O dia das mulheres é um dia de todas e de todos. Porque a igualdade absoluta, o reconhecimento total do direito das mulheres, é algo que vai melhorar o mundo. Não apenas para as mulheres, mas à vida de todos nós, seres humanos. Assim como também o reconhecimento dos direitos legítimos das minorias identitárias, étnicas, é algo positivo, porque todas as pessoas se beneficiam dessa troca de valores, de conhecimentos, de opiniões.
É uma oportunidade para reconhecermos a importância fundamental das mulheres em todas as esferas da sociedade e, ao mesmo tempo, refletirmos sobre os dados e estatísticas alarmantes que nos lembram do longo caminho que ainda temos a percorrer.
Um recente relatório do Fórum Nacional de Segurança Pública divulgado nesta semana evidenciou a realidade sombria de milhares de mulheres: o Brasil registra um caso de feminicídio a cada 6 horas. Por dia, morrem quatro mulheres em nosso País pela crueldade de homens, na maioria das vezes, pessoas próximas – maridos, namorados, parceiros, familiares. Esse dado não apenas reflete a urgência de medidas eficientes para proteger as mulheres, mas também ressalta a necessidade de uma mudança cultural profunda, que reconheça a dignidade e o direito à vida delas.
Em contrapartida, no cenário internacional, a inclusão do direito ao aborto na Constituição da França, também noticiada nesta semana, emerge como um marco na luta pelos direitos reprodutivos no mundo, oferecendo um exemplo de como as sociedades podem evoluir para garantir autonomia e respeito às escolhas das mulheres sobre seus próprios corpos.
É importante destacarmos as conquistas e o progresso. A presença crescente das mulheres na ciência e no mundo dos negócios é motivo de comemoração e inspiração. Mulheres como a professora Yvonne Mascarenhas, pioneira que disseminou as pesquisas sobre cristalografia no País e que foi uma das três vencedoras do Prêmio “Carolina Bori Ciência& Mulher”, promovido pela SBPC para homenagear cientistas brasileiras, ao lado de suas colegas laureadas neste ano, professoras Regina Markus e Maria Manuela Carneiro da Cunha, exemplificam a contribuição indispensável das mulheres para o avanço do conhecimento em nossa sociedade.
Este dia é muito importante também porque ele tem um aspecto político que não pode ser minimizado. Uma das primeiras manifestações das mulheres que ajudaram a mudar o mundo se deu no dia 8 de março de 1917, há pouco mais de um século, na cidade que se chamava Petrogrado, capital do Império Russo, atual São Petesburgo. Em um cenário de 1ª Guerra Mundial extremamente desfavorável para os russos, uma população dirigida por um regime que estava apodrecido, o czarismo, as greves pipocavam em várias fábricas da cidade e as mulheres operárias saíram para as ruas para se manifestar. Lutando por pão e paz, as operárias russas deflagraram um movimento que derrubou o czarismo em poucos dias. Décadas mais tarde, em 1975, esse dia seria consolidado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional das Mulheres, celebrado em vários países do mundo.
Esse caráter intensamente político do dia das mulheres é o que devemos levar em conta. O que a experiência histórica mostrou é que se não existe uma mobilização por todas as causas dignas, elas não vão acontecer. Uma causa digna não é efeito automático de outra causa digna. Então nós temos que unir todas essas causas.
Hoje é um dia de luta de todos e todas, mas também é um dia de admiração e comemoração das conquistas das mulheres, um dia para refletir sobre o quanto já foi alcançado e o quanto ainda precisa ser feito.
Renato Janine Ribeiro
Veja abaixo as notas do Especial da Semana – Dia Internacional das Mulheres
Rede Brasil Atual, 07/03/2024- Mulheres: utopias que nos movem ou conquistas possíveis?
ONU Brasil, 07/03/2024 – Investir nas mulheres: acelerar o progresso
O Globo, 07/03/2024 – Investir nas mulheres é apostar na igualdade de gênero
O Globo – Censo: mulheres são mais escolarizadas que homens, mas diferença entre brancas e negras no ensino superior é de 50%
DW-Brasil – Por que é difícil a mães seguirem fazendo ciência no Brasil
Valor – Maternidade pesa no emprego da brasileira mesmo após 10 anos
Pesquisa Fapesp – Consórcio mapeia desigualdade de gênero na ciência em 16 países e propõe ações
Portal do Governo de SP, 07/03/2024 – Mulheres lideram desenvolvimento de vacina contra a dengue e combate ao mosquito em SP
Forbes – Dez mulheres que fizeram história na ciência e tecnologia
Embrapii- Dia das Mulheres: lideranças que transformam a indústria
Valor, 31/03/2023 – O que as empresas estão fazendo para impulsionar a liderança feminina
Valor – Igualdade de gênero ainda é desafio para os negócios
Época Negócios, 07/03/2024 – Para FMI, alta de 6% na fatia de mulheres no mercado de trabalho pagaria gasto da pandemia
Estadão – Quatro mulheres foram vítimas de feminicídio por dia no Brasil em 2023, maior patamar já registrado
Nexo – 2023 foi ano com maior número de feminicídios no Brasil
Folha de S. Paulo – Brasil registra mais de 10 mil casos de feminicídio em 9
Agência Senado – DataSenado: 75% das brasileiras afirmam “conhecer pouco” sobre Lei Maria da Penha
Capes – CAPES: avanços e desafios na busca pela equidade de gênero
G1, 07/03/2024 – “Dizem que nós fomos silenciosas historicamente. Mentira. Nós fomos silenciadas”, diz Cármen Lúcia em sessão do Dia da Mulher
Agência Brasil, 07/03/2024 – Ministra diz que mulheres continuam em desvalor profissional e social
Gênero e Número, 07/03/2024 – Caminhos da alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras
Gênero e Número, 07/03/2024 – “Políticas de combate à fome precisam priorizar mulheres”
Gênero e Número, 07/03/2024 –Trabalho não remunerado dificulta aposentadoria digna para mulheres
G1, 04/03/2024 – Em decisão histórica, parlamento da França torna o aborto um direito previsto na Constituição
Nexo, 04/03/2024 – França se torna único país a ter direito ao aborto na Constituição
Folha de S. Paulo, 04/03/2024 – Após decisão na França, veja a situação legal do aborto ao redor do mundo