A dengue, doença tropical disseminada pelo mosquito Aedes aegypti, continua um grande desafio para a saúde pública no Brasil. Em 2023, o País registrou 1,6 milhão de pessoas infectadas, dessas, quase mil perderam a vida. E 2024 já indica um expressivo aumento de casos: somente no mês de janeiro, foram registrados quase 115 mil, cinco vezes mais que o mesmo período no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde.
A urgência em conter essa epidemia é mais evidente do que nunca. E a resposta está na ciência. O Instituto Butantan, reconhecido por sua excelência em pesquisa e desenvolvimento, anunciou recentemente a vacina Butantan-DV contra a dengue. O imunizante nacional apresentou uma eficácia de 79,6% após a primeira dose, uma proteção rápida e eficaz que demonstra a capacidade da ciência brasileira em responder aos desafios de saúde pública. Isso quando os recursos financeiros e os gargalos burocráticos assim o permitem.
Além da vacina do Butantan, a Anvisa aprovou o uso da vacina Qdenga, produzida pelo laboratório japonês Takeda, que já foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS), com planos de iniciar a imunização prioritariamente nas crianças de 10 a 11 anos, expandindo progressivamente as faixas etárias.
Paralelamente às vacinas, a Fiocruz, outra instituição brasileira que muito nos orgulha, vem desempenhando um papel crucial do desenvolvimento de tecnologias de detecção e monitoramento da dengue. Por exemplo, já produziu 600 mil testes moleculares de diagnóstico, que, além de confirmarem a infecção, também identificam o sorotipo do vírus. A Fiocruz também é parceira, com o World Mosquito Program, em um projeto que introduz uma bactéria, chamada Wolbachia, em populações de Aedes aegypti, interrompendo o ciclo de reprodução do mosquito e reduzindo a capacidade do vetor em transmitir o vírus. A abordagem já vem sendo estudada há quase oito anos no País e tem mostrado resultados promissores nas regiões em que foi aplicada.
No entanto, o combate à dengue também depende de ações preventivas cotidianas, ou seja, depende de todos nós. Medidas simples, como manter recipientes de água fechados, eliminar locais de acúmulo de água e manter a higiene do ambiente são amplamente conhecidos e essenciais para evitar a proliferação do Aedes aegypti. O uso de repelentes também é uma medida a mais de proteção, mesmo por quem for vacinado, pois a vacina hoje disponível protege apenas contra dois tipos da doença, sem contar a zika e chikungunya, que também são transmitidas pelo mosquito e não possuem vacina ainda.
Outra ação que depende fortemente de toda a sociedade é resistir à enxurrada de fake news, que já começaram a indicar tratamentos absurdos e sem nenhuma comprovação científica para a dengue – até a ivermectina foi ressuscitada. O controle da dengue no Brasil se faz com boas políticas públicas, com conhecimento e informação baseada em ciência.
À medida que avançamos com novas vacinas, métodos de controle de vetores e estratégias de imunização, nesta editoria especial do JC Notícias reforçamos nosso compromisso com a saúde pública e com a qualidade das informações que são levadas à população. Também defendemos que os esforços da ciência na busca por soluções para esse crônico problema da dengue sejam amparados por políticas contínuas de investimentos em ciência, educação e de acesso amplo desses avanços a toda a população de forma gratuita.
Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC
Veja as notas do Especial da Semana – Dengue
Folha de S. Paulo – Vacina do Butantan contra a dengue orgulha a nossa ciência
Ministério da Saúde – Ministério da Saúde inicia distribuição de vacinas contra dengue
Ministério da Saúde – Em pronunciamento nacional, Ministra Nísia Trindade convoca população para enfrentamento à dengue
Valor – “Novas técnicas dão otimismo para o futuro combate à dengue”, afirma virologista
O Globo – Dengue: como agem os wolbitos, mosquitos modificados em laboratório para combater a doença
Agência Fapesp – Startup paulista propõe o uso de drones para erradicar o mosquito causador da dengue
Agência Fiocruz – Fiocruz dobra produção de testes de dengue a pedido do MS
Pesquisa Fapesp – 2024 pode se tornar o ano com maior número de casos de dengue
SBMT – Se Aedes aegypti não existisse
Agência Brasil – OMS: surto de dengue no Brasil faz parte de aumento em escala global
Folha de S. Paulo – Saiba como escolher o repelente para afastar o mosquito da dengue
Agência Brasil – Saiba quais remédios são contraindicados em caso de suspeita de dengue
Agência Brasil – Ivermectina não é eficaz contra dengue, alerta Ministério da Saúde
National Geographic Brasil, 29/01/2024 – Qual é a origem do mosquito transmissor da dengue?