Mulheres na ciência e inovação: mesa-redonda destaca caminhos para o empreendedorismo feminino nas universidades

Debate promovido pelo DWIH-SP contou com a participação de cientistas da Alemanha e do Brasil
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Foto: Jardel Rodrigues/SBPC

Pesquisadoras do Brasil e da Alemanha reuniram-se na última terça-feira, 15 de julho, para debater os desafios e estratégias para fortalecer o protagonismo feminino na ciência e no empreendedorismo. Promovida pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação de São Paulo (DWIH-SP), a mesa-redonda “Women in Science and Innovation: Fostering Entrepreneurship in Universities”, fez parte da programação científica da 77ª Reunião da Anual da SBPC, que acontece esta semana na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife.

A sessão foi coordenada pela professora da Unifesp e vice-presidente eleita da SBPC, Soraya Smaili, e trouxe reflexões e comparações sobre barreiras culturais, iniciativas de empoderamento e experiências práticas de mulheres que empreendem no setor de ciência, tecnologia e inovação nos dois países.

A economista e pesquisadora Laura Bechthold (THI Ingolstadt, na Bavária), investiga os fatores que barram ou incentivam as mulheres a empreender. Ela apresentou dados da Alemanha, onde as mulheres representam 54% dos estudantes de ensino médio, mas apenas 29% do corpo docente universitário e 20% das fundadoras de startups.

Em sua apresentação, Bechthold destacou o impacto da socialização e dos estereótipos na tomada de decisão. “Enquanto homens tendem a superestimar sua capacidade, as mulheres frequentemente a subestimam”, afirmou. Citando estudos com gêmeos e experimentos sociais, como a escolha entre competir ou não em um jogo simples de arremesso, a pesquisadora demonstrou como culturas patriarcais influenciam negativamente a autoconfiança feminina. “O papel da socialização e dos estereótipos são fatores-chave na formação do comportamento e podem dificultar a entrada de mulheres em ambientes competitivos”, disse.

Na sequência, a química Maitê Gothe (USP), fundadora e diretora técnica da startup Carbonic, compartilhou sua trajetória acadêmica e empreendedora. Com formação na USP e passagem pela Universidade de York, no Reino Unido, Gothe fundou a empresa com o objetivo de transformar CO₂ em produtos de alto valor agregado, como álcoois e combustíveis sustentáveis. A startup vem se destacando por propor soluções tecnológicas para o combate às mudanças climáticas. Em junho passado, venceu o Brazil’s Competitive Edge Award na feira internacional VivaTech, em Paris.

Gothe conta que sempre foi incentivada a escolher o caminho que queria, mas ouviu já comentário do tipo “você tem certeza que vai querer ser química? É tão difícil…” ou “nossa, você é bonita demais para ser cientista”. Dois estereótipos que, corroborando o que disse Bechthold, reforçam dúvidas sobre a capacidade das meninas e mulheres de trilharem essas carreiras. “Eu acho que a igualdade de gênero começa em não tornar isso um nicho. Eu gostaria que as mulheres participassem mais em eventos e discussões gerais, não apenas serem chamadas para discutir a participação das mulheres”, avaliou a brasileira.

Anne Vortkamp, da Universidade de Münster, também na Alemanha, reforçou a importância de programas de empoderamento voltados exclusivamente para mulheres. Ela apresentou iniciativas como o Reach to Empower Program e o Exist-Women 2025, que oferecem bolsas e redes de apoio para transformar ideias inovadoras em projetos concretos. “Esses projetos são baseados nos princípios de inspirar, fazer networking e educar para a autossuficiência”, disse. Vortkamp também contou que eles possuem parcerias internacionais, com mulheres empreendedoras, como um projeto com o Paraná para o desenvolvimento de bioestimulantes sustentáveis para a agricultura orgânica.

Encerrando a mesa, Soraya Smaili enfatizou que iniciativas como essas são fundamentais, mas que mudanças estruturais dependem do envolvimento coletivo. “Precisamos reunir a sociedade, criar políticas consistentes e garantir financiamento adequado para abrir, de fato, os caminhos da inovação para as mulheres”, afirmou.

Daniela Klebis – Jornal da Ciência