Berta Ribeiro no Noroeste Amazônico

Artigo da edição especial da Ciência & Cultura discute como a pesquisadora abordou as palhas, os traçados e as tecnologias nas terras dos rios de águas pretas

ciencia1810

Em 1978, a antropóloga Berta Ribeiro realizou uma pesquisa inovadora na região do Alto Rio Negro, Amazonas, explorando a arte do trançado de folhas e palhas entre os povos indígenas locais. Seu trabalho foi fundamental para a antropologia e a museologia, ao documentar tecnologias indígenas essenciais para a sobrevivência física e cultural dessas comunidades até hoje. A pesquisa gerou um valioso acervo etnográfico sobre o uso de fibras e palhas, preservando conhecimentos que continuam a ser transmitidos e praticados pelas comunidades indígenas. Isso é o que discute artigo da edição especial da Ciência & Cultura, que celebra o centenário de Berta Gleizer Ribeiro.

Esse legado impulsiona novas abordagens colaborativas com os povos indígenas, como os Tukano e Desana, na busca por modelos de reparação para as coleções etnográficas de museus na Europa e nos Estados Unidos. Um dos modelos propostos sugere que as coleções permaneçam nos museus, mas sob a gestão direta das comunidades indígenas por meio de acordos formais. Dessa forma, as comunidades teriam controle sobre a conservação e a interpretação dos objetos, permitindo que eles revelem suas verdadeiras trajetórias históricas, muitas vezes marcadas pelo sequestro e pelo distanciamento de suas origens. “Através de uma narrativa indígena autêntica, esses objetos contariam suas histórias de sequestro, rompendo com as versões museológicas frequentemente desvinculadas da realidade indígena”, explica Renato Athias, professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE) do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Essa proposta vai além da simples devolução de artefatos, representando uma transformação nas relações entre museus e povos indígenas. Trata-se de um passo importante para a decolonização dessas instituições, ao reconhecer a soberania indígena sobre suas narrativas e memórias. O desafio agora é saber se os museus estarão dispostos a adotar essa visão e permitir uma justiça reparatória real. A obra de Berta Ribeiro, ao conectar povos indígenas e seu patrimônio cultural, continua a inspirar essas discussões contemporâneas sobre reparação e gestão compartilhada. “As contribuições de Berta Ribeiro inspiram uma abordagem inovadora e necessária para a relação entre museus e povos indígenas, indo além da preservação dos objetos etnográficos”, finaliza Renato Athias.

Leia o artigo completo:

https://revistacienciaecultura.org.br/?artigos=berta-ribeiro-no-noroeste-amazonico

Ciência & Cultura