Embora exista um número crescente de indígenas nas universidades, a academia não tem absorvido seus conhecimentos. Essa é a percepção de Gersem José dos Santos Luciano Baniwa, professor associado no Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), durante a conferência “Saberes indígenas: utopias que inspiram esperança e vida em tempos de crise socioclimática”, realizada durante a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
O antropólogo afirma que a presença de indígenas é crescente na educação superior nos últimos anos e que isso sinaliza novos olhares. Mas, prática, ainda não se vê mudanças curriculares para absorver seus conhecimentos. “Existe uma produção de conhecimentos historicamente invisibilizada em favor de uma ciência europeia, ocidental, que se construiu como a única capaz de produzir saberes. É preciso somar conhecimento, contemplando diversos olhares sobre o mundo com outros saberes.”
Mesmo com essa falta de inserção dos conhecimentos indígenas nos currículos do ensino superior, Baniwa acredita que, no futuro, isso pode mudar. “Por enquanto, os estudantes indígenas são orientandos, mas tenho certeza de que as coisas irão mudar quando eles virarem orientadores.”
O professor aponta um certo preconceito sobre os modos de aprendizagem e produção de conhecimento, no qual acredita-se, equivocadamente, que os saberes indígenas sejam exclusivamente empíricos. “Existe uma imaginação de que os indígenas não têm saberes teóricos. Tive professores que achavam que não tínhamos capacidade de reflexão, o que não é verdade. Temos uma altíssima capacidade de teorização e reflexão”, disse.
Baniwa também destacou os indígenas, com suas experiências e modo de observar o mundo, pode têm muito a ensinar sobre sustentabilidade e como preservar a nossa casa em comum, o planeta Terra. “Os povos indígenas vivem de forma harmônica com a natureza. Com suas práticas, eles preservam o meio ambiente, ajudando a preservar a biodiversidade, as plantas e animais na natureza”.
Veja aqui a conferência completa.
Vivian Costa – Jornal da Ciência