Na preparação da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, a se realizar em junho próximo, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promoverá na terça-feira (26) uma jornada de debates sobre o papel das ciências humanas e das humanidades no desenvolvimento do Brasil. Será transmitido pelo YouTube.
A inclusão social e o combate à fome e à pobreza, que hoje dominam a discussão política, são temas das ciências humanas e das humanidades. Precisamos, então, fortalecer a pesquisa nessas áreas. O conhecimento rigoroso deve ser a base da boa política. Urge aferir a eficácia das políticas públicas na promoção de igualdade e equidade no trato dos diferentes.
Pesquisadores e jornalistas têm um compromisso com a verdade: aqueles procuram estudar os fenômenos; esses, os fatos. Devem calar seus preconceitos para dar a versão mais veraz — sempre passível de melhora— do que há e acontece. Não é casual que as ditaduras tentem calá-los: o autoritarismo que grassa pelo mundo tem por condição básica o negacionismo.
Ciências humanas, que estudam nossa espécie no que tem de diferente das demais, e humanidades, que criam obras de arte, filosóficas, literárias, são essenciais para dar sentido ao mundo que construímos. Debateremos, assim, a destruição do laço social ao longo dos últimos anos, indagando o que a causou (as sociedades foram rachadas, em conflitos quase letais); o que a facilitou (as redes sociais, descontroladas, escancaradas às fake news); e como enfrentá-la (recuperando a ideia de referentes comuns a partilhar, que permitam a volta do diálogo).
Também discutiremos um tema novo: por que tantos avanços tecnológicos geram efeitos nocivos antes dos positivos? A invenção andará mais depressa do que a psique? A internet tornou-se espaço de ódio. Como reverter isso? Como usar as redes para a cooperação, não a destruição? Esboçaremos uma utopia possível, com base científica. Os ganhos tecnológicos permitem hoje um nível de vida melhor do que jamais existiu, uma vida próspera para todos. Produz-se o bastante para nutrir toda a humanidade. A fome, onde existe, decorre da desigualdade social, que pode ser reduzida. Temos meios materiais para liberdade, igualdade e fraternidade.
A descarbonização da economia e o combate à poluição e ao consumismo desenfreado podem, além de abrir novas oportunidades econômicas, gerar melhor qualidade de vida. A grande maioria dos cientistas, aqui e no mundo, defende uma cultura da paz, o fortalecimento do espírito público, das iniciativas de cooperação e da busca do bem comum. Se a bomba atômica já foi vista como a grande invenção do século 20, hoje, no balanço dos últimos cem anos, o principal não é o avanço nas formas de matar, mas a expansão da expectativa de vida de uns 40 anos para mais de 70 ou mesmo de 75. Vida, não morte!
Pela primeira vez na história, multidões podem viver décadas depois de pararem de trabalhar. Isso é bom.
Os ganhos de produtividade devidos às máquinas, e mais recentemente à informática, tornam viável o sonho do “ócio criativo”, teorizado por Domenico De Masi nos anos 1980, e do qual o saudoso Danilo Miranda, à testa do Sesc-SP, foi um entusiasta. Nosso mundo pode realizar uma utopia —não um milagre, mas algo que as ciências, incluindo as humanas, podem sustentar.