Feira de Ciências do Colégio Estadual Indígena de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália (BA), que começou ontem (26) e termina hoje (27). Com o tema “Ãbakahay Upâ Arupãb Pataxó: memórias da educação Pataxó” o evento tem apoio do programa SBPC vai à Escola – da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e do PET – Comunidades Indígenas, programa de Educação Tutorial voltado para as comunidades indígenas da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
“O evento tem sido muito estimulante e é uma ótima oportunidade de troca de experiências”, conta Thays Pataxó, graduanda indígena da UFBA que ministrou a oficina sobre violência doméstica com Miriam Grossi, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e diretora da SBPC.
Durante a oficina foram apresentadas algumas histórias fictícias para que os alunos identificassem atitudes violentas. “Foi gratificante observar o interesse deles. Conseguimos fazer com que também percebessem algumas violências domésticas em suas vidas, em torno de si”. Para finalizar a oficina, Thays, que estudou no colégio, conta que um professor de jiu jitsu ensinou alguns golpes de defesa pessoal para os cerca de 100 alunos.
Outra atividade desenvolvida pelo programa SBPC foi à Escola discutiu direitos indígenas. Aktxawã Pataxó ministrou a oficina, que tinha como objetivo chamar a atenção para questões de território, das línguas, entre outros pontos. “Foi bem proveitoso, porque conseguimos envolver os alunos. Fizemos uma espécie de gincana com duas turmas concorrendo, o que motivou a participação”, conta ele, que também é ex-aluno do Colégio Estadual Indígena de Coroa Vermelha e hoje cursa Gastronomia na UFBA.
Miriam Grossi destaca a participação na realização das atividades de 14 universitários que foram alunos do Colégio. “Além de estimular o interesse pela ciência, a atividade tem como objetivo incentivar que os alunos continuem estudando, a exemplo desses 14 estudantes que já estiveram bem ali, na mesma escola, e agora seguiram para a universidade”, conta.
Após dois anos realizada em formato virtual, a Feira é retomada de forma presencial com ‘memórias’, com o objetivo de recuperar o passado e as conquistas da escola que nasceu em 2015. “Aqui podemos perceber também que a cultura indígena não está desconectada do mundo moderno’”, comenta Grossi.
“Não deixamos de olhar para trás. Tudo que sabemos e conquistamos foi por causa dos indígenas que vieram antes de nós, e isso é muito importante para nossa cultura”, acrescenta Akbxawã. “Na cultura e na ciência indígena todo o conhecimento só faz sentido se ele for coletivo. Por isso, esta edição sobre memórias é gratificante. Ciência indígena é memória”, conclui Thays.
Vivian Costa – Jornal da Ciência