A integração entre os saberes tradicionais e os conhecimentos acadêmicos é fundamental para a resolução dos problemas ambientais. Esta foi a principal ponderação do papa Francisco em encontro com a Pontifícia Academia de Ciências, do Vaticano, lideranças indígenas e cientistas de vários países, realizado nos dias 14 e 15 de março.
Chamado “O conhecimento dos povos indígenas e a ciência: combinando conhecimento e ciência sobre vulnerabilidades e soluções para resiliência”(“La conoscenza delle popolazioni indigene e le scienze. Combinare conoscenza e scienza su vulnerabilità e soluzioni per la resilienza”), o evento teve como objetivo explorar oportunidades de cooperação entre os povos tradicionais e acadêmicos para resolver problemas como as mudanças climáticas, o acesso à água e a preservação da biodiversidade.
“[Precisamos] escutar os povos indígenas para aprender com sua sabedoria e seus modos de vida e, ao mesmo tempo, ouvir os cientistas, para nos beneficiarmos de suas pesquisas”, afirmou o papa.
O pontífice defendeu que a população indígena oferece contribuições cruciais para a solução de questões urgentes como a crise climática, e reforçou a importância da união dos povos. “Todo o patrimônio do conhecimento deve ser utilizado como um meio de superar conflitos de forma não-violenta e combater a pobreza e as novas formas de escravidão.”
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) também esteve presente no encontro. Vice-presidente da entidade, Paulo Artaxo participou dos debates e ministrou a palestra “A floresta Amazônica protegida pela população indígena”. Segundo o especialista, o encontro foi uma ponte essencial de diálogo entre os saberes tradicionais e acadêmicos.
“O Vaticano, sob a liderança do papa Francisco, está promovendo uma série de reuniões para definir a agenda científica e social em relação às mudanças climáticas. Após a realização do evento, a Pontifícia Academia de Ciências planeja escrever uma série de artigos discutindo estratégias para a integração do conhecimento indígena na ciência das mudanças climáticas, biodiversidade, saúde e segurança alimentar”, detalhou Artaxo.
Entre as lideranças das populações tradicionais que participaram do workshop estava a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara. Em sua fala, a ministra destacou a importância do encontro e da valorização dos indígenas como atores decisórios das políticas das nações.
“Quando tomei posse como a primeira ministra dos Povos Indígenas do Brasil, o lema do meu discurso foi: nunca mais um Brasil sem nós. Estamos aqui, com o apoio do Vaticano, para reforçar que o mundo precisa dos conhecimentos tradicionais indígenas. O mundo precisa do modo de vida indígena, de sua espiritualidade e de sua relação com a natureza, como condição necessária para a proteção da biodiversidade.”
Rafael Revadam – Jornal da Ciência, com informações do Ministério do Povos Indígenas e do portal Vatican News
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