Ildeu de Castro Moreira, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professor do Instituto de Física e do programa de pós-graduação em história das ciências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi um dos condecorados com a Medalha Ennio Candotti de Divulgação Científica. Concedida pelo Laboratório de Audiovisual Científico (Labaciencias) da Universidade Federal Fluminense (UFF) a personalidades atuantes na disseminação do conhecimento científico, a primeira cerimônia de entrega da honraria aconteceu na última sexta-feira, 30 de agosto, durante a 6ª Reunião Internacional da Rede Acadêmica das Ciências da Saúde da Lusofonia, na UFF, em Niterói, Rio de Janeiro.
Na solenidade, Moreira fez um discurso de agradecimento a Ennio Candotti, ferrenho defensor da popularização da Ciência no Brasil, que faleceu em dezembro de 2023. “Ennio era um turbilhão de novas ideias, e um grande difusor da ciência. Você pode não conhecê-lo, mas se você consome algum material de divulgação científica, certamente conhece o seu trabalho”, declarou.
Moreira traçou um breve perfil de Candotti, passando por sua origem na Itália, sua chegada ao Brasil, ainda criança, e os primeiros anos em São Paulo. “Ennio estudou no Colégio Dante Alighieri, mesma instituição do físico César Lattes, e lá ele já publicava uma revista que ele mesmo escrevia sobre Ciência, Economia e Divulgação Científica.”
Com o início da ditadura militar, a partir da década de 1960, Candotti se engajou ainda mais com a difusão da Ciência. Neste período, nos anos 1970, conheceu a SBPC e integrou, inicialmente, sua Secretaria Regional no Rio de Janeiro. Na entidade, Ennio criou importantes veículos para a popularização do conhecimento científico, como a revista Ciência Hoje e sua versão para crianças, além do Jornal da Ciência.
Candotti também participou dos debates da comunidade científica para a Constituição de 1988 e liderou, anos depois, o movimento que pediu o impeachment de Fernando Collor de Mello. O cientista presidiu a SBPC por quatro mandatos, exercidos entre os anos de 1989 e 2007. Mais tarde, o pesquisador se dedicaria a outra paixão: a Amazônia.
“Ennio se encanta pela Amazônia a partir das Reuniões Anuais da SBPC, e resolve se mudar para lá. Na Amazônia, ele tem uma ideia generosa e brilhante de criar um museu de história natural. Mas ao contrário de museus já existentes, como na Europa, onde as plantas estão mortas, os animais estão mortos e as sementes estão depositadas, Ennio vislumbrou um museu vivo. Como ele mesmo dizia, ‘musealizar a natureza’. Então, Ennio consegue um espaço na cidade de Manaus e, ali, concretiza esse projeto”, contou Moreira, sobre a criação do Musa (Museu da Amazônia).
Encerrando sua fala, Ildeu Moreira destacou a energia de Candotti, que se manteve ativo e atuante até os últimos dias de vida, e ainda tinha muitos planos políticos a lutar pelo Brasil. “Pouco tempo antes de morrer, Ennio entregou um texto ao presidente Lula sobre a importância da Amazônia, defendendo um resgate de sua natureza e de sua população. Esse é um legado que ele nos deixou.”
Moreira falou também das ações da SBPC para manter vivas a trajetória e as ideias de Candotti, com destaque a uma publicação em parceria com o Centro de Memória Amélia Império Hamburger (CMAIH). “Nós estamos organizando um livro sobre o Ennio, pela SBPC, que deve ser lançado no final do ano, no qual estamos tentando estruturar, com as pessoas que conviveram com ele, a história desse grande brasileiro”, concluiu.
Ildeu de Castro Moreira é reconhecido por sua liderança inspiradora e defesa da ciência no Brasil, tendo presidido a SBPC entre 2017 e 2021, período marcado por desafios como a pandemia de covid-19 e a desvalorização das instituições científicas. Além de ser professor da UFRJ e em programas de pós-graduação na Fiocruz, foi editor da revista ‘Ciência Hoje’ e ocupou cargos importantes no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), como diretor do Departamento de Popularização da C&T. Sua contribuição na divulgação científica foi reconhecida com prêmios como o José Reis (2013), a Medalha Defensor da Ciência (2021), a Medalha Henrique Morize (2022), e o Prêmio Oswaldo Luiz Alves (2023).
