Os dirigentes das unidades vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) na Amazônia apresentaram os desafios de fazer ciência na região durante mesa-redonda durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece até sábado, 13 de julho, no campus Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
Coordenada por Paulo Artaxo, vice-presidente da SBPC, a atividade contou com a participação do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Henrique Pereira; do diretor-geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), João Valsecchi; do diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Nilson Gabas Júnior; e de Osvaldo Luiz Leal de Moraes, que representou o MCTI.
Para o diretor do Inpa, é preciso reconhecer, valorizar e dar visibilidade ao trabalho das unidades da região amazônica. “Essas instituições chamam a atenção para a necessidade de construção de uma rede suficientemente densa para levar a ciência, tecnologia e inovação a todas as regiões amazônicas. A infraestrutura científica dessa região é altamente relevante para as instituições e para o avanço da ciência e da tecnologia em todo o País”, afirmou.
Pereira falou também da necessidade de melhorar o quadro de pesquisadores do Inpa, um ponto em comum entre as três unidades vinculadas, e aproveitou para ressaltar a importância dos bolsistas para a produção científica da instituição. “Atualmente, o Inpa conta com cerca de 380 servidores e está com dois concursos em andamento, ambos de nível superior. São 63 vagas para os cargos de pesquisador e tecnologista e 13 para analista. Temos no Inpa aproximadamente 670 bolsistas, desde a pós-graduação até o PCI (Programa de Capacitação Institucional), que são importantíssimos para o funcionamento da instituição.”
Mesmo com as dificuldades, Pereira ressaltou que o Inpa é uma instituição de importância central para o desenvolvimento sustentável da Amazônia com base na ciência. “O Inpa é referência em biodiversidade amazônica e em acervos dessa biodiversidade, a exemplo do Herbário, que abriga exemplares altamente exclusivos, inclusive com testemunhos de espécies extintas localmente ou de comunidades biológicas sob fortes impactos ambientais. Então, precisamos nos unir e fortalecer a pesquisa na Amazônia”, disse.
João Valsecchi, do Instituto Mamirauá, também listou os avanços e as dificuldades enfrentadas pela instituição, mas frisou que acredita no compromisso de sua equipe. Ele apontou que a distância da unidade é um dos grandes desafios, já que a sede do Instituto Mamirauá fica no município de Tefé (AM), a cerca de 500 quilômetros da capital do estado, Manaus. “Ficamos longe dos grandes centros urbanos e isolados, no meio da floresta, onde os serviços são precários, e a estrutura necessária à pesquisa e inovação muitas vezes não é a mais adequada. A distância gera problemas econômicos”, revelou.
Outra dificuldade enfrentada pelo Instituto Mamirauá diz respeito à captação e fixação de pesquisadores na região. “Não conseguimos gerar grandes séries de monitoramento, de dados, ou fazer qualquer desenvolvimento tecnológico em pouco tempo. Por isso, precisamos de pesquisadores fixos na região, que sejam capazes de compreender a realidade regional e não cheguem tentando impor um modelo externo não sustentável”, disse Valsecchi.
O diretor do Instituto contou que, em 2023, o Mamirauá teve dois projetos, contemplando 152 pesquisas, 85 de extensão e manejo. “Nós temos muitos esforços para usar os recursos da melhor forma possível. Somos uma instituição pequena, com 236 colaboradores, mas só 180 funcionários. É uma instituição majoritariamente amazônida, já que eles são 60% dos nossos colaboradores.”
Para o diretor do Instituto Mamirauá, alguns critérios de avaliação das chamadas precisam ser alterados. “Deixamos de concorrer em alguns editais porque não temos braço. Por isso, acredito que seja preciso também mudar alguns critérios de concorrência, já que a realidade de nossas unidades é distinta das demais regiões.”
Nilson Gabas Júnior, do MPEG, ressaltou que os recursos divulgados pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação no começo da semana são muito bem-vindos, já que eles serão fundamentais para aparelhar todo o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, sobretudo da região da Norte, e especificamente do Estado do Pará.
Ele disse estar muito feliz, não só pela possiblidade desses recursos, mas deles darem continuidade e serem direcionados para que as instituições de pesquisa, ensino e extensão no Pará, e na Amazônia como um todo, consigam diminuir as desigualdades em relação às regiões sul e sudeste.
Osvaldo Luiz Leal, que representou o MCTI, também ressaltou que a região amazônica precisa atrair recursos humanos. “O papel do Ministério não é fazer ciência, na verdade o papel do Ministério é duplo: é fazer financiamento de políticas estratégicas e de recursos humanos. Na área de pesquisas, a Amazônia é ímpar, e precisamos ter uma política de atração e fixação de recursos humanos para cá”, pontuou.
Os participantes também ressaltaram a importância da cooperação entre as instituições do MCTI na Amazônia e o fortalecimento da colaboração internacional para promover o avanço científico na região.
Para Artaxo, vice-presidente da SBPC, a discussão serviu para dar um olhar mais profuso sobre os institutos de pesquisas da Amazônia. “Foi um evento muito rico, sobre o qual vamos compilar as sugestões acerca das dificuldades operacionais de pessoal e agenda científica, de financiamento, e levar para 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), que vai definir a estratégia de ciência para região amazônica para os próximos dez anos”, concluiu.
Vivian Costa – Jornal da Ciência