Cientistas divulgam 10 medidas para evitar tragédias climáticas

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência relaciona ações para reduzir riscos, aumentar a proteção das vítimas e evitar a repetição de tragédias como a do Litoral Norte de São Paulo

Com cientistas debruçados sobre tragédias climáticas em todo o mundo, e tragédias cada vez mais constantes, estudos apontam para a influência humana no clima. Assim, parte dos cientistas defende que a responsabilidade pelas ações do homem coloca o planeta em uma nova era: o Antropoceno. Com desastres naturais cada vez mais frequentes, a ciência agora pensa em como mitigar seus efeitos. Para isso, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou nesta quinta-feira (23) um documento com ações urgentes.

“A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência reforça advertências de especialistas da área e elenca 10 medidas necessárias de curto, médio e longo prazos com o fim de reduzir riscos, aumentar a proteção das vítimas e evitar a repetição de tragédias como as inundações que aconteceram no Litoral Norte de São Paulo no último fim de semana”, informa a entidade.

As chuvas do litoral norte deixaram ao menos 49 mortos e mais de 2.500 desabrigados. Foi a maior chuva registrada na história do Brasil. Em menos de 24 horas, choveu mais de 600 milímetros em algumas praias. As quatro cidades da região, Bertioga, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba, são conectadas pela rodovia Rio-Santos. Deslizamentos, avanço do mar e rompimento de cachoeiras provocaram 13 interrupções na pista. Além disso, a via Mogi-Bertioga, uma das três estradas que ligam o planalto ao litoral está bloqueada por, ao menos, dois meses para reparações.

Dez medidas

  • Atendimento emergencial aos desabrigados, como ação conjunta da União, Estados, municípios, sociedade civil e pessoas solidárias com a defesa e proteção da vida, procurando fazer que o mais rapidamente possível as vítimas da tempestade possam ter condições adequadas de moradia, com especial atenção a crianças, idosos e vulneráveis em geral;
  • Estabelecer, a curto prazo, políticas de prevenção nas comunidades mais vulneráveis, incluindo o estabelecimento de planos de contingência (ou a revisão dos planos já existentes) com a finalidade de disponibilizar sistemas de alarme eficientes e redundantes, traçar rotas de fuga, definir pontos de encontro e abrigos seguros, e determinar protocolos a serem seguidos pela população, mesmo em casos de inexistência de uma previsão de desastre antecipada;
  • Política de habitação consequente, como esforço conjunto da União, estados e municípios, que observe as causas econômicas e sociais que levam tantas pessoas a se tornarem vulneráveis e viverem em áreas expostas a tão alto risco de desastres, e que proporcione moradia digna e segura aos que atualmente se veem forçados a viver em casas altamente inseguras, em encostas sujeitas a deslizamentos ou beiras de rios e zonas costeiras sujeitas a enxurradas e inundações e, portanto, à perda da residência e mesmo à morte;
  • Recomposição das matas e florestas que protegiam e devem voltar a proteger as montanhas e bacias hidrográficas especialmente nas áreas mais sujeitas a tempestades intensas, assim evitando novas catástrofes como a do Litoral Norte paulista este ano, de Petrópolis e Recife no ano passado e várias outras mais;
  • Política consequente e sistemática de enfrentamento e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, para atacar uma das causas mais graves para os deslizamentos, inundações e mortes do dia 19 de fevereiro no litoral Norte de São Paulo, que tanto deve ser aplicada no Brasil quanto constituir um empenho de nosso País na esfera internacional;
  • Recomendação aos órgãos da mídia que evitem se referir a situações deste tipo como inevitáveis ou imprevisíveis, mas que em vez disso procurem analisar suas causas e os meios de evitar sua repetição;
  • Recomendação de que a educação básica alerte as populações para o aquecimento global e a ocupação irregular das regiões mais sujeitas a inundações ou deslizamentos;
  • Fortalecimento do CEMADEN e de seu papel indispensável de previsão de desastres afetando a natureza, em colaboração com a Defesa Civil e demais órgãos de governo, com os municípios e Estados dotando-se de sirenes e alarmes que permitam a desocupação rápida dos locais mais perigosos na iminência de um desastre;
  • União de todos os atores políticos e sociais para, em prazo a ser definido com uma relação de políticas consequentes, garantir que as cerca de 10 milhões de pessoas ora vivendo em condições de risco ante desastres possam ter uma qualidade de vida digna;
  • Estruturação de um Programa Nacional de Educação para Resiliência nos moldes do Programa CEMADEN EDUCAÇÃO.

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