Os indígenas e a ditadura militar são os destaques de junho de 2023 do calendário “Ciência, povos originários e defensores da floresta”, produzido pela SBPC. A versão em PDF do calendário de 18 meses (2023-2024) pode ser baixada gratuitamente no site da entidade.
Sob o lema “integrar para não entregar”, a ditadura militar retomou o projeto desenvolvimentista de ocupação do interior do território brasileiro. Não interessavam apenas as terras ao governo, mas a integração das populações indígenas para que fossem convertidas em “mão de obra”. Foi assim que, a partir de 1964, um rastro de terror marcou o percurso de estradas e hidrelétricas construídas em cima da destruição do meio ambiente e das culturas nele estabelecidas.
Em 1967, a pedido do Ministério do Interior brasileiro, o procurador Jader de Figueiredo Correia produziu um extenso relatório em que descrevia a situação a que vinham sendo submetidos os indígenas em diversas regiões do Brasil, pelo SPI e proprietários de terras, desde os anos de 1940. O resultado é um conjunto de mais de sete mil páginas descrevendo crimes de tortura, assassinato, violência sexual, escravidão, inoculação proposital de doenças, espoliação e privação de direitos. Embora tenha resultado no encerramento do SPI, o documento não ensejou melhores práticas do governo para com os indígenas, pelo contrário, a violência contra esses povos recrudesceu gravemente depois dele.
Exemplo disso é a criação em 1969 da Guarda Rural Indígena (Grin) e do Reformatório Krenak. O primeiro buscava formar milícias indígenas para manutenção da “ordem” nos aldeamentos. O registro em vídeo da primeira formatura da Grin apresenta o desfile de um indígena pendurado num “pau de arara”, única vez em que oficialmente o governo assumiu essa prática, sinalizando o tipo de “formação” que haviam recebido. Já o Reformatório Krenak, considerado um crime contra a humanidade, tinha por objetivo aprisionar indígenas insubordinados ou considerados inconvenientes por muitos motivos. A Comissão Nacional da Verdade (CNV), estabelecida em 2011, confirmou muitos desses crimes e cobrou das autoridades públicas medidas para que não se repitam.
Nesta edição, que cobre o período de janeiro de 2023 a junho de 2024, a entidade tem como objetivo homenagear pessoas, organizações e instituições que lutam em defesa de territórios, da inviolabilidade de suas culturas, dos saberes e pela valorização das populações originárias brasileiras.
Entre as personalidades, a obra destaca Chico Mendes, Dorothy Stang, Paulo Vanzolini, Bruno Pereira, Dom Phillips e Maxciel Pereira dos Santos, entre outros.
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Jorna da Ciência