A etnologia brotou das preocupações em compreender as diferenças socioculturais das sociedades humanas no planeta, que foram se tornando cada vez mais visíveis e presentes com a expansão e dominação do mundo europeu sobre os outros continentes. Hoje, ela dá protagonismo a diferentes culturas, promovendo o diálogo com diferentes saberes e tradições. Isso é o que discute artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura, que tem como tema “Ciência e Vida”. A edição especial aborda as várias maneiras como a ciência e a tecnologia contribuem com diversos aspectos de nossa vida diária.
Para Edviges Marta Ioris, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a etnologia que se desenvolveu no Brasil, focando os povos originários, brotou das preocupações com a conformação da diversidade étnico-racial do país e com o destino e o lugar reservados aos povos indígenas na sociedade brasileira. Hoje, a pesquisa etnológica não comporta mais o romantismo (e o colonialismo) de seus tempos iniciais em busca de descrever um “outro” distinto, distante, exótico. “Os que outrora foram considerados distantes objetos de pesquisas estão hoje lado a lado na academia, nos fóruns políticos, lendo muito criticamente o que tem sido produzido sobre eles, e propondo novos modos de compreensão sobre a presença dos povos originários e de suas relações com a sociedade ocidental e as dinâmicas do mundo moderno”, explica a pesquisadora.
O protagonismo que se registra com grande visibilidade posiciona os indígenas em muitas frentes de luta e de ocupação dos espaços, inclusive o acadêmico, com a formação de vários etnólogos, que têm trazido valorosas contribuições para o conhecimento sobre os povos originários, as suas relações com a sociedade ocidental, e para a condução da pesquisa etnológica. “Estão ajudando a romper com dogmas e autoritarismos da ciência acadêmica, para dar lugar ao diálogo de saberes e tradições diferentes, à inclusão de novas epistemologias, e à pesquisa colaborativa e comprometida com o destino dos povos originários e seu bem viver”, afirma Ioris.
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Christiane Bueno – Ciência & Cultura