As diferenças de gênero impactam na experiência do exílio e afetam a memória e a história oral. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “América Latina: Integração e Democracia”. Através do relato da vida de Ema Haberli, dançarina uruguaia exilada em Paris durante a ditadura no Uruguai, o texto explora as experiências vividas pelas mulheres no exílio, tocando em pontos sensíveis como a maternidade.
“A relação entre a maternidade e a constituição da identidade nos exilados é relevante. O sucesso que tiveram as mães da Plaza de Mayo e as mulheres que lutaram pela verdade em relação ao problema dos desaparecidos mostraram a importância que a maternidade tem, como categoria social, para permitir a escuta de reivindicações de direitos humanos e pela justiça social”, explica Nilia Viscardi, professora da Faculdade de Ciências Sociais e da Faculdade de Humanidades e Ciências na Universidad de la República Uruguay. A pesquisadora explora as diferenças entre homens e mulheres no exílio, destacando o impacto do exílio na vida familiar e na maternidade das mulheres exiladas, destacando a importância da visibilidade das mulheres na historiografia nacional.
Nilia Viscardi também discute o papel da dança e da arte no contexto do exílio e como a dança de Ema Haberli expressa a dor e a resistência contra a injustiça. Ela destaca como o corpo na arte desempenha um papel importante na construção de solidariedade e resistência, além de criar uma aliança única entre corpo, solidariedade, trabalho e militância. Para a pesquisadora, sua militância de esquerda se funde com a preocupação ecológica em seu trabalho após o retorno ao Uruguai. “As vozes das mulheres exiladas mostram uma divisão de papéis de gênero, em que o trabalho político para elas se centrava na solidariedade, entendida como resolução de problemas gerados na vida cotidiana, sem que isso significasse trabalhar ao nível dos partidos políticos”.
A pesquisadora também ressalta a importância de documentar e preservar a memória das mulheres exiladas da América Latina e do Cone Sul durante as décadas de 1970 e 1980, analisando as práticas repressivas estatais e as trajetórias ideológicas. “O estudo das memórias e trajetórias das mulheres exiladas da América Latina e do Cone Sul no período ditatorial das décadas de 1970 e 1980 permite uma abordagem às práticas repressivas estatais e paraestatais, bem como às trajetórias ideológicas e à circulação de ideias”, conclui.
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