Uma das áreas que vem impulsionando debates acadêmicos no País – e que também ganhou força na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI) – realizada em 2024 – é a divulgação científica. Na prática, existe o entendimento de que não basta a Ciência realizar descobertas, ela precisa se preocupar em como a informação chega à população e como ela pode usufruir disso. Este foi o ponto de partida de Narayane Ribeiro Medeiros, uma das ganhadoras do 6º Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher”.
Estudante de engenharia aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Narayane foi vencedora na categoria Graduação, na área de Engenharias, Exatas e Ciências da Terra. Em sua pesquisa, a jovem cientista se debruçou em fotos de satélite para torná-las mais compreensíveis.
“A minha pesquisa é sobre processamento de imagem de satélite. Por quê? Porque se você pegar hoje uma imagem de satélite, ela é uma foto, mas não é igual a uma foto do celular, por exemplo. A foto da imagem de satélite é rica em dados, mas ela é basicamente só uma cor, você vai ver uma imagem que é toda roxa, não dá para entender muito o que está acontecendo. Para entender isso, é necessário fazer uma série de processamentos nela”, explica a ganhadora.
A preocupação de Narayane veio do fato das imagens de satélite terem informações importantes sobre o País, mas que não são de conhecimento da sociedade. “A imagem de satélite pode ser usada para várias áreas. Inclusive, é importante para a gente ter consciência sobre o meio ambiente, sobre o que está acontecendo atualmente, como podemos cuidar do nosso planeta. Por isso, é necessário que as pessoas tenham acesso a isso. O objetivo da pesquisa foi pegar essas imagens e deixá-las numa situação que fosse didática o suficiente para pessoas de qualquer perfil conseguirem entender e mexer nelas.”
Trabalhando com imagens de emissão de gases de efeito estufa, Narayane realizou uma série de tratamentos. Após a identificação das informações, a jovem cientista transformou as artes estáticas em um globo 3D e deixou tudo online e interativo, de modo a ser usado para professores e demais profissionais do ensino e pesquisa.
“Eu fiz o processamento de algumas imagens principais para o modelo 3D, como a emissão de CO2 por efeito antropogênico, ou seja, por causa do homem, dele usar carro, por indústrias, entre outros fatores. Também trabalhei as imagens de emissão natural de CO2, porque a natureza também emite CO2, mas em uma quantidade bem menor. E coloquei emissão de metano. Por que metano? Porque o metano, logo após o CO2, é um dos gases mais preocupantes.”
Com os seus estudos, Narayane vem colecionando algumas conquistas, como o 1º lugar na Latin American Robotics Competition 2023, além de um prêmio na competição NASA Global Nominee 2024.
“Eu realmente acredito no poder de mudar as coisas com pesquisa, de poder descobrir alguma coisa que realmente possa fazer a diferença. Às vezes, você pode descobrir uma coisa que pode não impactar apenas você, sua comunidade, o seu país, mas pode impactar o mundo. A pesquisa tem o poder de deixar a sua marca no resto do mundo. E se em algum momento eu descobrir alguma coisa que ajude o resto do mundo, acho que valeu a pena a minha passagem na Terra”, pondera.
Ao ser anunciada como uma das ganhadoras do Prêmio Carolina Bori, da SBPC, Narayane entendeu como mais um reforço positivo de suas escolhas. “É maravilhoso, sendo sincera. Eu assumi um momento da minha vida em que eu acredito que só faço pesquisa por amor. Todos os meus amigos estão se formando ou estão perto de se formar, começando a estagiar ou mesmo já são efetivados e estão construindo a vida e ganhando muito bem ao mérito do que eles fazem. E eu ainda estou ali a passos longos, né? Mas eu continuo, porque eu gosto muito do que eu faço. Então, quando eu vi que ganhei o prêmio, eu falei: ‘Pô, realmente vale a pena tudo isso que eu estou fazendo’. O Prêmio me deu mais vontade de abraçar isso, continuar e fazer mais”, conclui.
Investimento no futuro
Nesta 6ª edição de Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher”, as ganhadoras da categoria Graduação serão agraciadas com um prêmio em dinheiro no valor de R$ 10 mil cada, e as vencedoras do Ensino Médio receberão, cada uma, R$ 7 mil. A premiação da SBPC conta com o patrocínio da Fundação Conrado Wessel, do Instituto Serrapilheira, da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e do Complexo Pequeno Príncipe.
Além da premiação em dinheiro, as seis vencedoras terão acesso a uma série de oportunidades para impulsionar suas carreiras científicas. Elas ganharão uma viagem a Recife (PE), onde apresentarão seus projetos na 77ª Reunião Anual da SBPC, que ocorrerá em julho de 2025, e participarão de uma mentoria exclusiva com pesquisadores de destaque, ampliando suas perspectivas acadêmicas e profissionais. As premiadas também serão contempladas com uma visita guiada ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, onde está localizado o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, a única fonte de luz síncrotron da América Latina.
Além das seis vencedoras, também foi concedida uma menção honrosa, que receberá um certificado e um troféu.
A cerimônia de premiação acontecerá no dia 11 de fevereiro, no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antonia, 294 – 3º andar – São Paulo/SP), durante a comemoração do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pela Unesco, com transmissão ao vivo pelo Canal da SBPC no YouTube.
Criado em 2019, o Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” é uma homenagem da SBPC às cientistas brasileiras destacadas e às futuras cientistas brasileiras de notório talento. A premiação leva o nome da primeira presidente mulher da entidade, Carolina Martuscelli Bori, precursora na luta pela regularização da Psicologia enquanto ensino e profissão no Brasil, além de uma defensora da comunicação científica à sociedade.
Confira abaixo a lista das premiadas da 6ª Edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” – Meninas na Ciência:
Categoria ENSINO MÉDIO:
Engenharias, Exatas e Ciências da Terra – Millena Xavier Martins (MG)
Humanidades – Isadora Abreu Leite (MA)
Biológicas e Saúde – Ana Elisa Brechane da Silva (SP)
Categoria GRADUAÇÃO:
Engenharias, Exatas e Ciências da Terra – Narayane Ribeiro Medeiros (SP)
Humanidades – Angélica Azevedo e Silva (DF)
Biológicas e Saúde – Beatriz Oliveira Santos (SP)
MENÇÃO HONROSA: Lucia Ferreira da Silva (AP)
Rafael Revadam – Jornal da Ciência