Por mais meninas e mulheres na ciência

A participação feminina na pesquisa brasileira precisa ser estimulada desde cedo

Segundo dados da Unesco de 2021, as mulheres representam 54% dos títulos de doutorado obtidos no Brasil. Entretanto, elas são apenas 33% no total de bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq e, inclusive, recebem menos por suas pesquisas.

Essa realidade precisa mudar! Como forma de promover o acesso e a participação igualitária na ciência, a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, o dia 11 de fevereiro foi escolhido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.

Incentivar a carreira científica entre as mulheres é um desafio e tanto. Sendo assim, para conquistar essa meta, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promove o Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher” que, anualmente, homenageia mulheres e meninas reconhecidas na ciência de maneira alternada. Neste ano, em sua 4ª edição, a premiação se dirige às “Meninas na Ciência”.

Em entrevista à CropLife Brasil, a vice-presidente da SBPC e presidente da comissão de avaliação do prêmio, Fernanda Sobral, contou que foi extremamente difícil selecionar as vencedoras, pois os trabalhos estavam “todos muito bem elaborados”.

Não há dados oficiais sobre o número de mulheres na Ciência. De acordo com um levantamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 2021, existiam 67 mil mulheres cientistas nas grandes áreas (Ciências Agrárias; Biológicas, da Saúde, Exatas e da Terra, Humanas, Sociais e Aplicadas, Engenharias, Linguística e Tecnologias). Este número corresponde apenas às bolsistas do CNPq.

Para Fernanda, o incentivo à carreira científica junto às meninas promove o empoderamento feminino e abre oportunidades mais igualitárias no mercado.

Menina antenada em produção de biocombustíveis

Sara Lüneburger, 23 anos, é uma dessas jovens que já é referência na ciência. Conquistou o prêmio com um estudo sobre o uso das sementes da seringueira para produção de biodiesel, na área de Engenharias, Exatas e Ciências da Terra.

Desde sempre gostou de fazer experimentos químicos misturando substâncias. Filha de agricultores, Sara contou, emocionada, que os pais sempre a apoiaram. Saiu da pequena cidade Tigrinhos, no oeste de Santa Catarina, para estudar Química na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Realeza, no Paraná.

Entretanto, ao receber uma proposta de pesquisa sobre a utilização da semente de seringueira para fabricação de biodiesel, aceitou, mesmo sem ter conhecimento algum sobre o assunto. Desde o início, o estudo foi patrocinado pela iniciativa privada. E o desafio começou quando se descobriu que o óleo da seringueira era muito ácido, inviabilizando a transformação em biodiesel. A pesquisadora, então, teve como meta desenvolver um tratamento capaz de reduzir o teor de acidez para a produção de biocombustíveis.

E deu certo!

O estudo foi publicado em um jornal científico. O processo foi registrado em patente e está em análise no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Atualmente, Sara continua com a pesquisa no mestrado buscando outras formas de tratamento e espera ver o produto em escala industrial. “Eu cresci dentro da agricultura familiar, então gerar impacto diretamente na agricultura, é algo imensurável. É preciso que a gente busque alinhar impactos ambientais e sociais. Não adianta salvar o Planeta sem colaborar para impactos sociais”, destacou Sara.

Inspiração para muitas gerações de cientistas

O Prêmio Carolina Bori recebe o nome da pedagoga Carolina Bori (1924-2004). Com especialização em Psicologia educacional, ela foi extremamente atuante nos trabalhos de campo valorizando o rigor científico na pesquisa. Participou ativamente de campanhas para a defesa da profissão e presidiu várias associações voltadas à Ciência, entre elas a SBPC.

O Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher” está na 4ª edição.  Em um ano premia as mulheres reconhecidas na ciência e, no outro, as meninas. Para este ano, teve um recorde de indicações – 126 – para a categoria Ensino Médio e 320 para a Graduação, distribuída entre três grandes áreas do conhecimento: Biológicas e Saúde, Engenharias, Exatas e Ciências da Terra e Humanidades. Foram nove premiadas e nove menções honrosas.

“Eu estar aqui e receber esse prêmio é por ter tido oportunidade junto a minha família, ter educação pela iniciativa pública, patrocínio da iniciativa privada. Gostaria que essas oportunidades fossem disseminadas para mais meninas e meninos dentro da iniciativa científica. Eu aproveitei as oportunidades”, destacou Sara.

“Muito do nosso futuro está na ciência, então é muito importante que as meninas que são o futuro do nosso país se comprometam com a atividade científica em qualquer área”, ressaltou Fernanda Sobral.

CropLife Brasil