A trajetória de Renato Janine Ribeiro se entrelaça com o compromisso social e político que claramente possui. Ministro da Educação (2015), professor de ética e filosofia política na FFLCH-USP e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), nesta conversa ele declara que a escola pode falar de democracia e direitos humanos desde a creche, mas, claro, a abordagem muda a partir do crescimento dos estudantes.
“A escola não deve desistir do seu papel, o qual é extremamente importante para a democracia”, reforça.
Confira a entrevista.
Revista Educação | De que maneira a discussão sobre direitos humanos — e a consciência por trás desses direitos — podem estar nas escolas?
Renato Janine Ribeiro: Podemos pegar toda a faixa etária da educação básica, incluindo a creche, então do zero aos 17 anos; com as crianças pequenas temos que começar por meio de brincadeiras que favoreçam a cooperação mais do que a competição. Procurar algum tipo de brincadeira, de brinquedo, que mostre que pessoas juntas fazem coisas melhores do que pessoas uma contra a outra. É importante as pessoas compreenderem que vão mais longe quando estão em conjunto.
Então no caso da infância dá para começar a falar de democracia e direitos humanos com dois anos de idade, conforme as brincadeiras que a gente faz. Por exemplo, o futebol é competitivo, tem dois times. Só que o importante é frisar que além do time A e do time B entrar em conflito, cada time tem que ser consumido sobre uma grande cooperação interna. Na Copa do Mundo de 2014, no jogo entre Portugal e Gana, o Cristiano Ronaldo, que é um jogador extraordinário, não interagia com o resto da equipe. O Neymar também é um bom jogador, mas faz o jogo dele, não interage.
Temos que favorecer o espírito de equipe para fortalecer a democracia.
Já no fundamental 1 e fundamental 2, é importante introduzir outros fatores de valores. Temos que falar de sexo, de orientação sexual, cor da pele, conceitos de igualdade, por exemplo. Contrastar que na prática muita gente é tratada de maneira desigual. Claro que é uma questão delicada, mas a escola não pode ter medo.
Vou pegar uma frase famosa e modificá-la: ‘a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro’. Então temos que mostrar para a criança que ela tem liberdade de fazer certas coisas, mas não de invadir o espaço da outra, não de desrespeitar a liberdade da outra. Vou modificar essa frase: ‘a minha liberdade aumenta com a liberdade do outro’. Ou seja, duas pessoas são livres para fazerem o que elas querem juntas.
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