Mais de 15 mil pessoas que passaram pela Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, nesse domingo, 16 de julho, puderam aproveitar um dia especial. Espalhadas na frente do Museu Nacional, centenas de tendas com atrações científicas despertaram a curiosidade de crianças e adultos. Uma festa da ciência, realizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe (RedPOP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com apoio de 27 instituições científicas estaduais e nacionais.
“O dia estava lindo na Quinta da Boa Vista, e foi um sucesso total”, comemora a diretora da SBPC, Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, uma das organizadoras do evento Domingo com Ciência na Quinta, realizado das 9h da manhã até às 16h da tarde.
Universidades e instituições científicas de várias regiões do Estado se organizaram para levar à quinta mais de 160 atividades científicas, totalmente gratuitas. A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro também montou ali uma unidade para vacinação e imunizou quase 2 pessoas por minuto. “As tendas estiveram lotadas o tempo todo. Teve até um engarrafamento de famílias que geralmente nos domingos vão passear na Quinta da Boa Vista e que puderam também visitar essas exposições. As universidades levaram seus laboratórios para a rua, com várias atrações interessantes. As pessoas ficaram muito curiosas para conhecer um pouco da ciência que é produzida no Estado”, conta a diretora da SBPC.
A atividade celebrou o Dia Nacional da Ciência, comemorado em 8 de julho, em homenagem à data de fundação da SBPC, que em 2023 completa 75 anos, e os 205 anos do Museu Nacional. E mostrou a importância de levar mais ciência para a população e como as pessoas estão receptivas a esse tipo de iniciativa. “Foi um dia de festa para a SBPC, que celebra, assim, o Dia da Ciência na rua, mostrando à população o que é feito nos laboratórios de pesquisa do Estado. E foi muito legal. Muitas pessoas pediram que esse evento se repetisse com mais frequência, porque é muito importante, principalmente para as crianças que estavam ali descobrindo coisas que podem despertar vocações para seguirem no futuro”, analisa Vasconcelos.
Para o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, que também participou do evento, o Domingo com Ciência na Quinta mostra como é possível reproduzir esse tipo de ação de engajamento direto da ciência com o público por todo o País.
“O evento foi muito bonito, milhares de pessoas participaram. As exposições absolutamente amigáveis, muito lúdicas. Muitos adolescentes, crianças interagindo com as atrações, com muita curiosidade, sobretudo porque tudo que estava lá era muito interessante, eram pesquisas que demandavam realmente uma boa curiosidade. E a curiosidade é a mãe da investigação científica, é o que faz as pessoas perguntarem ‘por quê, como, quando?’. Seria muito bom que em outros estados eventos parecidos se realizassem com essa intensidade e impacto”, declara Janine Ribeiro.
A Fiocruz levou vice-presidentes, diretores de várias unidades, pesquisadores de pós-graduação e de Iniciação Científica para colaborar com a realização do evento, conta Renato Balão Cordeiro, pesquisador emérito da Fundação. “Mostramos para os jovens estudantes e suas famílias vários projetos institucionais, histórias da ciência e muitas experiências cientificas. Somente o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) apresentou 33 atividades de 20 de seus laboratórios de pesquisa”, detalha o cientista.
Cordeiro fala com entusiasmo sobre o retorno do evento ao parque, e como isso ilustra o novo momento por que passa o Brasil. “Depois de quatro longos anos de um processo de desmonte da ciência em nosso país, o Domingo com Ciência na Quinta representou uma efervescente e exitosa atividade de reconstrução e de popularização da ciência, com milhares de pessoas nos ‘jardins’ do emblemático Museu Nacional, celebrando o Dia Nacional da Ciência, também o Dia Nacional do Pesquisador e os 75 anos da nossa querida SBPC.”
Segundo ele, a atividade cativou corações e mentes dos cariocas. “Foi realmente empolgante e reconfortante ver a alegria, o entusiasmo e o brilho nos olhos das crianças interagindo com nossos estudantes e pesquisadores”, conclui.
A RedPOP, que realizava seu encontro bienal na capital carioca na última semana, somou forças à realização do Domingo com Ciência na Quinta com um espaço de mais de mil metros quadrados de atividades de divulgação científica para a população, instalado no sábado e no domingo no local do evento.
Diego Vaz Bevilaqua, vice-diretor de divulgação científica e patrimônio cultural da Casa de Oswaldo Cruz da Fiocruz e membro do conselho diretor da RedPOP, destaca que ações como essa ficaram suspensas desde 2020 por conta da pandemia, mas também pelos severos cortes orçamentários no setor de ciência e tecnologia.
“Acho que esse evento marca muito esse momento da academia, dos cientistas querendo ir para a rua pra conversar com a população e de uma possibilidade de ter um grande evento de educação científica. É importante que a gente volte a fazer regularmente grandes eventos em praças de divulgação científica para fomentar exatamente esse diálogo entre a sociedade e aqueles que estão fazendo pesquisa”, diz.
Marco André de Almeida Pacheco, professor do ensino básico, técnico e tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus Volta Redonda, mobilizou seus alunos e orientandos para colaborarem em duas atividades no evento. Para muitos deles, era a primeira vez que iam à capital carioca.
Pacheco fala com emoção sobre como esse tipo de iniciativa faz com que esses estudantes se deem conta da importância do caminho que escolheram seguir. “Todos disseram que ficaram muito felizes com a interação com o público e de ver como o trabalho deles faz sentido. Um dos alunos veio falar comigo, em particular, para dizer que estava muito contente, pois nunca tinha ido ao Rio de Janeiro. Ele só conhecia Volta Redonda e as cidades circunvizinhas. Estava ansioso para chegar em casa e contar aos pais sobre a viagem e sobre o evento. Me emociono com essas coisas. Apenas 140 km separam Volta Redonda da Capital. Eu faço esse trajeto semanalmente há anos, mas para muitas realidades essa distância parece ser muito maior. O evento e a educação pública que o proporcionou participar da atividade mudou a vida desse jovem. Ele agora poderá sonhar mais alto do que seus pais e seus avós”, conta o professor.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência