Cidades que adoecem

Reportagem da nova edição da Ciência & Cultura discute a relação entre urbanismo e saúde

whatsapp-image-2025-08-18-at-09-38-04De acordo com o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 87,4% da população brasileira — mais de 177,5 milhões de pessoas — vive em áreas urbanas. Em comparação ao levantamento de 2010, o número de moradores nas cidades cresceu 3%, confirmando que a migração do campo para os centros urbanos, intensificada desde os anos 1960, permanece como uma realidade. Esse processo impõe desafios cada vez maiores ao planejamento urbano, exigindo soluções capazes de acolher novas populações e atender suas demandas de forma eficiente. Isso é o que discute reportagem da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.

Como observa Jean-Louis Harouel em História do Urbanismo, “as grandes aglomerações urbanas gigantes do século XX não possuem mais nada daquilo que no passado chamava-se cidade”. Para o autor, o crescimento demográfico, a perda de espaço individual e o aumento no consumo de bens e serviços estão entre os principais obstáculos a serem enfrentados. Cabe ao urbanismo interpretar essas novas demandas e propor espaços mais funcionais, inclusivos e saudáveis.

Conciliar o avanço tecnológico, a ocupação do território e a produtividade, dentro de metas econômicas e políticas, é um objetivo central, mas não isento de contradições. Muitas vezes, o processo de urbanização deixa rastros como o aumento das desigualdades ou a priorização de interesses econômicos em detrimento de aspectos sociais e ambientais. “Em alguns casos, o lucro acaba ganhando destaque em detrimento da saúde da população”, afirma Paulo Saldiva, médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Essa tensão revela a necessidade de um planejamento urbano que vá além de índices de crescimento e considere de forma equilibrada o bem-estar das comunidades.

Nesse sentido, Helena Ribeiro, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, e Heliana Comin Vargas, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, propõem uma análise baseada em quatro dimensões interligadas: biológica, social, econômica e espacial. No campo biológico, destacam-se fatores como saneamento básico e qualidade do ar; na dimensão social, a existência de espaços de convivência e oportunidades de socialização; no aspecto econômico, a diversidade de atividades e a oferta de oportunidades; e, por fim, no âmbito espacial, elementos como acessibilidade, desenho urbano, áreas verdes e espaços abertos. Compreender como esses fatores se relacionam é fundamental para avaliar os impactos da urbanização na saúde e orientar políticas públicas mais justas e sustentáveis.

Para Paulo Saldiva, repensar a infraestrutura urbana pode gerar ganhos diretos para a saúde e o meio ambiente. Ele cita como exemplo as inundações frequentes em São Paulo, agravadas pela impermeabilização do solo: “Quando chove forte em São Paulo, a água não tem mais para onde escoar. A impermeabilização do solo faz com que ela vá direto para as ruas, causando inundações. Mas e se, em vez disso, houvesse incentivos para a coleta de água da chuva nos prédios e casas, como desconto no IPTU, por exemplo?”. O professor defende a criação de reservatórios descentralizados, capazes de reduzir a sobrecarga do sistema público de drenagem e mitigar problemas de estresse hídrico, além de prevenir impactos físicos e mentais associados a enchentes e outros desastres ambientais.

Leia a reportagem completa:

https://revistacienciaecultura.org.br/?p=8735

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