Medalha é mais um reconhecimento ao legado de Candotti
A Medalha Ennio Candotti de Divulgação Científica nasceu no Laboratório de Audiovisual Científico (Labaciencias) da Universidade Federal Fluminense (UFF) com dois propósitos: o primeiro, de reconhecer o legado de Candotti na propagação da Ciência brasileira; e o segundo, para valorizar o trabalho de acadêmicos e não-acadêmicos nesse setor. É o que conta o idealizador da condecoração, o coordenador do Labaciencias, Luiz Antonio Botelho Andrade.
“A ideia é valorizar não só teóricos, mas pessoas que fazem a divulgação científica na prática, como jornalistas e docentes de escolas públicas. É uma medalha com uma visão mais inclusiva”, explica.
A medalha conta com o apoio da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e, em sua primeira edição, foi concedida a 33 personalidades (veja a lista abaixo). “O Ennio foi uma referência em divulgação científica no Brasil, principalmente voltada às crianças. Ele representa esse movimento de difusão do conhecimento. A divulgação científica é um tema de grande importância no Brasil, mas não só do Brasil, ela é essencial para a democracia moderna”, concluiu Andrade.
Confira todos os agraciados:
Ildeu de Castro Moreira – SBPC
Maria Elisa da Costa Magalhães – viúva do Ennio Candotti, representada pela Profa. Marta Feijó Barroso
Amélia Bispo dos Santos, presidenta da Associação de Chagas da Bahia (ACHABA)
Eliane Clara Opoxina – enfermeira que trabalha no distrito de saúde Yanomami
Nélio Bizzo – Professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos fundadores da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação para a Ciência (ABRAPEC)
Felipe Xavier Neto – Cinema educativo / Labaciencias
Heloá Caramuru – Podcast Biologia in situ, PGCTIn
Victor Hugo Gomes Ferraz -Mídias sociais / Labaciencias
Editores
Maria Cecília de Souza Minayo – Fundadora e Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva
Márlon Herbert Flora Barbosa Soares – Editor da Revista Química Virtual
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior – Editor da Revista Observatório – Tocantins
Paul Jurgens – Assessor de Comunicação da FAPERJ
Institutos e Instituições
Luisa Massarani – Coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública em Ciência e Tecnologia
Renata Gama – Presidenta do Instituto Histórico Geográfico Ambiental de Maricá (IHGAM)
Espaços Científicos, Centros e Museus
Daisy Maria Luz – Casa da Descoberta, UFF
Erica Cristina Nogueira – Casa da Descoberta, UFF
Erika Michele Avelino Negreiros Gonçalves – Espaço Memorial Carlos Chagas Filho, UFRJ
Lucianne Fragel Madeira – Ciências sob tendas, UFF
Gerlinde Agate Brasil Teixeira – Espaço UFF de Ciências
Katia Mansur – Museu da Geodiversidade da UFRJ
Matemática
Dr. Paulo Roberto Trales – UFF
Ana Kaleff – UFF
Paleontologia
Ismar de Souza Carvalho – Casa da Ciência UFRJ
Saúde
Jorge Conde – Presidente da Rede Acadêmica das Ciências da Saúde da Lusofonia (RACS)
Gulnar Azevedo – ABRASCO, atual Reitora da UERJ
Paulo Mozart – Secretário de Saúde de Espinosa, MG
Djalma Antunes Filho – Secretário de Saúde de Porteirinha, MG
Docentes da Escola básica de Espinosa, MG
Edilson Moreira Braga
Patrícia Graciela França Oliveira
Infanto-Juvenil
Miguel Ângelo Padilha Marques – Presidente Mirim do IHGAM de Maricá, RJ
Discentes da escola pública de Espinosa, MG
Nicolly Emanuely Teixeira Martins
Isabela Karoline Rocha Ferreira
Diogo Renan Santos Santana
A cerimônia completa de entrega da Medalha Ennio Candotti de Divulgação Científica está disponível na íntegra no canal do Instituto de Saúde Coletiva da UFF no YouTube.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência