Pesquisadores debateram tema na 66ª Reunião do SBPC, nesta quarta (23).Acre teve bloco de exploração de gás arrematado pela Petrobras em 2013.
Os impactos socioambientais da exploração de petróleo e gás de xisto no Acre foram debatidos, nesta quarta-feira (23), por três pesquisadores durante a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O estado teve um bloco para exploração de gás arrematado pela Petrobras em novembro de 2013 durante um leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Os pesquisadores explicaram como é realizada a exploração do gás de xisto, um gás natural que pode ser encontrado em formações de folhelho [rocha sedimentar de origem detrítica].
Segundo professor doutor Jailson Bittencourt de Andrade, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que palestrou durante a mesa redonda, as formações de xisto, que podem ser exploradas, normalmente são encontradas abaixo de lençóis freáticos.
“A exploração desse gás implica em atravessar com segurança esse lençol freático, fazer explosões, que podem ser basicamente hidráulicas, na região do xisto para recolher esse gás. Não é o sistema de gás natural, que implica apenas em furo, são sistemas tecnológicos distintos”, explica.
O palestrante Luiz Fernando Scheibe, doutor em Ciências (Mineralogia e Petrologia), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ressalta que o Brasil ainda não tem experiência na exploração de gás de xisto, apenas de gás natural e petróleo. Esse tipo de exploração está, segundo os pesquisadores, em fase de estudo no Brasil.
Para os especialistas, essa exploração deve ser analisada com cuidado em regiões como o Acre, tendo em vista os impactos em experiências realizadas em outras localidades. “As características locais precisam ser levadas em conta de uma forma extremamente relevante. Creio que a Amazônia tem várias opções e alternativas que não implicam necessariamente em potencializar o uso de energia de petróleo”, afirma Andrade.
A palestrante Bianca Dieile da Silva, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mestre em Engenharia Hidráulica e Saneamento, salientou durante sua palestra os impactos nas comunidades que vivem próximas às zonas de exploração, como contaminação da água, peixes, entre outros. No Acre, a situação fica mais “vulnerável” devido a proximidade das comunidades tradicionais e áreas de extrativismo.
“Isso deve ser avaliado com muito cuidado pelo governo, que tem todas as ferramentas para avaliar isso. Acho que a cadeia de petróleo tem se mostrado muito arriscada e esses riscos devem ser compartilhados, não apenas pela população do entorno, como por toda a comunidade. Isso tem que ser amadurecido para evitar maiores riscos”, ressalta.
O estudante de engenharia agronômica da Universidade Federal do Acre (Ufac), Grenville Antônio, de 21 anos, acompanhou a mesa redonda e ficou impressionado com as informações. Ele diz que mudou sua visão sobre a exploração de petróleo e gás no Acre. “Quando eu soube que existia essa possibilidade de exploração no Acre achei interessante, devido a possibilidade de desenvolvimento do estado. Depois dessa mesa redonda, acho que isso deve ser mais estudado e ver se a compensação econômica vai valer a pena, devido a quantidade de impactos que vão ocorrer nas comunidades locais”, diz.
Exploração no Acre
A empresa Georadar Levantamentos Geofísicos S.A, contratada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realiza desde 2007, estudos geofísicos no Acre e no Amazonas. A exploração no Acre ainda está em fase de pesquisa, para ver a possibilidade e condições de prospecção de gás natural e petróleo na região.
Os trabalhos estão sendo feitos nos municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo, todos no estado do Acre, e nos municípios de Guajará e Ipixuna, no estado do Amazonas (AM).
Mais de R$ 100 milhões foram investidos em estudos e levantamentos físicos, sísmicos e geoquímicos. A empresa detectou a presença de hidrocarbonetos perto da aldeia Puyanawa, localizada no município acreano de Mâncio Lima, na fronteira com o Peru, o que deixa as comunidades tradicionais temerosas, devido aos possíveis impactos ambientais que a exploração pode ocasionar. Segundo a ANP, em declaração feita à imprensa acreana no final de 2013, se tudo der certo, as perfurações no solo podem ocorrer em dois anos.