A vencedora na área de Engenharias, Exatas e Ciências da Terra do 5º Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher” é a química Yvonne Primerano Mascarenhas. A pesquisadora é referência na área de Cristalografia no Brasil.
Indicada pela Associação Brasileira de Cristalografia e pelas Sociedades Brasileiras de Física e de Pesquisa em Materiais, Mascarenhas tem graduação em Química e em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1954), doutorado em Química (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo (1963), livre-docência (1972) pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Harvard University (1973).
Yvonne Mascarenhas é pioneira da Cristalografia, método em que os pesquisadores usam difração de raios X para investigar a estrutura tridimensional das moléculas. A técnica, utilizada em diversas áreas, permitiu à cientista trabalhar com vários grupos de pesquisadores, atuando para identificar tanto a estrutura cristalina, relacionada às propriedades físicas da matéria, quanto a estrutura molecular, que define as propriedades químicas e bioquímicas.
Em depoimento gravado para a SBPC, ela fala da importância desse reconhecimento e a felicidade pelo fato de a premiação levar o nome de Carolina Bori. “Essa homenagem é muito merecida para Carolina. A memória dela deve ser preservada, por todos os motivos: por sua carreira como psicóloga, pela atuação dela na SBPC, entre outras. Desejo vida longa ao Prêmio Carolina Bori. Ela foi uma entusiasta da mulher na ciência, nas artes. Foi uma mulher muito valorosa, a primeira presidente da SBPC, atuou como Secretaria na entidade, e tudo isso em tempos difíceis para o Brasil, que foi durante a Ditadura, em que a SBPC teve um papel importante no País para acabar com a pressão da ideológica”, comentou.
Além do Prêmio Carolina Bori, Mascarenhas recebeu dezenas de homenagens e distinções ao longo de sua brilhante carreira. Em 1998, recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe Grã-Cruz e, em 2013, foi homenageada com o título de pesquisadora emérita do CNPq. Foi uma das 12 cientistas a receber o prêmio IUPAC-2017 Distinguished Women in Chemistry or Chemical Engineering Awardspela da União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac) a mulheres com realizações de impacto na pesquisa em Química ou Engenharia Química.
Ao falar sobre o trabalho de professora, Mascarenhas comentou a felicidade de ter formado um número “razoável” de mestres e doutores que atuam no Brasil e no mundo, e que ajudaram a fundar e estabelecer uma comunidade nesta área multidisciplinar. “Essa é a minha contribuição imediata e mais importante para a sociedade”, afirmou.
A cientista publicou mais de 150 artigos em revistas indexadas sobre cristalografia. Mesmo aposentada, aos 92 anos ainda é atuante, como colaboradora e professora aposentada em exercício, no Instituto de Física de São Carlos (IFSC).
Refletindo sobre sua carreira, Mascarenhas disse que sente privilegiada. “Eu não precisei romper o famoso teto de vidro, porque o meu laboratório era o único – com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) – de Cristalografia no Brasil e, com isso, eu tive de me relacionar com muitas áreas e essa interação me abriu portas. As pessoas gostavam do meu trabalho e assim fui progredindo na carreira de maneira muito suave, sem nenhum percalço e muitas vezes com apoio de outras pessoas. Mesmo para os cargos administrativos, como a Direção do IFSC, eu era procurada e perguntavam se eu gostaria de assumir. Mas não é assim para todo mundo”, declarou.
Mesmo assim, Mascarenhas reconhece a luta das mulheres para trilhar a carreira científica. “Já tivemos mulheres fantásticas. Por isso, eu recomendo para as jovens que, ao fazerem suas escolhas, o façam da melhor maneira possível, analisando suas opções. E, mais que tudo, é preciso ter foco, porque a vida, principalmente para nós mulheres, não é tranquila. Não podemos desistir de constituir família e de ter filhos, porque tudo isso faz parte da vida. Mas, se a pessoa quiser fazer carreira científica, precisa ter foco e persistência, mesmo diante das dificuldades”, concluiu.
O Prêmio
Além de Yvonne Mascarenhas, serão premiadas nesta terça-feira a antropóloga Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, na área de Humanidades, e a biomédica Regina Pekelmann Markus, na área de Biológicas e Saúde.
Nesta 5ª edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, a SBPC recebeu 50 indicações de 52 Sociedades Científicas Afiliadas à entidade. Do total de indicadas, 15 eram da área de Humanidades, 18 das Biológicas e Saúde e 17 das Engenharias, Exatas e Ciência da Terra.
Criada em 2019, a premiação, que leva o nome de sua primeira presidente mulher, Carolina Martuscelli Bori, é uma homenagem da SBPC às cientistas brasileiras destacadas e às futuras cientistas brasileiras de notório talento. A entidade — que já teve três mulheres presidentes e hoje conta com uma maioria feminina em sua Diretoria — criou essa honraria por acreditar que homenagear as cientistas brasileiras e incentivar as meninas e mulheres a se interessarem por este universo é uma ação marcante de sua trajetória histórica, em que tantas mulheres foram protagonistas do trabalho e de anos de lutas e sucesso na maior sociedade científica do País e da América do Sul.
A cerimônia de entrega do Prêmio, que integra celebrações do Centenário de Nascimento de Carolina Bori, será nesta terça-feira, 06 de fevereiro, com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube a partir das 10h. Aberto a todos e gratuito, o evento será realizado no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP, em São Paulo.
Jornal da Ciência