SBPC endossa carta da ABA sobre recursos destinados às Humanidades e Ciências Sociais

No documento, a Associação Brasileira de Antropologia afirma que último edital para o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) manteve vasta disparidade orçamentária costumeira entre as ‘Grandes Áreas’. SBPC manifesta apoio ao pleito da entidade no sentido de assegurar linha de pesquisa sólida e autônoma sobre os aspectos sociais e antropológicos da convivência em ambientes fechados

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifestou, em carta divulgada nesta terça-feira, 6 de junho, apoio ao documento da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) sobre os valores destinados às Humanidades e Ciências Sociais do último edital para o Programa Antártico Brasileiro (Proantar).

Segundo o documento da ABA, ficou notório no Edital 08/23, que “as áreas das Linhas 1, 2 e 3 mantiveram vasta disparidade em relação às disciplinas da ‘Linha 4’, como já era tradicional em Editais passados. A publicação do ‘Plano Decenal para a Ciência Antártica’, em consonância com o ‘Plano Estratégico do Scientific Committee on Antarctic Research – SCAR’ incluiu em separado, e com clara distinção temática, o ‘Programa 6 – Ciências Humanas e Sociais’ e o ‘Programa 7 – Saúde Polar’. No entanto, o feito não foi espelhado no ‘Edital 08/23’, manchando as esperançosas expectativas da comunidade antropológica. Mostrou-se, pois, insuficiente para sanar as disparidades orçamentárias costumeiras entre as ‘Grandes Áreas’”.

Para a ABA, este seria o momento oportuno de garantir uma distribuição menos desigual dos recursos, incrementar as pesquisas nas ciências humanas dos grupos produtivos já existentes, bem como formar novas gerações de pesquisadores interessados em estudar os mecanismos contemporâneos de anexação continental da Antártica ao Sistema-Mundo, e os modos científicos de revelação do funcionamento do Sistema-Terra – temas consolidados na pesquisa antropológica antártica brasileira.

Em seu manifesto, a ABA propõe:

  • Que o Edital seja reformulado separando as áreas de ‘Humanidades e Ciências Sociais’ das ‘Ciências da Saúde Polar’ com orçamentos exclusivos, claramente definidos e majorados, diminuindo a desproporção entre as demais Linhas previstas, bem como diminuindo o impacto do teto de recursos para bolsas sobre o valor total dos projetos;
  • Que os recursos destinados à ‘Linha 4’ sejam exclusivamente reservados às ‘Humanidades e Ciências Sociais’, de modo que ‘Saúde Polar’ constitua Linha diversa, com orçamento diverso, acorde ao estabelecido no ‘Plano Decenal’;
  • Que os limites dos projetos sejam elevados para R$1.000.000,00;
  • Que exista a previsão de bolsas de pós graduação (mestrado e doutorado) e de pós- doutorado, em equiparação às modalidades de bolsas que atendem as outras áreas, já previstas no ‘Edital’;
  • Que a ‘Linha 5’ explicite com clareza, transparência e equidade a segmentação dos recursos para as ‘Pesquisas/Pesquisadores Emergentes’, por cada área do Edital, incluindo as ‘Humanidades e Ciências Sociais’ e ‘Saúde Polar’; e
  • Que a composição do Comitê Gestor reúna representantes de todas as linhas do Plano Decenal, marcadamente ‘Humanidades e Ciências Sociais’.

Em apoio à manifestação da ABA, a SBPC divulgou hoje a carta endereçada à presidente da entidade, Andréa Luisa Zhouri Lashchefski, afirmando que endossa o pleito da entidade no sentido de assegurar uma linha de pesquisa sólida e autônoma sobre os aspectos sociais e antropológicos da convivência em ambientes fechados.

A SBPC, na carta, “reitera a importância desse tipo de estudo, ainda mais se tratando de uma situação que demanda conhecimentos e ações específicos, dos quais depende até mesmo a preservação da saúde mental daqueles que ficam meses ou talvez anos confinados”.

Veja abaixo a carta da SBPC na íntegra:

São Paulo, 06 de junho de 2023

SBPC-113/Dir.

 

Ilma. Senhora

Profa. Dra. ANDRÉA LUISA ZHOURI LASCHEFSKI

Presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

Prezada profa. Andréa,

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência endossa o pleito da Associação Brasileira de Antropologia, no sentido de assegurar uma linha de pesquisa sólida e autônoma sobre os aspectos sociais e antropológicos da convivência em ambientes fechados, como o das estações na Antártica, com valores significativos e constantes, bem como uma gestão autônoma tanto no plano da investigação científica quanto no da administração dos recursos. Reitera a importância desse tipo de estudo, ainda mais se tratando de uma situação que demanda conhecimentos e ações específicos, dos quais depende até mesmo a preservação da saúde mental daqueles que ficam meses ou talvez anos confinados.

O confinamento relativo destes últimos anos, decorrente da pandemia de covid19, mostra como um conhecimento maior do confinamento – especialmente o extremo das viagens ao espaço – teria contribuído para o enfrentarmos melhor.

Desta forma, trata-se de ação eminentemente interdisciplinar, transbordando para a psicologia e mesmo o cinema. Recorda que esta arte cada vez mais trata da vida no espaço sideral. Por estas razões, não apenas apoia o pleito da ABA, como entende que deva ser ampliado significativamente.

Atenciosamente,

RENATO JANINE RIBEIRO

Presidente da SBPC 

Veja o PDF da carta da SBPC.

Jornal da Ciência