Brasil tem que se preparar para o novo clima

Em nova edição, Jornal da Ciência Especial trata da adaptação às mudanças climáticas com reportagens sobre o estado da defesa civil nos municípios, a resiliência dos grandes centros urbanos e impactos sobre a saúde da população. Publicação está disponível para download gratuito

jc_806_capaCertamente 2023 foi um ano em que a emergência climática ficou clara para todos os brasileiros. Vários episódios de inundações, secas intensas, chuvas torrenciais, ondas de calor intensas, etc. Apesar da Ciência estar alertando que temos que nos preparar para um clima mais inóspito, na verdade muito pouco foi feito no Brasil. Até o momento, já temos um aumento médio de temperatura global de 1.2 graus Celsius (°C) ao longo dos últimos 100 anos.

Este aumento de temperatura não é homogêneo, com algumas regiões como o vale do Rio São Francisco e a região Leste da Amazônia já se aquecendo em cerca de 2.3°C. O ano de 2023 foi o mais quente dos últimos 125.000 anos. Também estamos observando fortes alterações no regime de chuvas, com redução na precipitação da ordem de 20% no Nordeste brasileiro, e de cerca de 15% na região Leste da Amazônia. De acordo com cenários diferentes de emissões ao longo das próximas décadas, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) do ONU, faz previsões de aumento médio de temperatura do planeta de 2.8°C a 4.3°C. Isso significa que no Brasil podemos ter um aumento de temperatura de 4 a 5°C, que terá impactos muito fortes sobre toda a sociedade brasileira.

Uma das faces mais visíveis das mudanças climáticas, é o aumento da frequência e da intensidade dos chamados eventos climáticos extremos, tais como chuvas muito fores, ondas de calor e secas prolongadas. No início de 2023, observamos chuvas intensas atingirem o litoral do estado de São Paulo causando destruição e mortes, particularmente para a população mais vulnerável. Em 2022 vimos também fortes cheias na Bahia e Minas Gerais. E uma seca muito forte e prolongada no Brasil Central afetou a produção agrícola e a geração de hidroeletricidade em 2021 e 2022. Uma estiagem forte no Rio Grande do Sul em 2022 também prejudicou a produção de alimentos no estado, seguida de alagamentos importantes em 2023. O IPCC prevê que se deixarmos a temperatura média subir 3 graus, teremos eventos climáticos extremos muito mais frequentes e 5 vezes mais intensos.

Isso nos leva a concluir que o Brasil precisa se adaptar ao novo clima. Isso tem que ser feito em todos os níveis, desde os municípios, passando pelos governos estaduais até o governo federal. Políticas de redução de emissões e de adaptação climática são muito urgentes, para diminuir o impacto das mudanças climáticas na sociedade.

Essa edição do Jornal da Ciência trata da necessidade de adaptação. As reportagens sobre o estado da defesa civil nos municípios, a resiliência dos grandes centros urbanos, os impactos sobre a saúde da população mostram que o país tem muitas tarefas a cumprir para proteger a população e muito pouco tempo.

O Brasil conta, nesse momento, com uma pequena janela de oportunidade: ou age agora e muda radicalmente a forma como lidar com a emergência climática, garantindo de fato menores emissões de Gases de Efeito Estufa, acelerando a transição para energias limpas, a transformação com equidade e Justiça na perspectiva de alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) ou seremos cada vez mais vítimas dos efeitos do aquecimento global. Nossas opções ficarão cada vez mais restritas, com aumento da degradação dos ecossistemas, perda de biodiversidade e aumento da pobreza, iniquidade e injustiça.

Baixe a edição 806 completa em pdf, gratuitamente, e boa leitura!

Renato Janine Ribeiro – Presidente

Paulo Artaxo – Vice-presidente