O novo plano para a pós-graduação foi abordado por Esper Abrão Cavalheiro, professor emérito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Comissão responsável por subsidiar a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na elaboração do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), durante a conferência intitulada “Novos modelos para a pós-graduação no Brasil”. A atividade, que fez parte da programação científica da 75ª Reunião Anual da SBPC, foi apresentada por Marimélia Porcionatto, professora e vice-diretora Escola Paulista de Medicina da Unifesp e diretora da SBPC.
Segundo Cavalheiro, o PNPG vai definir estratégias e metas para políticas de pós-graduação, de pesquisa e de formação de pessoal para serem implementadas em cinco anos. E para isso, estão sendo discutidos fomento e relações com setor produtivo e a sociedade; internacionalização e visibilidade global; futuro dos egressos e dos ingressantes; avaliação e multidimensionalidade; alteridade e diversidade; assimetria regional e mobilidade interna; pesquisa institucionalizada e inovação; e pós-graduação e ensino básica.
Para ele, a pós-graduação brasileira é um exemplo educacional do País, mas precisa ser renovada. “A nossa pós-graduação é um dos poucos sucessos educacionais que temos no Brasil. Com cerca de 70 anos, ela, por meio de seus mecanismos de avaliação e financiamento estabeleceu critério jamais pensados que pudessem ocorrer dentro da ciência e da tecnologia brasileira, além de ter se articulado muito bem quanto ao desenvolvimento da ciência brasileira e ao Brasil nesse período”, disse.
Em sua opinião, o novo programa deve centrar seus objetivos na tentativa de qualificar as habilidade e capacidades dos egressos que atuarão a partir de 2030. “Temos que oferecer aos ingressantes do SNPG a prontidão e a agudeza intelectuais necessária para enfrentar as rápidas mudanças dos novos tempos”, disse.
“Nós queremos também que o PNPG traga questões de toda a sociedade. Quando falo da sociedade, falo desde a própria instituição. Para mim, é muito incrível que as instituições não tenham como tema de pesquisa seus próprios problemas. Como se eles não existissem. Elas (instituições) contratam gente de fora para resolver questões internas. A universidade não olha o interno. E não olhando para o interno, ela também não olha o que está do lado de fora de seu mundo. As comunidades ao redor das instituições poderiam ter melhorarias em questões básicas, do dia-a-dia, se esses problemas pudessem ser trabalhados do ponto de vista da pós-graduação”, comentou.
Os Programas de Pós-graduação precisam focar especialmente em assuntos estratégicos para o País, como Amazônia, mar, semiárido, cidadania, respeito à diversidade, desigualdade social, fome, entre outros, disse. “Precisamos de pessoas com vontade de mudar o Brasil, por isso, redes ou consórcios de orientadores ou de programas devem ser induzidos e estimulados pela Capes a ter objetivo de acelerar a formação qualificada com os melhores orientadores de qualquer parte do País. Outras questões contemporâneas que não podem ficar de fora são tecnologias digitais e virtuais, sustentabilidade, mudanças na matriz energética etc., porque esses temas poderiam seguir o mesmo percurso para colocar o País em condições de participar dos esforços globais. Não podemos esperar, porque as coisas estão indo muito depressa. Precisamos de um mutirão de resoluções”, ressaltou.
Ele também acredita que a avaliação da Capes precisa ser repensada com urgência. “A avaliação atual passa uma régua como se todo conhecimento gerado fosse exatamente o mesmo, usasse o mesmo produto e fosse balanceado da mesma forma”, comentou.
Veja aqui a conferência na íntegra.
Vivian Costa – Jornal da Ciência