Apresentar para comunidades locais e escolas da rede pública do município de Ubatuba, no litoral norte do Estado de São Paulo, os principais aspectos relacionados ao oceano e às ciências oceânicas é o objetivo do projeto Educação Ambiental Marinha (EAMar): um olhar multidimensional para a Década do Oceano, que atende uma das metas propostas pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Criado em 2021 por alunos da graduação do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, o projeto enfatiza a importância que os oceanos têm para a promoção da saúde e manutenção da vida no planeta, incluindo também curiosidades, problemáticas e soluções que abrangem os diferentes ecossistemas marinhos.
“2021 marca o início da Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (doravante Década do Oceano), liderada pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco (COI-Unesco) e segue até 2030. Sem dúvida, é um momento singular de difusão da Oceanografia, de desenvolvimento da Cultura Oceânica entre jovens estudantes e de articulação entre todos os setores da sociedade em prol de uma relação mais sustentável com o oceano”, afirmam os integrantes do grupo. “No âmbito da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, contribuímos para o desafio de número 10, ao incentivar mudanças (para melhor) do nosso comportamento em relação ao oceano, de forma a assegurar os múltiplos serviços ecossistêmicos, incluído o bem-estar do ser humano”, afirma a professora Camila Negrão Signori, coordenadora do projeto EAMar e presidente da Comissão de Cultura e Extensão do IO.
O EAMar é um projeto de educação ambiental baseado na ODS 14 – Vida na Água, e prevê a produção e fornecimento de materiais didáticos acessíveis e de qualidade e treinamento de professores do ensino médio, visando a aproximar a comunidade dos diferentes ecossistemas. Através da colaboração e protagonismo de professores no processo de ensino e aprendizagem, o projeto traz inovações, como a implementação de práticas do Ciência Cidadã, uma metodologia participativa e voluntária em que a sociedade colabora com o processo e produção de conhecimento científico junto a pesquisadores, possibilitando, assim, a construção de um novo olhar sobre o ambiente em que estão inseridos, além de estabelecer um contato próximo entre comunidade científica, profissional oceanógrafo e a sociedade.
Para Camila, a importância do Projeto EAMar consistiu na implementação da cultura oceânica nas escolas, “atingindo alunos e professores, ao ensinarmos sobre a influência do mar em nossas vidas e a influência que exercemos nos ecossistemas marinhos, para que possamos viver e agir de forma sustentável”. Ainda segundo ela foi um aprendizado mútuo. “Também aprendemos muito com as trocas em salas de aula com os estudantes e os professores participantes do projeto. Nossos alunos de graduação, especialmente, puderam aprender todas as etapas de um projeto, desde sua concepção até sua aplicação, com benefícios inúmeros para sua formação profissional e pessoal”, afirma.
Primeiras etapas do projeto
Devido à pandemia de covid-19, as primeiras etapas foram realizadas virtualmente e consistiram no planejamento, pesquisas de referências bibliográficas, e produção de materiais didáticos lúdicos e acessíveis, feitos em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ao longo de sete meses foram confeccionados quatro e-books, disponíveis para download gratuito, compondo a coleção EAMar: Educação Ambiental Marinha, que aborda diferentes temáticas relacionadas aos princípios da cultura oceânica. Além disso, foram produzidos quatro roteiros de aula e 22 videoaulas, que abordam de maneira resumida os assuntos tratados nos e-books. Todos disponibilizados para os professores participantes do projeto e para o público interessado em expandir o conhecimento sobre o mar através do site.
Visitas monitoradas
Em novembro de 2022, o projeto seguiu para a etapa presencial, com visita à Base de Pesquisa Clarimundo de Jesus do IO-USP em Ubatuba, de alunos das escolas E.E. Professora Áurea Moreira Rachou e E.E Professora Sueli Aparecida Figueira dos Santos. A visita monitorada compreendeu diversas atividades sobre a importância da preservação e conservação do Oceano. Entre as ações, foi realizada uma apresentação lúdica sobre a Oceanografia, descrevendo a carreira de um oceanógrafo, além de curiosidades sobre o oceano através de um jogo de “verdadeiro ou falso”.
Em seguida, os 68 alunos presentes analisaram o perfil praial, observaram sedimentos de diferentes origens em lupas, mediram pH e salinidade da água do mar com, respectivamente, fitas indicadoras e refratômetro, e foram discutidas temáticas como a acidificação dos oceanos e poluição por microplásticos e seus impactos no ecossistema marinho.
Por fim, foram explicitados os diferentes compromissos de gestão ambiental realizados no Parque Estadual Ilha Anchieta – criado em 1977 por decreto de lei e administrado pelo Instituto Florestal, órgão vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente -, apontando a importância de sua conservação para a proteção da segunda maior ilha do litoral norte de São Paulo, com mais de 800 hectares e 17 km de costões rochosos, incluindo sete praias de águas cristalinas que contrastam com o verde da Mata Atlântica.
Essas atividades tiveram apoio financeiro da Pró-reitoria de Graduação da USP através do edital Aprender na Comunidade e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência através do programa SBPC vai à Escola. “Contribuição que possibilitou a disseminação dos objetivos do EAMar à comunidade discente local, que muitas vezes até mesmo desconhece a existência das instalações do IO em sua própria cidade, configurando-se como um ato fundamental para aproximar a academia da sociedade”, como dizem os pesquisadores no material de divulgação.
Dentre as próximas ações do EAMar, está a continuidade das visitas às escolas paulistas. “Pretendemos continuar visitando escolas paulistas para propagar a importância do oceano em nossas vidas e incentivar sua preservação, mesmo que aparentemente estejamos longe do mar (na capital ou no interior)”, diz a professora Camila. Além disso, informa, que será aplicada atividades do Ciência Cidadã: “também vamos implementar, em parceria com o PEIA (Parque Estadual da Ilha Anchieta) uma atividade de Ciência Cidadã na Ilha Anchieta em Ubatuba que consiste na captação de imagens diárias de uma praia para acompanhar as mudanças da linha de costa sob diferentes escalas temporais, a partir da colaboração dos monitores e visitantes da Ilha.
O monitoramento das praias será feito a partir da metodologia proposta pelo aplicativo CoastSnap, contando com a contribuição de voluntários, que deverão fotografar a praia onde há um totem de identificação, observar e anotar algumas informações gerais em um formulário disponível no aplicativo e enviá-lo à equipe do EAMar. Esse material, por sua vez, será encaminhado a um banco de dados open source que tem como finalidade avaliar a evolução temporal da linha de costa.
Como escrevem os participantes do grupo no primeiro e-book da série: “Que seu mergulho nesse mar de conhecimento seja extremamente agradável e te inspire a conhecer mais e mais sobre essa imensidão azul chamada Oceano”.
Os materiais didáticos, com as apostilas e videoaulas podem ser acessados clicando aqui.
Mais informações sobre o projeto estão neste link.
Mais informações: Jornal da USP