Com a redução de recursos públicos para grandes projetos de infraestrutura, as Parcerias Público-Privadas (PPPs) tornaram-se uma alternativa estratégica para atrair investimentos privados em setores essenciais como transporte, saneamento, saúde e educação. Isso é o que discute reportagem da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema Ciência Aberta. Nos últimos anos, o Brasil viu uma expansão significativa desse modelo, com o número de contratos saltando de 80 para 314 entre 2014 e 2024 — um crescimento de quase 300%, segundo o relatório iRadarPP. Esse avanço reflete a busca por soluções inovadoras e sustentáveis para aprimorar a prestação de serviços públicos.
Paralelamente, a Ciência Aberta surge como um movimento transformador que democratiza o acesso ao conhecimento científico, promovendo transparência e colaboração entre pesquisadores, governos e instituições privadas. “A ciência aberta dissemina o conhecimento científico de maneira democrática para toda a sociedade, que financia as pesquisas, facilitando a colaboração, a reprodutibilidade e a aceleração dos estudos para problemas sociais relevantes”, explica Sigmar Rode, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e representante da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC). A adoção desse modelo contribui para um ecossistema científico mais inclusivo e eficiente, como demonstrado durante a pandemia de covid-19, quando a rápida troca de informações possibilitou o desenvolvimento acelerado de vacinas.
Nesse contexto, as PPPs podem desempenhar um papel fundamental na integração de expertise e ampliação de investimentos em Ciência Aberta, desde que sejam garantidos equilíbrio entre transparência e interesses comerciais. “O governo deve investir em educação de qualidade e programas de capacitação profissional para formar mão de obra qualificada e preparada para os desafios da inovação”, ressalta Rode. Além disso, parcerias entre universidades e empresas impulsionam soluções tecnológicas inovadoras, como sistemas de armazenamento de dados e ferramentas de análise de big data, essenciais para a pesquisa em larga escala. Contudo, desafios como a proteção de dados sensíveis e o respeito à propriedade intelectual ainda precisam ser superados.
Uma abordagem para compatibilizar Ciência Aberta e PPPs sem comprometer informações estratégicas é a catalogação e documentação de produtos desenvolvidos, como sugere Claudia Bauzer Medeiros, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Assim, é possível saber que aquilo foi produzido sem violar detalhes ou propriedade intelectual. Para o setor público, isso permite prestar contas à sociedade sobre o uso dos recursos. Para o setor privado, é uma forma de marketing do valor dos produtos”, explica Medeiros, que coordena a comissão da Unicamp responsável pelo repositório oficial de dados abertos da instituição.
O futuro das PPPs e da Ciência Aberta dependerá da construção de um ecossistema equilibrado, onde setores público e privado atuem de maneira harmoniosa e transparente. A experiência do Laboratório de Tecnologia em Atrito e Desgaste (LTAD), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ilustra esse potencial: em 15 anos, a instituição captou R$ 54,7 milhões por meio de PPPs com empresas nacionais, viabilizando 40 projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Como destaca Priscila Sena, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “as PPPs podem ser compreendidas como acordos colaborativos que compartilham recursos, riscos e resultados, sendo comuns em áreas como educação e agropecuária”.
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