Presidente da SBPC entrega a Lula abaixo-assinado por asilo político a Julian Assange

Idealizado por grupo de cientistas, jornalistas e entidades da sociedade civil, documento defende que condenações ao fundador do Wikileaks mostram abuso de poder e vão contra a liberdade de imprensa
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Foto: MCTI

Durante a sessão solene que anunciou a retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada na última quarta-feira (12/07), o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, aproveitou a ocasião e entregou em mãos ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, um abaixo-assinado para que o Brasil conceda asilo político ao ativista australiano Julian Assange, fundador do WIkileaks.

Idealizado pelo conselheiro da SBPC, Renato Balão Cordeiro, e com apoio de um grupo de cientistas, jornalistas, professores, sindicalistas, lideranças e entidades da sociedade civil, a petição propõe ao presidente Lula que promova um esforço internacional para negociar o asilo político a Assange com o governo britânico – o ativista está preso em Londres há mais de uma década e vem enfrentando uma batalha contra sua extradição aos Estados Unidos, onde tem 18 acusações criminais de espionagem e pode ser condenado a até 175 anos de prisão.

“Neste dia também de festa, quero aproveitar a oportunidade, lembrando que o senhor foi o único chefe de Estado a manifestar-se, antes e após a sua eleição, em favor da liberdade deste herói da imprensa livre, que é Julian Assange, para lhe entregar um manifesto, um abaixo-assinado com mais de 3 mil assinaturas, que apela ao senhor para que promova a concessão de asilo político a Julian Assange”, afirmou Janine Ribeiro.

O presidente da SBPC reforçou que a situação de Assange hoje é grave, já que o ativista pode passar toda a sua vida em prisão, quando, na realidade, deveria ser reconhecido por trazer à tona os autoritarismos políticos internacionais: “A democracia precisa fortemente da liberdade de imprensa e de expressão, e aqueles que denunciam as espionagens de Estado devem ser elogiados, e não punidos.”

Prisão de Assange dá margem a arbitrariedades com outros jornalistas

O movimento do abaixo-assinado nasceu de conversas que o conselheiro da SBPC, Renato Cordeiro, teve com o jornalista e ex-coordenador de um programa de análise e difusão de informação em saúde da Fiocruz, Álvaro Nascimento, sobre a possibilidade de trazer Assange para o Brasil, evitando assim a sua extradição.

“Achamos lamentável o dramático silêncio da chamada grande mídia, que pouco aborda os fatos que cercam a prisão de Assange. No meu entender, o que está em jogo é a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, os direitos humanos e o futuro dos povos, nesse momento em que os regimes autoritários amordaçam a imprensa, mantendo a população   apática e contida em todos os sentidos”, afirma Cordeiro.

Pesquisador emérito da Fiocruz, Cordeiro relata que os ataques autoritários à imprensa têm sido recorrentes, como a morte do jornalista Jamal Ahmad Khashoggi, no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em 2018, ordenada pela família real da Arábia Saudita, a quem fazia oposição.

“O assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi bem reflete a dramática pressão que é exercida sobre os jornalistas que publicam verdades. Sentimos bem essa situação nos trágicos 21 anos de ditadura militar no Brasil. Agora, os estadunidenses e os ingleses se dão ao direito de processar, julgar e prender Assange, um brilhante jornalista, fundador do Wikileaks, que teve a coragem de revelar para o mundo documentos que os Estados Unidos consideram confidenciais sobre a guerra com o Afeganistão e Iraque, além de espionagem irregular em vários países.”

Para o pesquisador, o que está em jogo não é apenas a liberdade de Assange, mas dos jornalistas em geral, já que, caso ocorra a extradição e prisão definitiva do fundador do Wikileaks, qualquer jornalista que obtenha informações verdadeiras e comprovadas sobre os Estados poderá vir a ser processado, extraditado e preso, já que é o próprio governo estadunidense quem decide quais informações devem ser protegidas em nome da segurança nacional.

“Já pensou se essa moda pega? Qualquer governo poderia seguir o exemplo americano e considerar de segurança nacional qualquer informação que não lhe interesse que seja divulgada”, alerta Cordeiro.

O abaixo-assinado entregue ao presidente Lula, que pede que o Brasil se ofereça para asilo político de Assange, conta com 3.200 assinaturas, incluindo membros signatários da SBPC, como o próprio presidente da entidade, Renato Janine Ribeiro, a vice-presidente, Fernanda Sobral, além de membros da Diretoria, presidentes de honra e demais conselheiros.

“Estamos otimistas e acreditamos que, com sua extraordinária habilidade e capacidade de articulação, o presidente Lula, atuando em conjunto com os países dos Brics e do G-20, e personalidades importantes como o papa Francisco, o ator Leonardo DiCaprio, o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o compositor e escritor Chico Buarque de Holanda, e jornalistas ganhadores do Prêmio Pulitzer como Seymour Hersh, poderá conseguir o asilo político para Assange no Brasil”, diz Cordeiro.

O especialista conclui citando trechos do documento entregue ao presidente da República: “’independente do resultado, este esforço vigoroso em defesa de Assange contribuirá para marcar ainda mais a posição humanitária e progressista do governo brasileiro no mundo, como tem sido a nossa marca desde 1º de janeiro de 2023’”.

Veja o documento, com as assinaturas, neste link.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência