Desafio do Ministério da Saúde é estimular pesquisas que busquem resolver demandas estratégicas do SUS, conta Nísia Trindade

Em conferência realizada na 75ª Reunião Anual da SBPC, ministra da Saúde destacou a criação de uma frente científica para potencializar a estrutura médica pública

Nísia

Não existe avanço em Saúde sem investimento em Ciência. Este foi o principal diagnóstico apresentado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante a programação da 75ª Reunião Anual da SBPC.

A ministra participou de uma conferência realizada na última terça-feira (25/07), no campus Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. Falando para um auditório lotado, Trindade destacou a retomada científica do setor, principalmente com foco ao desenvolvimento do SUS (Sistema Único de Saúde).

A conversa foi coordenada pelo presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, e também contou com as presenças do reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, e da vice-reitora da instituição, Graciela Bolzon de Muniz.

Ao apresentar Nísia Trindade ao público, Janine Ribeiro ressaltou a participação contínua da ministra nas lutas da Ciência, incluindo sua passagem na presidência da Fiocruz (de 2017 a 2022), que coincidiu com a pandemia. O presidente da SBPC também pontuou que quando a entidade formulou a programação da Reunião Anual e enviou convites a ministros, Trindade foi a primeira a responder e a confirmar a sua presença.

“Nísia é uma velha companheira, militante da Educação, da Ciência e da Saúde. Vários de nós, da Diretoria da SBPC, estiveram presentes na sua posse no Ministério no dia 2 de janeiro. E é de salientar que ela já tomou posse com todo o seu secretariado, o pessoal já estava todo à mesa, disposto a trabalhar, isso porque o dia 1º de janeiro foi um feriado e um domingo. Ou seja, o Ministério da Saúde não parou. Ele parou durante quatro anos, mas voltou a funcionar imediatamente em janeiro deste ano.”

Iniciando sua fala, a ministra agradeceu o convite e o papel da SBPC, principalmente nos últimos anos, em que houve o enfrentamento do negacionismo científico.

“Eu quero externar aqui a satisfação de ter uma SBPC atuante e propositiva. Uma sociedade propositiva é fundamental nesse momento em que vivemos. Quando estamos no governo, a gente sempre faz uma reflexão sobre o que podemos fazer, mas eu acredito que, cada vez mais, nós precisamos ampliar essa visão de governo, envolvendo fortemente a sociedade, nas suas várias articulações. E a comunidade científica é fundamental nesse processo.”

A ministra aproveitou o espaço para trazer um breve panorama da relação do Ministério da Saúde com a Ciência, e também destacou criticamente a condução governamental do Brasil no período da pandemia de covid-19, totalmente contrária às recomendações científicas.

Segundo Trindade, o Governo Federal lançará um memorial da pandemia, uma ação que envolverá diversas pastas ministeriais para refletir as ações tomadas no período e as medidas que o País ainda necessita.

Para a ministra, o Brasil vive hoje os impactos da pandemia e do negacionismo que se instaurou em paralelo, e há demandas que precisam ser respondidas pelo Governo. No caso do Ministério da Saúde, por exemplo, a pandemia escancarou uma falta de estrutura para a produção de vacinas e uma necessidade de aprimoramento do SUS (Sistema Único de Saúde), que foi protagonista no amparo à população.

Investimento recorde em pesquisas

Trindade explicou que há apenas um caminho para resolver as demandas estratégicas do SUS: a Ciência. Para isso, foram e serão realizadas ações que visem a estimular estudos que coloquem o Sistema Único de Saúde como foco, tanto no âmbito nacional quanto internacional.

O Ministério da Saúde já lançou quatro chamadas públicas voltadas para pesquisas que visem ao aprimoramento do SUS, no valor de R$ 242 milhões. Também será lançada, em breve, a nova edição do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), que será a maior de sua série histórica e envolverá o investimento de R$ 160 milhões.

Outra problemática que a pandemia de covid-19 trouxe foi a necessidade de o Brasil se preparar em casos de novas emergências em saúde. Para isso, novos editais de fomento às pesquisas em saúde devem ser lançados, com investimento de R$ 45 milhões, sendo R$ 20 milhões para preparação às pandemias na América Latina e R$ 25 milhões para novas cooperações internacionais.

Junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o Ministério da Saúde também está trabalhando no fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, que tem entre as suas principais metas fazer com que 70% dos medicamentos, equipamentos, vacinas e outros materiais médicos que o SUS necessita sejam produzidos no Brasil.

“É uma meta para os próximos 10 anos. Não é um desafio pequeno, mas nós consideramos um desafio factível, se houver uma política pública consistente e contínua para este objetivo”, complementou a ministra.

Nísia Trindade concluiu que as ações apresentadas na conferência não se tratam de uma agenda fechada, ao contrário, são medidas que serão constantemente revisadas e que precisam do acompanhamento da população.

“O Brasil tem uma base científica que nos permite ter um otimismo, mas é um otimismo cauteloso, pois só conseguiremos a implementação dessa agenda se tivermos a participação da sociedade”, concluiu.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência