O legado do geógrafo brasileiro Aziz Ab’Sáber ecoa em meio às preocupações socioambientais do país. Sua análise crítica abrangia desde o desmatamento na Amazônia até a destruição do cerrado, além da disputa política em torno das políticas de conservação ambiental. Isso é o que discute artigo da edição especial da Ciência & Cultura, que celebra o centenário do geógrafo.

Ab’Sáber foi pioneiro na definição dos seis domínios morfoclimáticos brasileiros, destacando áreas como a Amazônia e os Mares de Morros, ricos em biodiversidade e sociodiversidade. Alertou sobre a importância das comunidades locais e criticou a expansão agrícola desenfreada, especialmente no cerrado, fundamental para o abastecimento de importantes bacias hidrográficas.

A presença dominante da direita, com influência da extrema-direita no Congresso Nacional, representa um desafio adicional para a proteção do meio ambiente. O descaso com os serviços ecossistêmicos e a falta de consideração à Constituição Federal de 1988 ameaçam a vantagem comparativa do Brasil. “Caso ainda estivesse presencialmente entre nós, o geógrafo Aziz Ab’Sáber demonstraria toda sua indignação frente ao cenário socioambiental no Brasil”, pontua Wagner Costa Ribeiro, professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP).

Apesar de seus textos datarem principalmente do século passado, as ideias de Ab’Sáber continuam relevantes para orientar políticas socioambientais e cumprir os preceitos constitucionais de preservação do ambiente natural para as gerações presentes e futuras. “A dimensão pública dos serviços ambientais e ecossistêmicos prestados pelo patrimônio ambiental brasileiro não é considerada pela maioria dos congressistas, o que pode eliminar a vantagem comparativa brasileira, a rara combinação entre sociodiversidade e biodiversidade”, afirma Wagner Ribeiro.

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