Ao completar cem anos, a física quântica se consolida como uma das maiores revoluções científicas da humanidade. Mais do que uma teoria complexa sobre átomos e partículas, ela é a base de tecnologias que usamos cotidianamente, muitas vezes sem perceber. GPS, smartphones, exames médicos e até iluminação LED só funcionam graças a princípios quânticos. O transistor, coração da eletrônica moderna, nasceu do entendimento do comportamento dos elétrons em nível atômico. Enquanto isso, a ressonância magnética — essencial para diagnósticos médicos precisos — depende do spin de partículas subatômicas. A física quântica saiu dos laboratórios e se tornou indispensável na vida real. Isso é o que explora vídeo especial da nova edição da revista Ciência & Cultura, que tem como tema o Ano Internacional da Ciência e Tecnologias Quânticas.
O futuro promete ainda mais inovações radicais. Computadores quânticos, capazes de resolver problemas impossíveis para máquinas atuais, e avanços em biologia quântica podem revolucionar a medicina e a ciência de dados. Lasers ultrapotentes e novos materiais projetados em escala atômica estão transformando indústrias, da energia às telecomunicações. Essas tecnologias, ainda em desenvolvimento, mostram que a próxima fronteira quântica trará soluções para desafios globais, como o desenvolvimento de medicamentos personalizados e sistemas de comunicação invioláveis. “A mecânica quântica permitiu e permite que tenhamos um entendimento muito amplo e muito completo de como o átomo atua. Isso parece uma pesquisa de formiguinha, de base, mas permite que tenhamos um entendimento sobre como que o mundo funciona”, explica Ingrid David Barcelos, pesquisadora líder no grupo Laboratório de Amostras Microscópicas da Divisão de Matéria Heterogênea e Hierárquica no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, Laboratório Nacional Luz Síncrotron (LNLS).
No Brasil, pesquisadores também estão nessa corrida. Universidades e centros de pesquisa, como o SENAI CIMATEC e a UFABC, trabalham em projetos de computação quântica, criptografia e sensores avançados. Esses esforços colocam o país no mapa global da pesquisa quântica, mostrando que a ciência nacional pode contribuir para essa revolução. Apesar dos desafios, como a necessidade de mais investimentos, os avanços recentes provam que o Brasil tem potencial para ser um ator relevante nesse cenário. “O Brasil tem grupos de excelência trabalhando na área de ciência quântica”, ressalta Vivian França, professora do Departamento de Física e Matemática, do Instituto de Química da UNESP de Araraquara e coordenadora do Programa de Mestrado Profissional em Química em Rede Nacional (PROFQUI) – Polo UNESP. Para ela, é fundamental o apoio de agências de fomento voltadas para as tecnologias quânticas. “Essas agências de fomento são essenciais, porque são elas, essencialmente, que conseguem bancar toda a infraestrutura necessária. para a pesquisa e para o desenvolvimento da ciência no país”.
A física quântica pode parecer distante, mas está mais próxima do que imaginamos. Seja no celular que usamos para navegar na internet, no sistema de navegação que nos guia no trânsito ou nos exames que salvam vidas, ela é a prova de como a ciência transforma o mundo — mesmo quando não a vemos. À medida que novas descobertas surgem, uma coisa é certa: o futuro será cada vez mais quântico, e entender seu impacto é essencial para todos nós. “Acredito que esse ano internacional da física quântica, que a Unesco está propondo, é muito bom para chamar a atenção das pessoas disso que está tão presente no nosso dia a dia”, conclui Adilson de Oliveira, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e fundador e coordenador do Laboratório Aberto de Interatividade (LAbI) da UFSCar.
Assista ao vídeo na íntegra:
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