O 8 de janeiro de 2023 ficará registrado como um ataque à democracia e à vida institucional do Brasil. A violência contra as sedes dos Poderes buscava calar a Constituição e impor retrocesso. Dois anos depois, nesse 11 de setembro, o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), ao responsabilizar os envolvidos, reafirma que democracia não se negocia.
No voto da ministra Cármen Lúcia, que formou a maioria, ecoou a lembrança do poeta Affonso Romano de Sant’Anna: “Que país é este?”. A pergunta permanece como alerta. Convoca-nos a escolher entre a barbárie e a civilização, entre a mentira e a verdade, entre a exclusão e a vida inclusiva que a democracia garante.
O julgamento representou, como muito bem definido pela ministra, “um claro encontro do Brasil com o seu passado, presente e futuro”. A responsabilização do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, e a inédita condenação de figuras do alto escalão militar pelo incentivo e instigação aos atos golpistas de 8 de janeiro, cristaliza o esforço coletivo por impedir a naturalização da ruptura institucional e da impunidade a militares que conspiraram e conspiram contra nossa democracia.
A estabilidade das instituições e o futuro de nossa nação estiveram e estão sob constante ameaça. Os ministros que votaram favoráveis às condenações apontaram todos para a urgente e definitiva defesa do Estado Democrático de Direito e seu tecido constitucional.
A proteção da democracia é um dever contínuo de todos. É o verdadeiro trabalho de Sísifo, rolando pedra montanha acima, dia após dia, geração após geração. A tarefa é árdua e eterna, mas igualmente nobre e necessária, visto que o que está em jogo são valores fundamentais para todos nós: justiça, igualdade, soberania e dignidade.
Assim como o 11 de setembro se tornou, para os Estados Unidos um símbolo de memória e alerta permanente, o 8 de janeiro deve se firmar para nós como um marco de resistência. Não basta lembrar: é preciso transformar memória em ação. É preciso fortalecer instituições, valorizar a justiça social e garantir que educação, ciência, e cidadania sejam os pilares de nossa soberania nacional.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que há mais de sete décadas defende democracia, inclusão e vida digna, reafirma seu compromisso histórico: a ciência só floresce em liberdade, e o Brasil só terá futuro com democracia viva, vigilante e inclusiva.
Francilene Procópio Garcia, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC
Veja as notas do Especial da Semana – Democracia e Soberania
Jornal da Ciência, 09/09/2025 – Anistia, Constituição e o Estado de Direito
Estadão – Justiça histórica contra o golpismo
O Globo – Trama golpista: o que pesou para a decisão do STF de condenar cada réu
Correio Braziliense – Democracia é conquista inegociável
O Globo – Condenação honra a Constituição e a democracia
O Globo – Condenação de Bolsonaro fortalece STF como guardião da democracia
Veja – Ascensão e queda de Bolsonaro: a trajetória do político que testou o limite das instituições
Valor – A democracia ainda corre perigo em 2026
Folha de S. Paulo – Condenação por golpe permite futuro democrático
O Globo – Condenação de militares quebra longo histórico de tentativas de golpes sem punição
Folha de S. Paulo – Condenação de militares é marco histórico, mas anistia pode repetir episódios do passado
Conjur – É possível anistiar crimes contra o Estado democrático de Direito?
Valor – ‘Harmonia pode ser sacrificada, independência, não’, diz Ayres Britto
Poder360- Democracia teve 8 presidentes e 5 tiveram alguma condenação
The Conversation Brasil – Estudo mostra como a desinformação contribuiu para a tentativa de golpe de estado no Brasil em 2022