Dedicar-se à criação de uma cultura científica no Brasil é assumir uma missão complexa e plural. Tudo porque, além de projetar uma atuação de nível nacional em um país continental como o nosso, é também preciso buscar diferentes canais e formas de aproximar-se dos diversos públicos. Em seus 75 anos de existência, a SBPC vem demonstrando que não existe uma resposta única para este desafio. Mas com criatividade e apoio de sua vasta comunidade de sociedades científicas afiliadas e instituições parceiras, é possível ir muito além do que se sonhava.
Um dos maiores programas de divulgação científica da entidade é o SBPC Vai à Escola. Criado nos anos 1990 pela Secretaria Regional do Rio de Janeiro (SBPC-RJ), a iniciativa é voltada para as redes estaduais e municipais de ensino fundamental e médio. Por meio de um edital aberto anualmente, a SBPC dá aporte a ações que visam a aproximar cientistas de estudantes. Seja uma estação de experimentos, um espetáculo teatral, uma brincadeira interativa, o importante é levar ciência aos ambientes de ensino, às mãos das crianças, para que elas se encantem e, ao mesmo, percebam o quanto o conhecimento científico está próximo de seus cotidianos.
“O programa SBPC Vai à Escola é um dos programas mais importantes da SBPC, por uma razão muito simples: porque uma das missões da SBPC é a divulgação e a popularização da Ciência. Desse programa, se extraem grandes exemplos de como pequenas ações são bem-sucedidas. É um programa que não se cansa, ano após ano, de trazer exemplos e mais exemplos de sucesso”, contou a Secretária-Geral da entidade, Claudia Linhares Sales, em entrevista ao podcast O Som da Ciência.
Em 2015, o SBPC Vai à Escola foi ampliado nacionalmente e, desde então, conta com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Com isso, centenas de escolas e milhares de professores e estudantes de todas as regiões do Brasil já puderam participar desse programa.
“A falta da cultura científica a gente sente hoje quando vemos, claramente, alguns debates que não se sustentam sob nenhum ponto de vista. Nós esperamos, com esses exemplos amparados pelo SBPC Vai à Escola, que eles se espalhem pelo País, e ajudem a despertar o interesse das pessoas pela Ciência”, pondera Sales. A diretora conta que um novo edital do SBPC Vai à Escola deve ser aberto até o final deste ano.
Outra iniciativa de grande impacto realizada pela entidade é o Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”. Criada em 2019, por incentivo da então vice-presidente da entidade, Vanderlan Bolzani, a premiação leva o nome da primeira presidente mulher da SBPC, Carolina Martuscelli Bori, e busca homenagear cientistas brasileiras que são destaques em suas áreas e, também, futuras cientistas, que desejam seguir a carreira científica.
“A SBPC, que já teve três mulheres presidentes e hoje tem a maioria de sua Diretoria feminina, criou essa premiação por acreditar que homenagear as cientistas brasileiras e incentivar as meninas a se interessarem por este universo é uma ação marcante de sua trajetória na qual tantas mulheres foram protagonistas”, resume a atual vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral. Segundo ela, a ciência deve ser incentivada entre meninas desde a educação básica.
O prêmio é realizado anualmente, alternando entre as categorias “Mulheres Cientistas” e “Meninas na Ciência”. A cerimônia de entrega é sempre no mês de fevereiro, celebrando o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, estabelecido pela Unesco e comemorado em 11 de fevereiro. A SBPC já realizou quatro edições da premiação, que já teve, ao todo, 15 vencedoras.
Resgate do passado
Ao mesmo tempo em que promove inciativas para um futuro com mais acesso ao conhecimento científico no País, a SBPC também busca resgatar e preservar as bases dessa construção: a sua própria história, que se mistura à história da ciência brasileira. Em março de 2017, após mais de uma década de planejamento, a SBPC inaugurou o Centro de Memória Amélia Império Hamburger, cujo objetivo é preservar e divulgar a história da entidade.
Hoje, o acervo conta com, aproximadamente, 859 caixas de documentos textuais, 4 mil fotografias analógicas, 700 fitas audiovisuais, 400 cartazes, 2.500 periódicos e publicações e 170 itens tridimensionais, pedaços de um grande quebra-cabeças que documentam os 75 anos de uma das maiores entidades científicas do País. E ainda há espaço para mais: o Centro de Memória também aceita doações de pessoas que participaram da história da entidade.
Durante o evento de inauguração, em 2017, a então presidente da SBPC, Helena Nader, afirmou que o Centro de Memória ajuda o País a enxergar e compreender o quanto já evoluiu: “O nosso acervo organizado demonstra que a ciência brasileira merece lugar de destaque no desenvolvimento da ciência mundial. Mas também mostra que as conquistas na área dependem muito da nossa capacidade de luta permanente pelo avanço da ciência.”
Complementando as ações de resgate à memória da entidade está o Acervo Digital da SBPC, que, além de trabalhar com a organização, armazenamento e recuperação do conhecimento que foi produzido e arquivado nessas sete décadas e meia da entidade, ainda mantém tudo em uma plataforma de acesso livre, de modo a incentivar a produção de pesquisas e demais produtos que exijam apuração documental, como reportagens jornalísticas, utilizando esse material.
O repositório começou a funcionar no segundo semestre de 2017 e já conta com mais de 4 mil objetos digitais arquivados. Foram submetidos diversos tipos de documentos, produzidos por diferentes setores da SBPC, como: calendários, livros, revistas, jornais, cartas de manifestação e programações das Reuniões Anuais e Regionais.
Para acessar o Acervo Digital da SBPC, basta entrar em seu site oficial: https://sbpcacervodigital.org.br/home.
História contínua
Esta reportagem é parte de uma série especial para os 75 anos da SBPC, que serão comemorados no próximo sábado, dia 8 de julho.
Para saber mais sobre o programa SBPC Vai à Escola, basta ouvir o episódio “A volta às origens” , do podcast O Som da Ciência, uma produção da equipe de comunicação da SBPC.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência