A partícula que deu samba!

Artigo da nova edição da Ciência & Cultura discute o itinerário de Cesar Lattes e o poder dos mésons

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No pós-Segunda Guerra Mundial, um grupo seleto de cientistas trocava ideias em laboratórios ao redor do mundo, moldando o futuro da física moderna. Entre eles estava Cesar Lattes, físico brasileiro cuja jornada começou na Universidade de São Paulo (USP) e desabrochou no cenário internacional. Ao lado de nomes como Guiseppe Occhialini e Cecil Powell, Lattes iniciou suas contribuições no campo dos raios cósmicos, uma área intrigante e ainda pouco explorada. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que celebra o centenário do físico brasileiro Cesar Lattes.

A descoberta do méson pi, ou píon, em 1947, foi um marco crucial em sua carreira. Trabalhando no H.H. Wills Physical Laboratory, em Bristol, no Reino Unido, Lattes e Occhialini revolucionaram a pesquisa ao desenvolverem técnicas aprimoradas de detecção. As imagens nítidas do píon em placas de emulsão nuclear reveladas com bórax marcaram um momento de celebração no laboratório, ecoando pela comunidade científica internacional.

A repercussão da descoberta não se limitou aos círculos acadêmicos. O reconhecimento veio com publicações em revistas renomadas, como a Nature e a Physical Review, e até mesmo nas celebrações da cultura brasileira, como o samba-enredo da Mangueira. Contudo, surpreendendo muitos, Lattes não se deteve nas glórias momentâneas. Em 1948, ele rumou para o Radiation Laboratory of Berkeley, nos Estados Unidos, em busca de novos desafios.

Em Berkeley, Lattes e seus colegas deram continuidade às pesquisas, desta vez utilizando o poderoso sincrocíclotron de 380 MeV. Em colaboração com Eugene Gardner, Lattes detectou diversos píons, consolidando sua posição como líder na investigação de partículas subatômicas.  “Se Lattes tinha total domínio do método de usar as placas de emulsão nuclear, Eugene Gardner conhecia muito bem o desempenho do acelerador. A perfeita interação entre eles foi o fator decisivo para a detecção do píon produzido por um acelerador de partículas”, explica Ana Maria Ribeiro de Andrade, pesquisadora titular aposentada do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST).

De volta ao Brasil, ele foi um dos pioneiros na criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), um marco na ciência nacional. A jornada para estabelecer o CBPF foi repleta de desafios políticos e financeiros, mas Lattes, ao lado de nomes como Leite Lopes e Joaquim da Costa Ribeiro, persistiu. “A participação de Cesar Lattes na descoberta do píon nos raios cósmicos e na detecção da mesma partícula produzida pelo acelerador de 380 MeV de Berkeley fazem parte da História da Física, e o seu sucesso foi capaz de aglutinar forças dispersas pela sociedade brasileira”, aponta Ana Maria Andrade.

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