Quando ciência, inovação e cooperação internacional se encontram em ambientes estratégicos, o Brasil mostra ao mundo não apenas o que é capaz de produzir, mas também o que pode propor e atrair investimentos. É fundamental aumentar a internacionalização da Ciência brasileira. Foi o que vimos neste mês em Toulouse e Paris, em eventos que acolheram a FAPESP Week França 2025, e a Paris VivaTech: pesquisadores e pesquisadoras, ao lado de deep techs, ocuparam alguns dos espaços mais prestigiosos da ciência e da inovação na Europa para apresentar o que fazemos de melhor — e mostrar que, mesmo diante de tantos obstáculos, seguimos produzindo ciência e inovação de excelência e com impacto global. Na VivaTech, centenas de startups brasileiras, saindo de nossas universidades, mostraram suas propostas inovadoras. Precisamos de feiras de inovação como esta no Brasil, mostrando à sociedade soluções para nossos problemas.
Essa ciência pujante não é obra do acaso. É fruto de um ecossistema que combina excelência acadêmica, investimento público qualificado e políticas de longo prazo — elementos que se concretizam, por exemplo, na atuação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Com autonomia, estabilidade e compromisso com o interesse público, a agência paulista tem sido modelo de fomento à pesquisa e inovação, apoiando milhares de projetos e formando gerações de cientistas e contribuindo para o desenvolvimento nacional. É fundamental ao país que outras FAPs também tenham orçamentos estáveis, que não dependam de interesses políticos de curto prazo. Importante também que CNPq e FINEP divulguem cada vez mais à sociedade os resultados, na inovação, dos trabalhos que financiam.
Ao levar nossa ciência para o coração da França — país reconhecido por sua tradição científica —, a FAPESP conecta o Brasil ao mundo por meio do conhecimento, da cooperação e da inovação. É esse o espírito da FAPESP Week, que há mais de uma década promove o diálogo entre pesquisadores paulistas e colegas de diversos países, gerando parcerias duradouras e abrindo novas fronteiras para a pesquisa brasileira. E é justamente esse tipo de experiência concreta que precisa inspirar a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação que começa a ser construída a partir das diretrizes do Livro Violeta, documento resultante da 5ª Conferência Nacional de CT&I e que deverá orientar o novo Plano Nacional de CT&I para 2026–2035, articulando políticas industriais, ambientais, educacionais e de inovação com base em evidências científicas. Ali estão traçados caminhos para um Brasil mais justo, sustentável e desenvolvido, em que a ciência assuma papel estruturante nas políticas públicas, no combate às desigualdades, na transição energética e digital, e na reindustrialização do País. Tudo isso depende de planejamento, mas também de compromisso político — e de exemplos de sucesso, como esse da Fapesp.
A FAPESP Week França e a participação na Paris VivaTech, ao promoverem a internacionalização da pesquisa brasileira e sua articulação com o setor produtivo e a inovação, demonstram como é possível – e, portanto, necessário e urgente – dar corpo a muitas das propostas que o Livro Violeta recomenda: fortalecimento das instituições de fomento, valorização da ciência pública, estímulo à cooperação internacional e geração de soluções locais com impacto global. Trata-se de reposicionar o Brasil como parceiro relevante no circuito internacional da ciência e da inovação.
Uma presença ativa e qualificada como essa é fruto de um ecossistema sólido de pesquisa e inovação, construído com perseverança e visão estratégica. A Fapesp é um exemplo notável desse esforço coletivo no Brasil. Inclusive, ela serviu de referência para a criação de dezenas de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), que — com apoio e mobilizações da SBPC — se espalharam por todas as regiões do Brasil. Com autonomia, financiamento estável e gestão eficiente, essas FAPs podem garantir apoio a milhares de projetos em todas as áreas do conhecimento, formam novas gerações de cientistas e impulsionam a inovação necessária ao nosso desenvolvimento econômico.
É fundamental proteger e fortalecer esse modelo de operação das FAPs. Em um momento em que se discute uma Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e um Plano para a próxima década, experiências como esta da Fapesp atestam que o que se propõe não são sonhos, mas projetos já em curso, com resultados concretos voltados à resolução dos problemas nacionais e que devem ser a nossa regra. Para tanto, precisamos de uma Política de Estado, que assegure previsibilidade, investimento contínuo, foco nas potencialidades do País e respeito à autonomia das instituições científicas. Precisamos, sobretudo, de um compromisso claro com a ciência como bem público, como motor do desenvolvimento sustentável e como base de uma sociedade mais justa. Em especial, dois pontos devem estar presentes nas FAPs: a garantia de recursos estáveis, indexados ao orçamento regional ou a sua receita de impostos, e a existência de uma administração com mandato, confiada a cientistas respeitados pela comunidade.
O Brasil conta hoje com uma rede nacional de instituições de excelência, que vai muito além dos centros consolidados, demonstrando que a ciência brasileira é diversa, descentralizada e cada vez mais conectada aos desafios regionais e globais. A SBPC reafirma seu compromisso com esse projeto de país, no qual a ciência é vista não como apêndice, mas como eixo estruturante. Temos potencial, pessoas capacitadas e instituições extremamente competentes conectadas com as necessidades nacionais. Cabe agora garantirmos as condições para que a ciência brasileira siga avançando e alavancando o desenvolvimento econômico.
Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC
Francilene Procópio Garcia, vice-presidente
Paulo Artaxo, vice-presidente
Veja abaixo as notas do Especial da Semana – Internacionalização da ciência brasileira
JC Notícias – A Fapesp na França: ciência, inovação e cooperação internacional
JC Notícias – USP e FAPESP destacam ciência e inovação brasileira na VIVA Tech 2025, maior evento de tecnologia da Europa
Elton Alisson, de Paris | Agência FAPESP – Ciência é vital para conter aquecimento global e a perda de florestas e de biodiversidade
Elton Alisson, de Toulouse | Agência FAPESP – Drones permitem detectar queimadas e monitorar emissão de gases de efeito estufa
Elton Alisson, de Toulouse | Agência FAPESP – Toxina de escorpião da Amazônia é capaz de matar células de câncer de mama
Elton Alisson, de Toulouse | Agência FAPESP – Pesquisadores do Brasil e da França vão testar nova terapia celular contra tipo de câncer
Abrale – Estudo vai analisar eficácia de CAR-T para linfoma óculo-cerebral
Heitor Shimizu, de Paris | Agência FAPESP – O papel dos museus de história natural no século 21
Heitor Shimizu, de Paris | Agência FAPESP – Museologias novas e urgentes
The Conversation Brasil, 27/05/2025 – Antártida: cooperação científica dá lugar à competição geopolítica e comercial, onde Brasil pode perder espaço
The Conversation Brasil, 20/04/2025 – Prontidão e protagonismo: pesquisadores brasileiros produziram mais de 17 mil estudos durante a pandemia da covid-19
Fapeg – Fundações estaduais lideram investimento em pesquisa no Brasil, aponta CONFAP
Confap, 18/06/2025 – Em sua 6ª edição, evento promovido pelo CONFAP e pelo Ministério da Educação da Austrália fortalece cooperação científica em Agricultura Sustentável
Finep, 30/05/2025 – Primeira reunião do Conselho Diretor do FNDCT em 2025 define aplicação de R$ 96 bilhões até 2029 e anuncia novos programas
Finep, 12/06/2025 – Finep sedia reunião estratégica dos BRICS para fortalecer a inovação conjunta
Finep, 08/05/202 – Finep lidera articulação nacional por política pública de apoio às Deep Techs no Brasil